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Crise divide Brasil e Argentina em reunião do Mercosul

Países divergem sobre tarifas externas e formato de encontro.

Por Márcia Carmo e Fabrícia Peixoto
Atualização:

Representantes do Brasil e da Argentina chegam divididos à reunião do Mercosul em Brasília, nesta segunda-feira, que vai discutir o impacto e eventuais medidas para conter a crise econômica internacional. Uma das principais divergências é sobre como reagir à crise do ponto de vista comercial. A Argentina vem reivindicando publicamente o aumento do protecionismo dentro do bloco. Segundo uma fonte do ministério das Relações Exteriores do país, os argentinos vão levar à reunião a proposta de aumento da Tarifa Externa Comum (TEC) do bloco para produtos importados de países asiáticos. O governo brasileiro, porém, vem dando sinais de que não concorda com a idéia e de que não pretende discutir o assunto na reunião. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já afirmou não acreditar que aumentar tarifas neste momento seja uma boa alternativa. Em uma entrevista recente, o ministro afirmou que "neste momento (de crise), não devemos tomar medidas protecionistas em nenhum lugar. O protecionismo foi o que derivou na crise (econômica mundial) de 1929, quando os países se fecharam". Para o presidente do Parlamento do Mercosul, o deputado federal Dr. Rosinha, que foi convidado para a reunião, o aumento não é uma solução. "Se os argentinos acham que é colocar barreira sobre produtos importados é a melhor saída, eles não vão se sair bem dessa crise." O governo argentino já impôs neste mês restrições não-tarifárias a uma lista de mais de 21 mil produtos importados, inclusive alguns brasileiros. Irritação Os argentinos também se mostraram irritados com a idéia do Brasil de fazer uma reunião ampla, envolvendo não apenas os membros plenos do bloco, mas também todos os membros associados, o que além de Venezuela, inclui Colômbia, Equador, Bolívia, Peru e Chile. Uma fonte do governo argentino afirma que o país preferia uma reunião separada para os membros plenos poderem discutir ações concretas, como a ampliação da TEC. A mesma fonte diz que a idéia inicial da reunião partiu do país justamente com essa intenção. Na opinião de analistas políticos argentinos, o Brasil teria ampliado a reunião em parte para "diluir" possíveis atritos com os argentinos e tornar o resultado do encontro mais vago. O governo brasileiro afirma que convocou a reunião para "trocar experiências" sobre como os países estão agindo em relação à crise, abrir canais de comunicação e estudar possíveis ações conjuntas. No entanto, fora de ações no âmbito dos acordos comerciais do Mercosul, não existem propostas claras de ação conjunta. De acordo com fontes do Itamaraty, após o encontro deverá ser lançado um comunicado reforçando essas intenções. As divergências entre Argentina e Brasil não deverão ser as únicas no encontro em Brasília. Outro assunto espinhoso nos bastidores da reunião deverá ser o retorno das disputas diplomáticas entre os argentinos e uruguaios. Nesta semana, o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, afirmou que veta o nome de Nestor Kirchner para secretário-geral da Unasul (União de Nações Sul-americanas). O marido da atual presidente foi sugerido pela presidente chilena, Michelle Bachelet. Na Argentina, a notícia foi considerada pelo governo como um retorno à guerra diplomática entre os dois países que se estende desde os problemas gerados pela construção de fábricas de papel do lado uruguaio de um rio que separa os dois países. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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