Publicidade

CSN propõe corte de benefícios

Sindicato tenta resistir; empresa também concede férias coletivas para 2.500 dos 16 mil funcionários

Por Alberto Komatsu e Nicola Pamplona
Atualização:

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) informou ontem que vai conceder férias coletivas de 20 dias para 2,5 mil trabalhadores, de 22 de dezembro a 12 de janeiro. O grupo emprega 16 mil pessoas em 19 unidades, duas no exterior (CSN LLC, nos Estados Unidos, e Lusosider, em Portugal). Mais da metade dos funcionários - 8,2 mil - está concentrada na usina de Volta Redonda, no Rio de Janeiro. O regime de férias coletivas afetará funcionários da laminação da usina fluminense, das áreas administrativas tanto de Volta Redonda quanto de São Paulo, além da siderúrgica GalvaSud, localizada em Porto Real, no sul fluminense, controlada integralmente pela CSN. O Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, que abrange Volta Redonda, informa que a CSN está propondo redução de benefícios conquistados pelos empregados em acordos coletivos. Um dos exemplos é a proposta de redução do pagamento do benefício-férias dos atuais 70% de um salário para o porcentual garantido por lei: 33,33%. A CSN também negocia com o sindicato o aumento do turno de trabalho de 6 horas para 8 horas e licença remunerada com redução de base salarial. O presidente do sindicato, Renato Soares Ramos, afirma que a empresa alegou "falta de demanda" para anunciar as férias coletivas e reduzir os benefícios. Ele lembra que a redução da jornada de trabalho de 8 para 6 horas passou a vigorar há cerca de cinco meses. Já o benefício-férias de 70% do salário-base foi classificado por ele como uma "conquista histórica" dos trabalhadores. Apenas na época da ditadura o porcentual foi diferente, para mais: 91% de um salário. "As grandes empresas acumularam muita riqueza nos últimos dois anos. Por isso, acredito que a CSN poderia esperar mais um ou dois meses para ver como a crise vai se comportar", afirmou Ramos. De acordo com o sindicalista, a única proposta da CSN com a qual os funcionários concordaram foi a criação de um banco de horas. Sobre a alteração da jornada de trabalho, ele avalia que os funcionários sairiam perdendo, já que quando houve a redução para 6 horas os empregados conseguiram manter o mesmo salário de 8 horas . Trabalhadores e representantes da diretoria da CSN se reuniram ontem por cerca de três horas. Os sindicalistas propuseram que a empresa aguarde até o final das férias coletivas para abrir novas negociações. Segundo o sindicato, a empresa ficou de avaliar essa trégua e deve responder em breve. Os empregados da CSN elaboraram uma série de medidas encaminhadas à direção da CSN para que a companhia possa enfrentar a crise. Facilitar a demissão dos que pretendem se desligar da empresa; agilização do processo de aposentadoria dos funcionários com tempo exigido pelo INSS; licença remunerada e garantia do emprego durante a vigência das medidas emergenciais são algumas delas. "A CSN deveria usar os dividendos que distribui aos acionistas para poder atravessar esse período de crise", defende o presidente do sindicato. Ramos diz, ainda, que a greve é um processo que nunca é descartado, mas que ela não está sendo cogitada neste momento. Para ele, parar as atividades é um instrumento que só deve ser usado quando se esgotarem todas as negociações diplomáticas com a direção da companhia. O governo do Rio se reúne esta semana com a direção da CSN, em encontro já marcado antes dos rumores sobre demissões na companhia. Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, Júlio Bueno, a questão dos empregos certamente entrará na pauta do encontro. Ele não quis adiantar, porém, se proporá medidas para evitar os cortes. "Ainda vamos conversar", disse, em entrevista na Assembléia do Rio de Janeiro.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.