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Cúpula Mercosul-UE é cancelada por debandada de presidentes

O incidente é o sinal mais evidente da mais séria crise enfrentada pelo Mercosul desde a sua criação, há quinze anos

Por Agencia Estado
Atualização:

A reunião de líderes do Mercosul e da União Européia agendada para amanhã e que teria o objetivo de tentar retomar as negociações de um acordo comercial não vai mais ocorrer. Três presidentes dos quatro países membros do bloco sul-americano - Tabaré Vazquez, do Uruguai, Nestor Kirchner da Argentina e Nicanor Duarte, do Paraguai - decidiram não participar do encontro que deveria acontecer após o encerramento da Cimeira da União Européia-América Latina-Caribe, em Viena. Como sobraria apenas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para participar pelo lado do Mercosul, a única saída encontrada pelos diplomatas foi rebaixar o encontro para um nível ministerial. O incidente é o sinal mais evidente da mais séria crise enfrentada pelo Mercosul desde a sua criação há quinze anos. Ele acentua também o ceticismo entre os europeus de que o bloco sul-americano não terá condições de retomar nos próximos anos uma unidade política suficiente que viabilize um acordo comercial. Argentina x Uruguai Vazquez foi o primeiro presidente a anunciar no início desta semana que não participaria do encontro. Segundo fontes diplomáticas, ele se recusa a se encontrar frente a frente com Kirchner por causa da disputa entre os dois países em torno da instalação de uma fábrica de celulose em território uruguaio. O clima entre os dois presidentes é tão ruim que hoje, durante a tradicional foto de família que reuniu os cerca de sessenta chefes de Estado e Governo que participam do encontro em Viena, os dois não se cumprimentaram. Além disso, o governo uruguaio está negociando um acordo comercial com os Estados Unidos e já avisou que, se necessário, abandonará o Mercosul para implementá-lo. Os motivos para decisão do presidente paraguaio decidir também não participar do encontro com os europeus ainda não estão claros. Mas foi o que faltava para o Kirchner tomar a mesma atitude. Segundo o presidente argentino, "não faria sentido" uma reunião com apenas dois presidentes. Início do impasse: OMC Já estava claro que a reunião dos líderes do Mercosul e União Européia não resultaria em avanços concretos, pois eles dependem da conclusão da rodada multilateral da Organização Mundial do Comércio (OMC), que vive um impasse. Mas a expectativa entre os europeus era de que o encontro poderia pelo menos revitalizar as perspectivas futuras de um acordo, através de um comunicado incisivo garantindo o compromisso dos dois blocos em concluir as negociações. A reunião ministerial deverá resultar numa declaração final com um tom de compromisso mútuo com o progresso nas negociações. Mas, como definiu um diplomata argentino, "ela servirá apenas para tentar salvas as aparências". Chávez é risco para Mercosul Os europeus temem que a aproximação de Chávez com o Mercosul inviabilize de vez o bloco. A presença da Venezuela, sob a ótica de Bruxelas, poderia "politizar" o bloco. A crise deflagrada pelo presidente venezuelano na Comunidade Andina impossibilitou a abertura das negociações daquele bloco com a União Européia. "Nós continuamos dispostos a negociar com a comunidade Andina, mas cabe a eles decidirem se querem ou não", disse a comissária européia para relações externas, Benita Ferrero-Waldner. Ela ressaltou que os resultados positivos dos acordos comerciais bilaterais firmados entre a União Européia e o México e Chile mostram a importância dessas negociações. Nos últimos cinco anos, o comércio bilateral entre a Europa e o México cresceu 75%. Diante de uma América do Sul fragmentada, a única notícia positiva anunciada por Bruxelas foi a abertura de negociações para a criação de uma área de livre comércio entre a Europa e a América Central.

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