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Crise no Brasil trava elo com Pacífico, diz Macri

Para líder argentino, tratado de livre-comércio entre Mercosul e bloco formado por Chile, Peru, Colômbia e México não avança sem fim de crise brasileira

Por Rodrigo Cavalheiro e correspondente
Atualização:

BUENOS AIRES - O presidente argentino, Mauricio Macri, defendeu que o Mercosul e a Aliança do Pacífico, formada por Chile, Peru, Colômbia e México, componham uma área de livre-comércio, mas ressaltou que para isso o Brasil precisa voltar à normalidade.

No papel de observador convidado para a cúpula da Aliança do Pacífico na cidade chilena de Puerto Varas, ele se referia ao processo de impeachment que levou ao afastamento de Dilma Rousseff e à interinidade de Michel Temer.

O presidente argentino Mauricio Macri Foto: EFE

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“O Brasil tem de encaminhar sua situação o quanto antes para que se consiga avançar nos acordos do Mercosul com a Aliança do Pacífico”, disse a jornalistas, antes de fazer seu discurso. Uruguai e Paraguai já tinham o status de observador do bloco, situação que a Argentina obteve este ano.

Em declarações reproduzidas por canais de televisão e jornais argentinos, Macri opinou que o Mercosul “está congelado há muito tempo e os dois blocos precisam convergir no futuro para um acordo de livre-comércio”. O chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, afirmou ao jornal argentino La Nación que o objetivo do Mercosul é avançar num pacto desse tipo. Ele sugere que o Paraguai coordene esse processo.

A Aliança do Pacífico foi criada em 2011 como mecanismo de integração econômica aberto ao livre-comércio. Cerca de 90% dos produtos dos países circulam com tarifa zero e a região concentra 41% do investimento estrangeiro na América Latina.

Na avaliação do economista-chefe do Instituto Argentino de Economistas de Finanças, Alfredo Gutiérrez Girault, o processo de integração dos blocos tende a ser longo. Ele vê correção de rumo na economia brasileira que poderia indicar a estabilidade desejada por Macri, e não acredita que o presidente argentino esteja substituindo a liderança brasileira no Mercosul. “A vantagem de se aproximar dos países é que eles são trampolins para os mais dinâmicos no mundo. Se os asiáticos crescem 6%, vale a pena a parceria.” Segundo o FMI, o Peru crescerá este ano 3,7%, a Colômbia, 2,5%, o México, 2,4%, e o Chile, 1,5%.

Em visita a Buenos Aires em maio, o chanceler brasileiro, José Serra, defendeu a flexibilização do Mercosul, uma união aduaneira, para que seus integrantes possam negociar parcerias com mais autonomia. Após deixar a Argentina, sua sugestão foi rejeitada pela colega argentina, Susana Malcorra, que considerou “no mínimo inoportuno” abrir mão de agir em bloco em meio à discussão de um acordo com a União Europeia. Em relação à necessidade de aproximação com a Aliança do Pacífico, os vizinhos têm demonstrado sintonia.

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A situação no Brasil foi um dos fatores que levaram ao cancelamento da cúpula do Mercosul marcada para o dia 12 em Montevidéu. O principal motivo, entretanto, é a instabilidade na Venezuela, que faz o Paraguai ser contra a obediência do rodízio que deveria dar a Caracas a presidência semestral do bloco. O Uruguai quer passar o bastão assim mesmo.