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Crise vai deslocar 10 milhões de pessoas, diz ONU

Maior parte perdeu o emprego em grandes pólos industriais do planeta

Por Jamil Chade
Atualização:

A ONU alerta que a crise pode gerar um fluxo de mais de 10 milhões de pessoas pelo mundo, muitos deles voltando para suas casas diante do fechamento de fábricas e falta de trabalho em alguns dos principias pólos de atividade econômica do planeta. Já associações de imigrantes na Europa denunciam os planos de alguns governos de se utilizarem da crise para justificarem expulsões em massa. Veja como está o desemprego no mundo A queda na demanda dos países ricos ainda está fechando fábricas na China. O resultado é o desemprego de milhões de pessoas que haviam deixado seus países e as regiões mais remotas da China em busca de melhores salários nas fábricas. O mesmo fenômeno estaria atingindo regiões como Taiwan e Macau. Segundo o secretário-geral da Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento, Supachai Panitchpakdi, grande parte das pessoas afetadas estão na Ásia, mas imigrantes em outras partes do mundo também sofrerão, entre eles os latino-americanos nos Estados Unidos e na Europa. Segundo ele, as remessas de dinheiro dos imigrantes também sofrerão queda importante em 2009. Dados do Ministério das Relações Exteriores do México mostram que só seu consulado em Denver registrou neste ano aumento de 25% nos pedidos de incentivos para volta definitiva ao México. Cerca de 100 mil dos 1 milhão de poloneses que foram trabalhar no Reino Unido desde 2004 já retornaram. Outros 200 mil poderão voltar em 2009 se a recessão piorar, segundo a agência de recrutamento Access Europe. Em Portugal, dados obtidos pelo Estado com a Organização Mundial de Migrações apontam que a crise está entre os fatores que levam brasileiros a pedir ajuda para voltar. Nas ruas das grandes cidades espanholas, cartazes divulgam o plano do governo que dá incentivos financeiros - 9 mil em um pacote que paga todo o seguro desemprego - aos estrangeiros que queiram voltar: "Si estás pensando regresar...." Mas associações de estrangeiros acusam o governo usar a crise para justificar a expulsão em massa de imigrantes. Além de voltar, o imigrante tem que se comprometer a não retornar para a Espanha por 3 anos. Hoje, 11% da população na Espanha é composta de imigrantes, cerca de 5 milhões de pessoas. A taxa de desemprego entre os legais é de quase 20%, e o dobro entre os clandestinos, de 40%. No total, o desemprego no país é de 12%. O salário médio de um latino-americano na Espanha é 30% inferior a de um espanhol na mesma função. Com o plano de Retorno Voluntário, o governo espera atingir 100 mil pessoas. Mas, em um mês, apenas 767 aderiram. Raúl Jiménez, porta-voz da Associação Rumiñahui é um dos que acusa o governo de promover uma "expulsão encoberta". "Muitas pessoas procuram informações sobre o plano, mas se dão conta que vão perder no futuro, já que não poderão voltar à Espanha e não sabem em que situação vão encontrar seus países." Muitos, ainda, têm dívidas e hipotecas e o pacote não prevê uma solução para esses casos. A Cruz Vermelha também conta com um mecanismo de ajuda a estrangeiros e o número de pessoas atendidas aumentou em mais de 110% nos últimos três meses. Mesmo assim, a taxa continua baixa, de 790 pessoas em todo o ano. Atende aos que chegaram a Espanha nos últimos seis meses e oferece ajuda de 1,6 mil. A procura maior é de bolivianos, seguidos de argentinos e brasileiros.

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