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Crise externa dita tom caseiro para fusões no Brasil em 2008

Por ALUÍSIO ALVES
Atualização:

A turbulência nas bolsas internacionais, que tirou de circulação os investidores estrangeiros das ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês), também impactou o mercado de fusões e aquisições de empresas no Brasil na primeira metade de 2008. Com isso, a fatia das operações realizadas apenas entre companhias nacionais subiu de 50 para 74 por cento do total, segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), divulgados nesta quarta-feira. Enquanto isso, o total de transações envolvendo estrangeiras caiu de 50 para 26 por cento. "Os estrangeiros diminuíram o ritmo, mas isso não aconteceu com as empresas do Brasil", afirmou Filipe Pontual, coordenador da subcomissão de fusões e aquisições da Anbid, a jornalistas. Segundo o executivo, enquanto o cenário externo mais incerto reduziu a atividade das estrangeiras, diversas companhias domésticas mantiveram os planos de usar parte dos recursos levantados recentemente por meio de IPOs para compras de participações ou de empresas de menor porte no país. Na comparação semestral, a fatia das captações feitas por empresas em IPOs, direcionadas para aquisição de participação acionária, subiu de 24 para 39,4 por cento. Para Pontual, a combinação de crescimento com estabilidade da economia brasileira manteve um cenário favorável para que as empresas buscassem ganhos de produtividade e eficiência, fomentando o mercado. "Muitas empresas com comando familiar acordaram para a necessidade de se tornarem mais eficientes para conseguirem se manter competitivas", disse. Em contrapartida, o arrefecimento das captações via mercado de capitais também já começa a se refletir nas compras e fusões corporativas, embora algumas empresas estejam buscando recursos para investimentos no sistema bancário ou no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "A diminuição do ritmo de IPOs está reduzindo o volume de recursos para aquisições", afirmou Pontual. RESULTADO SEMESTRAL Em volume financeiro, o total de operações fechadas entre janeiro e junho foi de 24,4 bilhões de reais, uma queda de 31,3 por cento em relação ao primeiro semestre de 2007. O número de operações caiu de 49 para 39. A expectativa da entidade é de que outras 23 transações anunciadas sejam concluídas até dezembro, elevando o total de 2008 para pelo menos 83 bilhões de reais. No ano passado inteiro, as fusões e aquisições movimentaram 117,8 bilhões de reais. O foco maior em operações entre empresas domésticas também produziu mudanças nas posições de bancos no ranking de coordenadores de operações. Dentre as já concluídas, o ABN Amro ficou em primeiro, liderando seis negócios, que movimentaram 7,6 bilhões de reais. O banco Pátria coordenou cinco transações, seguido por Credit Suisse, com quatro, e BBI, com três. Em relação às transações anunciadas, o Bradesco BBI foi alçado à liderança, com sete operações, empatado com o Credit Suisse. A instituição suíça, no entanto, ficou em primeiro em volume de operações, com 50,9 bilhões de reais, contra 36,9 bilhões de reais do BBI, na quarta posição. Pontual evitou precisar números, mas considerou que a atividade do setor deve se manter forte na segunda metade do ano, já que muitas empresas brasileiras ainda dispõem de recursos para novas compras. "Há chance de se igualar ou até superar os números de 2007", afirmou.

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