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Crise expulsa MBAs de Nova York

Brasileiros recém-formados em grandes escolas dos EUA que tinham planos de trabalhar no país retornam ao Brasil

Por Gustavo Chacra
Atualização:

Com os diplomas recebidos na semana passada, muitos estrangeiros que concluíram seus MBAs em universidades como Pennsylvania, Stanford, Northwestern e Columbia decidiram retornar para os seus países. O objetivo é buscar oportunidades melhores neste ano de crise que afeta especialmente os recém-formados nos Estados Unidos, conforme disse a secretária de Estado, Hillary Clinton, no discurso de formatura da Universidade Nova York (NYU). Até poucos anos atrás, voltar para a casa era um plano B de muitos desses formandos, como afirma Deborah Batista, com mestrado pela Columbia. "Depois de dois anos de estudo, o sonho era permanecer pelo menos algum tempo trabalhando aqui em Nova York, antes de voltar ao Brasil", diz ela, que, dois anos após se formar, retornará a São Paulo no próximo mês para trabalhar na área de crédito de carbono. O ciclo de um estudante começava com as inscrições para as universidades. Uma vez aceito, o estrangeiro se mudava para Nova York e cursava o primeiro ano, que sempre se inicia em agosto e termina em maio. Nas férias de verão (no hemisfério norte, inverno no Brasil), eles eram recrutados para Summer Jobs (estágio de verão) em bancos e fundos de investimentos em Wall Street. No fim da temporada, voltavam para as universidades para cursar o segundo ano. Antes mesmo de celebrar o Natal, já sabiam onde trabalhariam depois da formatura. Muitas vezes, no mesmo lugar onde estagiaram no Summer Job. Com a crise, esse ciclo se rompeu. "Tenho pilhas de currículos na minha mesa de brasileiros terminando o MBA e procurando emprego aqui no Brasil porque não conseguiram nos Estados Unidos", afirma Ricardo Betti, que presta consultoria para estudantes que pretendem estudar nos EUA e também é headhunter especializado em MBAs recém-formados no exterior. "No passado, a maioria queria - e conseguia - ficar nos Estados Unidos após o MBA", acrescenta. Mesmo entre os que ainda estão no primeiro ano, há um movimento de retorno para fazer o estágio de verão no Brasil. "Os alunos do primeiro ano procuram vagas no Brasil, mas aqui a cultura de Summer Job ainda é muito incipiente. Poucas empresas sabem o que é isso e menos ainda estão dispostas a contratar pessoas por três meses apenas", afirma Betti. "Para os MBAs brasileiros, São Paulo, hoje, é um mercado muito mais interessante do que Nova York. Eu pude perceber o início dessa transição já há quase um ano, durante meu estágio de verão. Enquanto eu trabalhava no Brasil, meu colegas, aqui em Nova York, estavam praticamente parados", diz Daniel Ferraz, que retorna ao Brasil neste mês para trabalhar no Bradesco BBI, que patrocinou o seu MBA na Universidade Columbia, em Nova York. "Nas aulas do MBA, o Brasil é mencionado como potência, não mais como promessa", disse. Outro estudante brasileiro, que prefere não se identificar, afirma que 40% dos estudantes de MBA da NYU e da Columbia - as duas principais universidades de Nova York - não possuem emprego. Seu objetivo, agora, é retornar para São Paulo. "Pretendo voltar ao Brasil para fazer recrutamento porque acredito ter maiores chances de obter um trabalho que desejo lá do que aqui em Nova York", diz o estudante. Carlos Saenz, mexicano com cidadania americana e mestre em Relações Internacionais pela Columbia, é um dos estrangeiros que optou por se mudar para São Paulo. "Escolhi a cidade por sua energia, ambiente cosmopolita e oportunidades econômicas. O status de principal destino de negócios na América do Sul já foi estabelecido. Mas acredito que São Paulo atravessa nova fase de crescimento que a transformará em uma capital global", afirma Saenz, que abriu uma consultoria de risco político na capital paulista. O argentino Juan Gomez Vega, MBA pela Columbia, trabalhará em São Paulo por causa da "vantagem de estar em um país que não sofre tanto com a crise como as economias avançadas". Segundo ele, "25% dos meus colegas do MBA estão ficando aqui, enquanto o restante busca outros destinos, inclusive o Brasil". Seu melhor amigo, Francisco Sanz, também argentino, decidiu voltar para Buenos Aires "porque as perspectivas são melhores". "Tenho o currículo de dois americanos tentando arranjar emprego no Brasil, um deles do MIT e outro de Berkeley", afirma o headhunter Betti, citando duas das melhores universidades dos EUA. "Em resumo, eu não diria que o sonho de ficar em Nova York diminuiu. Diria que ele se adaptou às circunstâncias econômicas e de empregabilidade do momento", disse. Contra a corrente, Virgínia Resende, da Columbia, conseguiu emprego em um banco paquistanês em Nova York e vai permanecer na cidade. "Acho que o pior já passou", diz.

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