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Cúpula Ibero-Americana recua em condenação a protecionismo

Por Agencia Estado
Atualização:

Não obteve sucesso a tentativa dos países em desenvolvimento de incluir na Declaração de Bávaro, aprovada no final do encontro da XII Cúpula Ibero-Americana, a proposta de condenar a política de concessão de subsídios aos produtos agrícolas dos Estados Unidos e da Europa, e pedir maior abertura dos mercados. O desejo de deixar isso formalmente escrito acabou se transformando apenas em um compromisso, assumido verbalmente pelo primeiro-ministro espanhol, José Maria Aznar, de que Espanha e Portugal levariam à União Européia o descontentamento dos países em desenvolvimento pelas medidas protecionistas. A declaração acabou sem este parágrafo porque Espanha e Portugal, são países que integram, ao mesmo tempo, a União Européia e a comunidade ibero-americana, e não desejavam desagradar seus parceiros mais próximos. A XII Cúpula Ibero-Americana, realizada na região turística da República Dominicana, foi encerrada no início da noite de sábado com a aprovação de um documento com 56 pontos. Um deles, apresentado pela Espanha e aprovado por unanimidade, propõe que o presidente Fernando Henrique Cardoso, quando encerrar seu mandato, em 31 de dezembro, assuma a presidência de um grupo de trabalho que terá dois objetivos básicos: obter uma maior coesão entre os países ibero-americanos e imprimir uma maior visibilidade à cúpula em âmbito internacional. O resultado do seu trabalho será apresentado na próxima reunião, em novembro do ano que vem, na Bolívia. Fernando Henrique aceitou o convite e pretendia conversar sobre ele com o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Prognóstico pessismista No encontro, o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Enrique Iglesias, fez um prognóstico pessimista para os países da América Latina, no próximo ano. Segundo Iglesias, a situação da América Latina hoje, "é pior do que há um ano", e "o quadro para o futuro não é nada promissor". Esse cenário, conforme observou, se deve ao baixo nível da atividade econômica na região, às dificuldades que estes países encontram para exportar e ao aumento do protecionismo dos países ricos. Iglesias defendeu a necessidade de criar um clima capaz de superar a falta de atrativo da região para os investimentos estrangeiros. O primeiro ministro espanhol, José Maria Aznar, se dispôs a levar a queixa dos latino-americanos contra o protecionismo europeu por dirigir um país que tem muitos investimentos na região. Ele ressalvou que este tipo de assunto não deve ser discutido na cúpula ibero-americana, mas sim na Organização Mundial de Comércio (OMC). A proposta aprovada acabou sendo inócua, pois apenas reitera o compromisso dos países de seguir negociando para melhorar o acesso aos mercados e reduzir todas as formas de subvenção à produção que causam distorções no comércio internacional. Um dos artigos da declaração pede uma solução definitiva, justa e duradoura para o problema da dívida externa que afeta muitos países ibero-americanos. Pede também que os organismos internacionais, como FMI e Banco Mundial, aprofundem os esforços para auxiliar os países em dificuldades e intensifiquem as tarefas de prevenção das crises financeiras. A Argentina, que enfrenta problemas para pagar suas dívidas, mereceu um comunicado separado dos ibero-americanos, que pediram ao FMI que firme, no mais curto prazo possível, um acordo para estabilizar a economia do país. Os presidentes do Brasil e do Chile, Ricardo Lagos, foram dois grandes defensores da economia da região e do fim do proteciosnismo dos países desenvolvidos. Numa frase considerada lapidar pela delegação brasileira, Lagos disse que esses países não podem consumir como civilizados e produzir como primitivos. Ressaltou ainda que não é previso ficar esperando um país entrar em crise para se agir de forma mais enérgica contra os capitais especulativos. Ele lembrou que uma crise destas abala a todos na região. Fernando Henrique, por sua vez, disse que os países latino-americanos têm dois grandes desafios a serem vencidos: o populismo, que acha que pode resolver tudo com muita facilidade, e o fundamentalismo do mercado, que acha que o mercado vai resolver tudo. Depois de fazer um balanço da situação no País, e lembrar que foi vencido nas eleições pela oposição, o presidente voltou a pedir maior controle sobre os fluxos de capitais e a criação de um banco central dos bancos centrais, destacando que defenda essa posição desde o início de seu mandato.

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