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Crise não está nem na metade e desemprego pode ir a 12% em 2016, diz ex-diretor do BC

Segundo Mário Mesquita, o Banco Central pode ter de subir os juros, mesmo com a recessão da economia; ex-diretor do BC diz que é provável que haja novos rebaixamentos da nota do Brasil no início do ano que vem

Por Ricardo Leopoldo
Atualização:
'Se eu tivesse no BC hoje, pediria renúncia imediata', disse Mário Mesquita Foto: Ed Ferreira/Estadão

(Texto atualizado às 11h40)

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SÃO PAULO - O ex-diretor do Banco Central e atual sócio do banco Brasil Plural, Mário Mesquita, afirmou que a "crise econômica não está nem na metade", pois o PIB deverá continuar em queda no próximo ano. "O desemprego pode chegar a 12% em 2016", comentou. 

"Com a crise, situação social vai piorar e terá impactos políticos", comentou Mesquita. E a realidade da economia torna muito difícil o trabalho do Banco Central, destacou. "Se eu tivesse no BC hoje, pediria renúncia imediata. O BC pode ter que subir juros, mesmo com recessão", disse. 

Mesquita afirmou que após a divulgação do comunicado da última reunião do Copom, "a minha leitura é que o BC está muito inclinado a subir os juros" em janeiro. "É cedo para dizer qual vai ser a magnitude do ciclo de alta de juros no Brasil", completou. 

Na avaliação de Mesquita, como existe uma forte indexação da inflação no Brasil ele acredita que a taxa vai desacelerar no próximo ano, mas não será muito, sem indicar quanto o IPCA avançará em 2016. Ele citou que devido à situação financeira da Petrobrás, deverá ocorrer aumento de gasolina no ano que vem. "E o governo considera aumento da CIDE, o que pode complicar o trabalho do BC." 

Nesta terça-feira, o IBGE divulgou o PIB do terceiro trimestre, mostrando uma queda de 1,7%, a maior para o período desde 1996. O resultado é o segundo pior entre 42 economias, segundo um levantamento da Austin Rating. Para o Godman Sachs, o País foi da recessão à depressão, tendo um cenário "sombrio" pela frente.

Rebaixamento. Para Mesquita, "novos downgrades" da nota soberana do Brasil serão prováveis até o início de 2016 sem progresso na área fiscal. Segundo ele, não há indicações que partam da relação do governocom o Poder Legislativo de que medidas para correção das contas públicas serão adotadas no curto prazo. 

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"Na tendência atual, a razão da dívida bruta e PIB deve chegar a 80% em 2018", comentou. Com a crise, ele apontou que será preciso um redesenho do Estado de Bem Estar Social no Brasil, especialmente sobre os gastos da Previdência. 

Mesquita apontou que numa conjuntura de forte retração da economia em 2015, que deverá se estender no ano que vem, o crédito no Brasil não está crescendo, o que não justifica a adoção de medidas macroprudenciais pelo governo. 

Problema fiscal. O ex-diretor do BC e atual sócio da Ibiuna Investimentos, Mário Torós, afirmou que o ministério da Fazenda e o Banco Central adotam medidas corretas na gestão das políticas fiscal e monetária, respectivamente. "Contudo, a piora da situação política impede a reversão das condições da economia", destacou. "Sem atacar problemas fiscais, o Brasil terá mais inflação e mais câmbio."

Na avaliação de Torós, como o "governo não tem disposição de cortar gastos" e há também rigidez orçamentária, o Poder Executivo irá aumentar tributos em 2016. "Subida de impostos no ano que vem é dada e trará impactos na inflação." 

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