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Crise põe em xeque private equity

Modelo adotado pela maioria desses fundos nos últimos anos, calcado em endividamento, agora se mostra inviável

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Às vésperas do estouro da crise financeira mundial, o Pátria Investimentos conseguiu fechar seu fundo de US$ 700 milhões para comprar participação em empresas. Mesmo com o cofre cheio, fez apenas uma aquisição até agora. Não foi por falta de opção. Em meio às turbulências, sua equipe de private equity viu cerca de 200 negócios - em tempos normais, esse número era até quatro vezes menor. "Nunca vi tanta oferta de negócios à venda como agora. Mas as operações não devem sair no mesmo ritmo de antes", aposta Alexandre Saigh, sócio do Pátria e responsável pela área de private equity. "Ficou muito difícil prever o futuro." Nos últimos três anos, fundos como o Pátria foram protagonistas de um novo ciclo do capitalismo brasileiro. Graças à abundância internacional de recursos para investimentos, à estabilidade da economia local e à reforma do mercado de capitais - que permitiu a venda de empresas na Bolsa -, compraram participação em 300 empresas de mais de 30 setores no País, segundo cálculos do Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital da Fundação Getúlio Vargas. Só em 2007 e no primeiro semestre de 2008, foram investidos mais de R$ 5 bilhões em aquisições. O clima, agora, é de apreensão e espera. Há várias razões para isso. A primeira é a enorme falta de sintonia entre as partes. O vendedor ainda está com os preços do passado na cabeça. O comprador quer pagar menos. Esse descompasso é algo que o tempo resolve, mas existem outras razões mais complexas. A incerteza macroeconômica é uma delas. "Só esta semana, vi três relatórios diferentes de crescimento do PIB. Isso atrapalha o andamento dos negócios", diz o diretor de um fundo americano que não quis se identificar. Vários gestores, alguns grandes como o GP, também foram pegos de surpresa no meio da crise e não conseguiram concluir a captação de novos fundos no ritmo previsto. Esses gestores não poderão contar com a Bolsa tão cedo como alternativa para sair dos investimentos. "Isso te leva a deixar projetos bons de lado." No mundo, essa indústria sofreu revés com o agravamento da crise. Estudo feito pela IESE Business School, de Barcelona, e pela consultoria The Boston Consulting Group (BCG) revela que 40% das empresas de private equity do mundo podem desaparecer até 2012. Entre 20% e 40% das empresas que receberam investimentos podem quebrar. Herny Kravis, fundador do KKR, um dos maiores fundos do mundo, disse que a indústria deve se adaptar para encarar o enfraquecimento econômico. Em outras palavras, significa deixar de pagar caro e de se endividar. Enquanto a oferta de crédito era farta, esses grandes fundos internacionais topavam pagar qualquer preço e chegaram a fazer cheques usando 70% de dívida. Por aqui, a situação é menos dramática, embora exija ajustes. O diretor do Centro de Private Equity da FGV, Cláudio Furtado, calcula que só quatro negócios foram feitos com dívida nos últimos três anos. O maior foi a aquisição, por US$ 1 bilhão, da empresa de petróleo San Antonio pela GP Investimentos. Mais da metade do dinheiro veio de banco. Dias depois, repetiu a estratégia ao selar a compra, por R$ 1,2 bilhão, da Magnesita. A Advent também recorreu a bancos para pagar parte dos US$ 300 milhões pela rede de material de construção Quero-Quero e dos R$ 170 milhões pela rede Frango Assado. Depois de setembro, a festa acabou. "O que vivemos foi uma anomalia", diz Patrice Etlin, sócio da subsidiária brasileira do fundo Advent. "Nossa tese agora é que o mercado de capitais não existe. Vamos voltar a fazer o que fazíamos até dois anos atrás: comprar sem dívida e investir em empresas de serviço que não demandem altos investimentos e possam ser adquiridas por compradores estratégicos."

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