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Crise do euro faz investidor global fugir do risco

Por Andreia Lago
Atualização:

O agravamento da crise soberana na zona do euro nas últimas semanas, especialmente com a deterioração no sentimento dos mercados em relação à Itália, detonou um movimento acelerado de desalavancagem global (redução das apostas de risco). Os sinais estão por todos os lados: as moedas e ações do mundo emergente caem há meses; aumenta o peso nas carteiras de investimento para posições em dinheiro e as posições líquidas compradas em contratos futuros e de opções nos Estados Unidos encolheram 10% na semana terminada no último dia 15. Na última semana, mais de US$ 2 trilhões foram "varridos" do mercado global de ações, com o índice MSCI All Country World recuando por cinco dias seguidos.Na mesma semana, o S&P GSCI Commodity Index perdeu 2,6%, com queda em 17 das 24 matérias-primas que compõem o índice. Na China, a posição em moeda estrangeira comprada pelo PBoC (o banco central do país) - um importante indicador dos fluxos de capitais - encolheu 24,9 bilhões de yuans, registrando a primeira queda desde dezembro de 2007 e confirmando as expectativas de saída líquida de capitais do país nos últimos meses. No mundo emergente, houve saída líquida expressiva de capitais de ações (- US$ 25 bilhões) e bônus (- US$ 2,5 bilhões) de agosto a outubro.Na zona do euro, os números da conta corrente em setembro reforçam o tamanho da aversão ao risco entre investidores globais: a venda líquida de bônus e notas de emissores europeus por investidores estrangeiros em setembro chegou a 28 bilhões. No mês anterior, a venda líquida desses papéis por investidores estrangeiros não chegou a 6 bilhões, confirmando uma aceleração no ritmo de desinvestimento estrangeiro na região. Cautela. Entre gestores de recursos, os relatos giram em torno de um sentimento comum: cautela. Em Londres, relatam estrategistas do Bank of America Merrill Lynch (BofA), o sentimento geral de investidores de curto prazo é negativo. "Eles ainda estão muito preocupados com a crise soberana na Europa e quais as diferentes rotas potenciais que as autoridades poderão adotar dadas as restrições políticas e econômicas que eles enfrentam", resume a equipe do BofA após visitas a clientes de renda fixa e hedge funds.O posicionamento dos hedge funds, segundo eles, é muito pequeno, adotando menos de 20% da alavancagem de risco, mas também operam com pouco risco direcional, vendidos em euro e moedas do Leste Europeu em relação às moedas da América Latina e Ásia, e comprados em dólar. Nos juros, os relatos são de posicionamentos não muito concentrados na ponta curta das curvas por causa da falta de liquidez e da avaliação que a maioria das curvas está bem precificada. "Acreditamos que o tom do mercado vai continuar assim até o fim do ano, uma vez que a maioria dos movimentos precificados no mundo emergente está completamente atrelada à dinâmica global", avalia o BofA.Segundo uma pesquisa feita pelo BofA com 258 gestores com US$ 665 bilhões sob administração entre os dias 4 e 10 de novembro, cerca de 38% do total relataram posições com peso cada vez maior em cash. Nos mercados de ações, apenas 5% informaram posições atuais 'underweight' (com peso menor), e nos mercados de bônus a posição 'underweight' correspondia a 23% na primeira quinzena deste mês.Liquidez reduzida. Uma das grandes preocupações dos investidores de curto prazo é com a liquidez: 2011 foi um ano difícil para os investidores e o volume de operações vem caindo. Segundo um gestor de um hedge fund dos EUA, há relatos de que um grande banco da Alemanha estaria acumulando uma posição em cash que chega a 150 bilhões. "Mesmo quem está operando, está operando pequenas posições. E quando aparece uma notícia, as posições são desmontadas rapidamente num mercado já estreito, reforçando a volatilidade nos negócios diários e, consequentemente, a liquidez", diz."Achamos que parte desse problema é transitório, uma vez que a liquidez geralmente 'seca' em períodos de sell-off (vendas generalizadas)", avalia a equipe do Bank of America Merrill Lynch, mas essa não é a única causa para o movimento de desalavancagem . Outra razão para a cautela entre investidores e gestores de portfólios é que eles estão preocupados com a economia americana, mesmo reconhecendo alguma melhora. "De qualquer forma, notícias positivas marginais sobre os EUA podem ter um papel apenas limitado na estabilização da situação europeia", avaliam os estrategistas do BofA.

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