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Crise nos mercados mundiais afeta Brasil

A crise de confiança nas bolsas dos Estados Unidos espanta os investidores e os preços das ações despencam, carregando os índices das demais bolsas no mundo. No Brasil, a Bovespa despenca e dólar e juros disparam.

Por Agencia Estado
Atualização:

Virulento, dramático e sanguíneo foram alguns dos adjetivos usados pelas agências internacionais para classificar o movimento de vendas de ações nos mercados de Wall Street e da Europa e de forte queda do dólar norte-americano diante do euro. O euro superou a paridade com o dólar, com a moeda norte-americana cedendo às preocupações sobre a economia dos EUA. Os mercados brasileiros não resistiram e seguiram a tendência. Quanto aos mercados internacionais, os analistas temem que os EUA estejam entrando em um círculo vicioso, em que a queda das ações abale ainda mais a confiança dos investidores, que, em conseqüência, provoque mais perdas nas bolsas. Após o dado da Universidade de Michigan, que mostrou sexta-feira queda forte da confiança dos consumidores, os investidores iniciaram a semana atentos à série de balanços que serão divulgados esta semana nos EUA e outros países. Cerca de 70 grandes empresas devem apresentar seus números trimestrais até sexta-feira e os investidores vão olhar não só os números e projeções mas também estarão particularmente atentos a eventuais artimanhas contábeis. A desconfiança dos investidores nos balanços apresentados pelas empresas e na capacidade do governo de combater as irregularidades está no centro da fuga das bolsas, além, é claro, das fortes perdas acumuladas nos últimos dois anos. E surgiu outra denúncia de irregularidade contra o presidente George W. Bush. Já se falava que ele teria tomado um empréstimo subsidiado enquanto diretor da Harken Energy, prática que condenou na semana passada, e agora o Washington Post levanta suspeitas de que ele teria se beneficiado de informações privilegiadas para vender ações da mesma empresa em que trabalhava. Vale lembrar que o vice-presidente, Dick Cheney, também está sob investigação por fraude contábil. Os números traduzem o nervosismo do mercado. Às 15h, o Dow Jones - Índice que mede a variação das ações mais negociadas na Bolsa de Nova York - operava em queda de 3,95% (a 8341,7 pontos), e a Nasdaq - bolsa que negocia ações de empresas de alta tecnologia e informática em Nova York - caiu 2,88% (a 1333,98 pontos). O euro disparou com a saída de investimentos dos Estados Unidos e estava sendo negociado a US$ 1,0075; uma alta de 1,41%, é a primeira vez que a moeda européia atinge a paridade desde 24 de fevereiro de 2000. Mesmo assim, as principais bolsas européias também despencam. Em Londres, o FTSE-100 fechou em 5,4%, em 3.994,5 pontos, encostando em níveis não observados desde dezembro de 96. Em Paris, o CAC-40 cedeu 5,40%, encerrando o dia em 3.323,74 pontos, próximo do menor nível em cinco anos com todos os papéis do índice fechando no vermelho. A Bolsa de Frankfurt continuava operando e o Xetra-DAX, seu principal índice, perdia 4,43%. O desinteresse pelo dólar também levou os investidores para o iene, que era negociado a 115,98 por dólar. O dólar chegou a cair abaixo de 115,80 ienes durante a manhã, o que não ocorria desde setembro de 2001. No pior nível do dia, o dólar foi cotado a 115,65 ienes, de 116,82 ienes na sexta-feira em Nova York. As preocupações sobre a economia norte-americana, no entanto, não tiraram volumes consideráveis dos títulos do Tesouro dos EUA. Segundo analistas, os investidores precisam muito mais do que o rompimento da paridade pelo euro para migrarem dos EUA para os títulos dos países europeus. A despeito do contínuo enfraquecimento do dólar desde abril, os títulos dos EUA seguem mostrando desempenhos superiores em relação a papéis da zona do euro. E, segundo analistas, a perspectiva de novo enfraquecimento do dólar ainda não foi suficiente para reequilibrar o mercado e encorajar grandes investimentos em ativos europeus. Para a reunião do Comitê de Política Monetária, que se encerra na quarta-feira, a maioria dos analistas espera o anúncio de manutenção da Selic - a taxa básica referencial da economia - nos atuais 18,5% ao ano. As razões são a instabilidade no mercado internacional e o sucesso dos candidatos presidenciais considerados indesejáveis pelo mercado. Amanhã à noite deve ser divulgada mais uma pesquisa de intenção de votos, e o resultado pode afetar ainda mais os negócios no Brasil. Ainda assim, se o Comitê só considerar a inflação, há espaço para um corte nos juros. Mercados no Brasil Às 15h, o dólar comercial estava sendo vendido a R$ 2,8620; em alta de 1,81% em relação às últimas operações de sexta-feira. Ao longo do dia, o valor mínimo negociado foi de R$ 2,8260 e o máximo de R$ 2,8720. Com o resultado apurado agora, o dólar acumula uma alta de 23,58% no ano e 1,49% em julho. No mercado de juros, os contratos de DI futuro com vencimento em janeiro de 2003 negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros pagavam taxas de 22,860% ao ano, frente a 22,350% ao ano sexta-feira. Já os títulos com vencimento em julho de 2003 apresentam taxas de 26,300% ao ano, frente a 25,650% ao ano negociados sexta-feira. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) opera em queda de 3,99% em 10533 pontos e volume de negócios de cerca de R$ 256 milhões. Com o resultado de hoje, a Bolsa acumula uma baixa de 22,44% em 2002 e 5,43% só em julho. Das 50 ações que compõem o Ibovespa - índice que mede a valorização das ações mais negociadas na Bolsa -, apenas 4 apresentaram altas. O principal destaque são os papéis da Embratel. As ações PN (preferenciais, sem direito a voto) caem 19,17% e as ON (ordinárias, com direito a voto), 15,84%.

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