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Cuidado com o dinheiro

Por Doyle McManus
Atualização:

A crise econômica deu um presente inesperado a Barack Obama: gastar dinheiro. O presidente eleito está elaborando um plano de estímulo que atingirá US$ 775 bilhões ou mais, suficientes para financiar quase todos os projetos que ele mencionou durante a campanha. Mas, como muitos presentes, este vem com riscos. Por toda a nação, políticos e gurus de política estão alegremente fazendo listas do que esperam encontrar sob a árvore de estímulo depois do Natal. Governadores pediram US$ 136 bilhões para projetos de construção que declararam - no novo termo favorito em Washington - "pronto para a pá". Prefeitos acorreram com US$ 87 bilhões de idéias meritórias, de reparos na rede de esgoto em Milwaukee a um estacionamento de praia em Ventura, Califórnia. Presidentes de universidades, propositores do transportes de massa e defensores de parques nacionais, todos estenderam as mãos. Obama também falou de usar o pacote de estímulo para financiar as suas prioridades favoritas - não só projetos tradicionais de infra-estrutura como estradas e pontes, mas para promover energias alternativas, modernizar escolas, melhorar a assistência à saúde e até expandir o acesso à internet. O perigo não é apenas o óbvio, de incorrer num déficit que se torne oneroso após a recuperação da economia. Obama prometeu ficar vigilante nesse sentido. O problema mais sutil é que, à medida que os gastos de estímulo aumentarem, eles poderão ficar menos focados e menos eficazes. Para um plano de estímulo ser eficaz, o dinheiro precisa chegar rapidamente à economia. Um dos defeitos da redução do imposto de renda deste ano foi que ela levou meses para chegar ao contribuinte e, quando o fez, poucos gastaram o dinheiro em consumo - muitos, aliás, o usaram para reduzir as dívidas, algo muito sábio, mas não tão bom para a economia. Uma virtude dos gastos em infra-estrutura é que criam empregos e benefícios públicos na forma de melhores estradas ou esgotos ou escolas ou estacionamentos de praia. Mas a velocidade será suficiente? Isso depende de quantos desses projetos "prontos para a pá" estão realmente prontos para avançar e quantos são apenas um brilho no olho de um governador. As paradas são altas, não apenas econômicas. Se Obama puder criar um plano de estímulo que funcione, estará habilitado para um enorme prêmio político. Uma geração de eleitores criados sob a máxima de Ronald Reagan de que o problema é o governo verá, em vez disso, o governo federal agir como uma solução, justo quando ela mais precisa de uma. Se ele falhar, reforçará o ceticismo dos cidadãos sobre a capacidade de o governo resolver problemas - ceticismo que freqüentemente os fez desconfiar de propostas democratas que sugeriam um governo grande. "Existe uma questão de confiança no meio disso", diz William A. Galston, um ex-funcionário da administração de Bill Clinton. "Por que deveríamos pegar dezenas de bilhões de dólares de nosso dinheiro e despejá-las num buraco de rato?" Enquanto projeta o plano de estímulo, argumenta Galston, Obama devia usá-lo como um veículo não só para curar a economia, mas também para restaurar a confiança dos cidadãos na capacidade do governo federal de agir com eficácia e eficiência. Isso significa iniciar projetos que farão uma diferença visível na vida das pessoas - exceto ver o presidente Obama no próximo ano com uma pá nas mãos. Mas significa também impor restrições reais aos gastos porque, se o plano de estímulo parecer uma coleção de projetos com fins clientelistas ou uma lista tradicional de desejos liberais, o fantasma de Reagan ressurgirá repentinamente. Obama ainda não traçou fronteiras claras para quais gastos cabem no pacote de estímulo, mas deveria traçar. Esta é uma pergunta que ele deveria fazer: o projeto é temporário e designado para operar até que a economia se recupere? Se for assim, ótimo. Mas a administração não deve ceder à tentação de financiar programas de longo prazo com o fundo também. Tome-se a proposta de longo alcance de ampliar o seguro-saúde estatal para crianças. É uma causa meritória e o Congresso devia financiá-la. Mas não como parte de um pacote de estímulo econômico, porque ele não deve ser temporário. "Quando uma locomotiva está saindo da estação, há uma tentação natural de engatar o máximo de vagões nela", diz Galston. "Um desafio real para o presidente será manter seu foco e sua credibilidade." Os conservadores fiscais argumentarão que o pacote de estímulo econômico deve se concentrar apenas na recuperação da economia, não na expansão do alcance do governo federal. Os liberais que querem restaurar a posição de um governo atuante devem deixar de lado suas listas de desejos e concordar. *Doyle McManus é articulista

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