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Crise na Líbia leva petróleo a subir 6%

Cotação chegou ontem a US$ 112,15, nível mais elevado em mais de dois anos e meio

Por Jamil Chade
Atualização:

Um milhão de barris de petróleo deixam de ser produzidos por dia na Líbia e o preço internacional do combustível dispara. Ontem, a cotação do barril atingiu US$ 112,15, seu nível mais elevado em mais de dois anos e meio, diante da paralisação de mais da metade da produção do país. Para o setor de energia, se a crise política se espalhar, o mundo caminha para o maior choque do petróleo desde a Guerra do Golfo, há 20 anos, e o barril em breve poderá dobrar de preço, chegando pela primeira vez à histórica marca de US$ 220. Ontem, em apenas um dia, o barril subiu mais de US$ 6, alta de 6,02%. Isso diante da constatação de que metade da produção do terceiro maior produtor da África havia sido suspensa. Diante da violência e dos sinais de guerra civil, multinacionais interromperam as atividades e o comércio. Para completar a tensão do mercado, rumores de que Kadafi teria ordenado o bombardeio de gasodutos contribuiu para a alta dos preços. O que foi confirmado é que a Repsol reduziu a produção em 350 mil barris por dia, ante 100 mil na Wintershall. A Eni teria cortado sua produção em 350 mil, ante um volume similar da Total. Para o Barclays Capital, pelo menos 1 milhão de barris estão deixando de ser produzidos, mais de 60% da capacidade da Líbia. Já o restante estaria "sob ameaça". Mesmo que a crise tivesse uma solução nesta semana, o setor já prevê que o impacto da alta nos preços será sentido nos próximos meses. A Líbia ainda anunciou que estava fechando as torneiras de sua estatal "por razão de força maior", o que legalmente é aceito como explicação para suspender contratos de combustíveis refinados. O mesmo poderia ocorrer com outras empresas nos próximos dias. Há dois dias, a Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) anunciou que estava preparada para suprir o mercado, se necessário. Mas traders alertaram ontem que a qualidade não seria similar à da Líbia, o que exigiria dos países industrializados liberar o uso de seus estoques estratégias. Hoje, a Agência Internacional de Energia (AIE) - que reúne os maiores consumidores - avaliará a situação em reunião de diretores e representantes de países. Dominó. Mas analistas no mercado indicam que não é apenas o abastecimento direto da Líbia que preocupa. O maior temor é com uma desestabilização do mundo árabe, onde estão as maiores reservas de petróleo. A alta no preço de 6% de ontem, portanto, ocorreu diante do temor dos mercados de que a violência na Líbia acabe contaminando outros países e os protestos possam se disseminar para a Argélia e especialmente para a Arábia Saudita, considerada o banco central do petróleo do mundo. Se essa turbulência política for mantida, o banco japonês Nomura indicou a seus investidores que a barreira de US$ 220 por barril deve se tornar realidade. "Se Líbia e Argélia suspenderem sua produção de petróleo, os preços podem superar a marca de US$ 220", afirmou o banco. Em 2008, o preço do barril atingiu US$ 148. Na Suíça, a empresa de trading Mercuria Energy acredita que a tendência é de que os preços continuem em alta nesta semana, podendo superar os US$ 150. Esse cenário, segundo a empresa, teria 20% de possibilidade. Nas bolsas, a alta do petróleo provocou quedas em praticamente todas as praças, exceto no Brasil, onde a Bovespa registrou leve alta.

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