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Custo de transmissão sobe 500% em 10 anos

País investiu R$ 10,5 bilhões para ampliar a malha em 26 mil km

Por Renée Pereira e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

O sistema elétrico nacional está cada vez mais caro. Só o custo da rede de transmissão, responsável pela interligação de energia entre as cinco regiões brasileiras, teve um salto de 500% nos últimos dez anos, de R$ 1,7 bilhão para R$ 10,5 bilhões, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Esse foi o preço para expandir em 26 mil quilômetros (Km) a malha nacional, que até 1999 contava com 67.048 km de extensão.O alongamento da rede ganhou impulso após o racionamento de 2001. Na época o sistema de transmissão foi considerado o grande vilão do contingenciamento pelo qual o País teve de passar, já que as linhas não tinham capacidade para trazer energia do Sul - onde sobrava eletricidade - para o Sudeste, onde o consumo estava elevado. De lá pra cá, o tamanho da malha deu um salto enorme, até atingir 93.868 km.Hoje, o sistema está mais robusto, com maior capacidade de interligação entre as regiões Norte e Nordeste e Sul e Sudeste/Centro-Oeste. Para os próximos anos, a expectativa é que essa expansão continue forte, já que a maior aposta do governo está nas hidrelétricas distantes dos grandes centros urbanos. O complexo do Rio Madeira, em Rondônia, por exemplo, está a 2.500 km do Sudeste. Itaipu, hoje a maior usina do País, está localizada a 850 km da Grande São Paulo.Para especialistas, a localização dessas grandes hidrelétricas em regiões mais afastadas, por si só, representa um risco maior para a transmissão. "A expansão indefinida da rede traz riscos decorrentes de seu próprio tamanho. Reduzir esses riscos é o maior desafio do planejador a partir de agora", frisa o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Salles.A expectativa é que entre 2009 e 2011 entrem em operação outros 16 mil km de linhas de transmissão. Isso sem incluir o linhão que vai escoar a energia das hidrelétricas do Rio Madeira, prevista para começar a operar em meados de 2011. Só essa obra prevê duas linhas de 2.375 km de extensão cada, entre Rondônia e São Paulo, sendo que a metade ficará na floresta Amazônica. A Hidrelétrica de Belo Monte, que será concluída um pouco mais tarde, por volta de 2015, também exigirá um reforço expressivo nas linhas já existentes de Tucuruí. Quem vai pagar a conta por toda expansão, no entanto, é o consumidor. O transporte de energia é um dos itens que compõem a tarifa paga por todos os brasileiros, explica o engenheiro Carlos Augusto Kirchner, diretor do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo. A participação da transmissão no preço da eletricidade subiu de forma expressiva nos últimos anos - saiu de 3,48%, em 1998, para 6,5%,em 2008. Na transmissão, as empresas que ganham o leilão recebem uma receita fixa durante o contrato de concessão, de 30 anos, para construir e operar a linha. Assim, conforme aumenta a malha, o volume de receita paga também aumenta e onera a população, completa Salles.O professor da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, tem a mesma percepção. Para ele, a remuneração paga às empresas de transmissão e repassada para as tarifas é bastante elevada para os padrões nacionais. Além disso, acrescenta o especialista, o sistema brasileiro virou uma colcha de retalhos, onde várias empresas operam um pedaço de transmissão, com culturas totalmente diferentes uma da outra. "Adotamos um modelo neoliberal. O governo Lula fez apenas uma correção no planejamento do setor, mas não eliminou a confusão".Alguns especialistas defendem que o governo comece a reforçar a geração de energia próxima dos grandes centros urbanos para diminuir a dependência das mega hidrelétricas. Para isso, defendem o uso da energia de biomassa, especialmente da cana-de-açúcar, com grande potencial em São Paulo, e energia eólica. Na avaliação deles, embora essa geração seja mais cara, na ponta final ficará muito semelhante a das grandes hidrelétricas, que dependem de grandes linhas de transmissão.FrasesLuiz Pinguello RosaCoppe/UFRJ"Adotamos um modelo neoliberal. O governo Lula fez apenas uma correção no planejamento do setor, mas não eliminou a confusão"Carlos Augusto KirchnerSindicato dos Engenheiros de São Paulo"Quem vai pagar a conta de toda expansão é o consumidor"

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