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Da sala de aula para as ruas do Rio de Janeiro

Jovens abandonam a escola para complementar a renda da família e engrossam fila de emprego

Por Daniela Amorim (Broadcast) e Nathália Larghi
Atualização:

Aos 17 anos, Luciano Cipriano decidiu trocar a sala de aula pelas ruas do centro do Rio de Janeiro. Há um mês, o adolescente começou a vender acessórios eletrônicos com um amigo na região central da cidade, contrariando a vontade da mãe. A justificativa é conhecida: ele queria ajudar em casa. “Minha mãe não gostou que eu largasse, mas preferi trabalhar.” Cipriano é o primeiro entre seis irmãos a abandonar os estudos.

A realidade que obrigou o adolescente a deixar de frequentar a escola para ajudar em casa tem afetado também outras famílias. A taxa de participação dos jovens entre 14 e 17 anos na força de trabalho vem crescendo desde o terceiro trimestre de 2014, o que mostra que cada vez mais jovens estão trabalhando. Como no segundo trimestre de 2016 a taxa de desemprego nessa faixa etária foi a que mais cresceu na comparação com um ano antes (atingindo 38,7%), isso significa que um número ainda maior de adolescentes têm procurado emprego.

Aos 17 anos, Cipriano vende pen drive Foto: Nathalia Larghi|Estadão

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Ana Carolina dos Santos, de 16 anos, nunca trabalhou. Mas há cerca de seis meses, quando o pai perdeu o emprego de soldador, ela decidiu abandonar os estudos e buscar uma ocupação. A procura, no entanto, não tem sido fácil. “Ainda não fiz nenhuma entrevista. Mando currículos, mas nunca me chamam.”

O pesquisador Sandro Sacchet, da Diretoria de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), explica que o aumento na evasão escolar para que os jovens possam trabalhar e complementar a renda da família é um fenômeno temporário, motivado pela crise. “Assim que as condições melhorarem e que o emprego se recuperar, as pessoas mais jovens voltam a estudar”, afirmou Sacchet.

Ele diz, no entanto, que ainda não é possível dizer quando o mercado de trabalho brasileiro começará a mostrar recuperação. Sacchet espera que a taxa de desemprego, atualmente em 11,3%, deve se aproximar de 12% antes de mostrar reação, provavelmente ao longo de 2017. “A taxa de desemprego deve continuar piorando um pouco até o fim do ano, mas num ritmo menor do que vinha acontecendo até então.”

‘É o que mais tem’. Apesar de ter se acentuado em 2016, a taxa de desocupação entre os jovens já vinha crescendo desde 2014. Foi nessa época que Pablo Santos, de 17 anos, saiu da escola. O jovem de Nova Iguaçu, na baixada fluminense, abandonou os estudos no 9º ano do Ensino Fundamental porque “queria ter suas coisas”.

Essa foi a mesma justificativa usada por Tiago Júnior,de 17 anos, para explicar o abandono da escola no último ano do Ensino Fundamental. “Essa foi a saída que eu encontrei para ter o que eu queria, sem fazer coisa errada”, disse. Morador de Padre Miguel, ele diz que em sua comunidade, adolescentes que abandonam a escola para trabalhar, “é o que mais tem.”

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