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Custo de fertilizantes pressiona inflação dos alimentos para o ano que vem

Preços de nutrientes usados agricultura estão nos níveis mais elevados desde 2008, o que aumenta os custos dos produtores rurais que cultivam principalmente soja e milho

Por Elizabeth Elkin
Atualização:

A maioria das pessoas não se importa muito com fertilizantes – exceto, talvez, ao dirigir por uma área agrícola com um perfume particular. Mas, com os preços para alguns nutrientes sintéticos em seus maiores níveis desde a crise financeira de 2008, isso pode significar colheitas mais fracas e contas mais altas no supermercado no próximo ano, assim que a cadeia de suprimentos global começar a se recuperar da pandemia.

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Uma perfeita tempestade de acontecimentos – desde climas extremos e paralisações de fábricas até novas sanções governamentais - atingiu o mercado de fertilizantes químicos este ano, abalando os agricultores que já estavam sofrendo com a pressão dos custos cada vez mais altos para produzir alimentos. Os preços da ureia – um famoso fertilizante à base de nitrogênio, dispararam no início deste mês para o nível mais alto desde 2012 em Nova Orleans, o maior centro comercial de fertilizantes dos Estados Unidos. O fosfato diamônico, fertilizante também conhecido como DAP, é o mais caro nesse mercado desde 2008, segundo os dados da Bloomberg.

“À medida que os preços dos fertilizantes continuam a subir, os agricultores vão cortar as taxas de aplicação, ou cortar completamente os fertilizantes na esperança de preços mais baixos no futuro, ou cortar outros produtos agrícolas para dar conta das despesas maior que o esperado”, disse Alexis Maxwell, analista da Green Markets, empresa de propriedade da Bloomberg. Alguns estão adiando as compras para a próxima época de cultivo na esperança de os custos baixarem – um risco, ela afirma, já que os preços poderiam continuar a subir.

O custo do fertilizante é uma das principais motivações por trás da inflação global de alimentos atual Foto: PASCAL ROSSIGNOL/REUTERS - 13/04/2021

Os agricultores que cultivam commodities como milho, soja e outros grãos que abastecem a criação de gado e as fábricas de alimentos industrializados já estão gastando mais do que o normal com sementes, mão de obra, transporte e equipamentos. Isso ajudou a contribuir para a forte inflação de alimentos no ano passado. Os índices dos preços globais dos alimentos das Nações Unidas estão próximos da maior alta em uma década, um problema que o aumento das despesas com fertilizantes poderia agravar.

"O custo do fertilizante é uma das principais motivações por trás da inflação global de alimentos atual, já que os preços de todos os três grupos de nutrientes - potássio, fosfato e nitrogênio - estão em níveis não vistos há cerca de uma década", disse em Elena Sakhnova, analista da VTB Capital em Moscou.

Uma confluência de eventos está por trás do aumento dos preços. Tempestades seguidas na Costa do Golfo dos EUA impediram a entrada e saída do produto e fecharam temporariamente as fábricas na região, inclusive do maior complexo de nitrogênio do mundo, de propriedade da CF Industries Holdings. A empresa foi então forçada a fechar duas fábricas no Reino Unido devido ao rali recorde da Europa de gás natural, o principal insumo para grande parte do nitrogênio produzido globalmente. Na sexta-feira, a Yara International disse que os altos preços do gás natural lhe obrigarão a reduzir cerca de 40% de sua capacidade de produção europeia de amônia, usada na fabricação de fertilizantes.

As empresas de logística que transportam fertilizantes também estão enfrentando escassez de mão de obra e aumento de preços, aumentando os custos.

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"Isso com certeza dificultou tremendamente as coisas no trabalho", disse Bill Stringfellow, codiretor de um pequeno empreendimento chamado Quest Products, que ajuda a trazer novos produtos para o mercado, entre eles pesticidas e fertilizantes. O frete responde por aproximadamente 15% do custo de compra do produto para o negócio, afirmou, chamando isso de "um pesadelo absoluto".

A ação do governo também está em jogo. No início deste ano, os EUA e a Europa impuseram sanções à Belaruskali, uma grande produtora de potássio e uma das maiores empresas estatais da Bielorrússia, em resposta à prisão de um jornalista em um voo da Ryanair em maio. Na China, a província de Yunnan ordenou cortes de produção em várias indústrias, incluindo a de fertilizantes, como parte das medidas para reduzir o consumo de energia e as emissões de gases poluentes.

A Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (NDRC, na sigla em inglês) prometeu combater o acúmulo de ureia e a alta de preços para manter a estabilidade do mercado, mas os preços ainda estão subindo: os contratos futuros da ureia na Bolsa de Mercadorias de Zhengzhou atingiram um novo recorde em meio aos altos preços do carvão - a principal matéria-prima para fertilizantes de nitrogênio na China - e as preocupações com a ofertas limitadas.

Silvesio de Oliveira, 51 anos, produtor de soja e milho em Tapurah (MT) – no coração do cinturão da soja no Brasil – foi sortudo o suficiente ao se antecipar ao mais recente aumento de preço. Em novembro passado, ele comprou 100% do fertilizante necessário para ambas as safras.

“A gente estava percebendo a inflação dos fertilizantes chegando”, afirmou. Ele se antecipou porque é um leitor voraz de notícias sobre commodities, disse. “Há um pouco de sorte, mas, em sua maior parte, é informação.”

Se os agricultores diminuírem a quantidade de fertilizante que usam, entre os mais impactados poderia estar o milho, uma das culturas de maior rendimento, mas, também, uma das mais caras para se cuidar. Os fertilizantes respondem por cerca de 20% das despesas, disse Alexis, analista do Green Markets.

Safras menores de grãos podem elevar os custos com a alimentação do gadoe de outros animais, se traduzindo em preços mais altos para os consumidores que compram carne Foto: WENDERSON ARAUJO/CNA/TRILUZ/DIVULGAÇÃO

Safras menores de milho poderiam significar custos elevados com a alimentação do gado leiteiro e de outros animais, em última análise, se traduzindo em preços mais altos para os consumidores que compram carne, como a bovina e a de frango. O milho - isto é, seu xarope com alto teor de frutose - também é um ingrediente importante em refrigerantes, sucos e outros alimentos processados consumidos por muitas famílias.

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"Estamos prevendo que isso impactará na disputa por área cultivada em 2022", disse o economista-chefe de commodities da StoneX, Arlan Suderman. "Como resultado, esperamos por menos hectares de milho no próximo ano." Suderman calcula que sejam 91 milhões de hectares de milho, uma redução em comparação aos 93,5 milhões deste ano.

As plantas, como as pessoas, precisam de uma combinação de nutrientes para sobreviver e vários tipos de fertilizantes oferecem diferentes contribuições. O nitrogênio tem que ser aplicado basicamente a cada ano, então os agricultores não devem cortar a quantidade que compram e aplicam nos campos, disse Alexis.

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Por causa disso, os agricultores estão mais dispostos a economizar com o fosfato e o potássio, em vez de confiar nos nutrientes que eles esperam que já estejam no solo. Mas alguns agricultores talvez até mesmo cortem a aplicação de nitrogênio se os preços continuarem a subir, disse Jerome Lensing, avaliador independente de safras da seguradora Rain and Hail – e isso poderia ser um problema.

"Com o preço do nitrogênio subindo", disse ele, "espero que eles não se espantem tanto no próximo outono, quando estiverem colhendo e dizendo: 'Por que não estou conseguindo o milho pensei que iria conseguir? '" / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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