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Crise reduz interesse por madeira certificada

Empresas brasileiras que apostaram na certificação florestal têm dificuldade para exportar

Por Andrea Vialli
Atualização:

As empresas brasileiras que apostaram na certificação florestal para exportar madeira estão enfrentando dificuldades para vender para a Europa e os Estados Unidos. Com a crise econômica, os maiores compradores do produto com selo verde - que atesta que a madeira foi extraída de maneira controlada - estão preferindo o produto sem certificação, que pode custar até 20% menos. O Grupo Orsa, que atua nos setores de celulose e produtos florestais, não consegue desovar os estoques de madeira extraída de suas reservas no Pará, onde mantém 545 mil hectares certificados com o selo do FSC (Conselho de Manejo Florestal, na sigla em inglês). De acordo com Sérgio Amoroso, presidente do Grupo Orsa, os estoques chegam a dois meses de madeira serrada - há um ano, não passavam de dois dias. "Nunca tivemos um estoque tão grande. Com a crise, o que vale é o preço" afirma Amoroso. Como a demanda por produto com certificação é voluntária, clientes que antes exigiam a garantia de origem hoje estão optando pelo produto sem selo. Segundo Amoroso, países como Holanda e Inglaterra ainda mantêm as compras, mas reduziram os volumes. Outra empresa que viu os estoques aumentarem em 60% foi a Precious Woods Brasil, companhia de origem suíça que possui 450 mil hectares certificados na Amazônia. Com 50% da produção anual de 42 mil metros cúbicos de madeira voltada à exportação, a empresa tem enfrentado problemas. "A crise afetou em cheio nossas exportações. Muitos clientes estão aguardando a situação melhorar, e os estoques estão entre 50% e 60% acima do normal", diz Christian Marzari, diretor-geral da Precious Woods Brasil. Além disso, ele afirma que o outro efeito da crise foi a redução do "prêmio" sobre a madeira extraída de modo ambientalmente correto."Com a crise, não se consegue mais o pagamento de um valor extra de 15% a 20% em relação à madeira não certificada", diz. A centenária Butzke, fabricante de móveis certificados de Timbó (SC), também vem enfrentando retração na demanda externa. "Desde setembro não conseguimos fechar mais nenhum negócio nos EUA. As únicas encomendas para clientes americanos estão previstas para março", diz Michel Otte, diretor da Butzke, que vende para redes como Wal-Mart e Home Depot. Atualmente o Brasil possui 5 milhões de hectares certificados com o selo FSC. Só a cadeia de madeira certificada envolve 1,2 milhão de pessoas - muitas delas vivem em comunidades no interior das florestas e buscaram a certificação para atender um nicho de mercado. "Muitas comunidades extrativistas se certificaram e agora não têm para quem vender", diz Patrícia Cota Gomes, coordenadora do Imaflora, uma das entidades que concedem o selo FSC.

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