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''Cultura da General Motors precisa mudar''

Para especialista em reestruturação de empresas, a General Motors é ?retrógrada e autocentrada?

Por Patrícia Campos Mello
Atualização:

Não adianta injetar US$ 50 bilhões do governo, romper contrato com mais de 2 mil concessionárias, vender o Hummer e se livrar da Saturn e do Pontiac. Se a cultura na General Motors não mudar, a montadora não voltará à lucratividade. Esse é o alerta de Michael Useem, professor de administração da Wharton Business School, especialista em empresas que passam por reestruturação. Segundo Useem, a GM é muito "retrógrada e autocentrada" e precisa mudar a mentalidade. Abaixo, trechos da entrevista que Useem concedeu por telefone. O que precisa mudar na GM para a montadora voltar a ter lucros? É preciso haver uma mudança na cultura da GM. A montadora é muito retrógrada e autocentrada. Há 20 anos, a GM fez uma joint venture com a Toyota em São Francisco, chamada de Nummi, para aprender a fazer carros com mais qualidade e custos menores. A Toyota, por sua vez, queria aprender com a GM detalhes do mercado americano e da distribuição nos EUA. Muitos gerentes da GM passaram por programas na Nummi. Quase todos disseram que não conseguiram aplicar na GM o que aprenderam na Toyota, porque encontravam muita resistência. Esse é um grande desafio para Fritz Henderson, o novo CEO. Ele precisa mudar a mentalidade da empresa. São muito complacentes, desatentos com detalhes de qualidade, e não olham para os desejos do consumidor como deveriam. A GM chegou a ter quase 50% do mercado em 1950 e ficou com a síndrome do líder, excessivamente confiante. A IBM caiu na mesma armadilha e, há 18 anos, tirou o presidente e pôs um novo no lugar, Louis Gerstner. Depois de dois anos tentando reestruturar a IBM, Gerstner se deu conta que a cultura da empresa era o principal problema. Como será feito esse processo de mudar a cultura da montadora? Henderson pode não ser a pessoa mais indicada para fazer a mudança - é um funcionário de carreira da GM, está lá há 25 anos e era considerado herdeiro natural de Rick Wagoner. Normalmente, um dos primeiros passos da reestruturação é mudar o comando e os altos gerentes. Para modificar a mentalidade, é preciso trazer gente nova, é difícil fazer mudanças com as mesmas pessoas. A GM precisa aprender a fazer carros mais baratos e com mais qualidade, como a Honda e a Toyota. E o fato de o governo passar a ser acionista majoritário da GM, traz conflitos de interesse? Sim, muitos. Por exemplo, para o governo, há interesse em manter o nível de emprego alto, não deixar que os fornecedores quebrem e recuperar a GM. Mas, para a administração da montadora, poderia ser mais racional reduzir o número de funcionários e fornecedores, por exemplo. Por isso é que o conselho de administração deve manter o governo distante das decisões do dia a dia. O governo terá de deixar muito claro para o novo conselho de administração da GM qual é a missão da montadora - retornar à lucratividade e fabricar carros econômicos. Feito isso, o governo deve se afastar. Qual é sua opinião sobre o futuro da GM? Eu estou no time dos otimistas. Acho que as medidas da Casa Branca têm sido acertadas. Se a economia não der uma piorada enorme, a concordata vai livrar a GM da maioria de suas dívidas e deve assegurar a sobrevivência da montadora.

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