PUBLICIDADE

Publicidade

Dançarino faz ‘vaquinha’ para fazer curso nos Estados Unidos

Uoston Alcântara precisa juntar R$ 140 mil que ficaram fora de bolsa de estudo na escola de dança The Ailey School

Por Shagaly Ferreira
Atualização:

“Tive de ler três vezes o e-mail para entender que ‘accepted’ era aceito mesmo. Aí, comecei a chorar.” Foi com espanto que o dançarino Uoston Alcântara recebeu um comunicado da escola de dança The Ailey School com a informação de que havia ganhado uma bolsa de estudos. Desde a adolescência, ingressar na companhia fundada pelo renomado coreógrafo Alvin Ailey (1931-1989), em Nova York, se tornou a meta do jovem morador do subúrbio de Salvador (BA). Hoje, a realização desse sonho depende de recursos financeiros que Uoston ainda não tem.

Filho mais novo de uma empregada doméstica, o dançarino de 23 anos cursou toda a formação profissional na educação pública. Em 2014, começou a dançar já adolescente em uma escola estadual interdisciplinar, e no mesmo ano criou sua primeira coreografia ao som da música “New York, New York”, interpretada por Frank Sinatra. Aqueles primeiros passos guiaram o estudante até a Escola de Dança da Fundação Cultural da Bahia no ano seguinte, onde permaneceu até se formar, em 2021.

Uoston Alcântara, de Salvador, sonha em estudar na The Ailey School desde a adolescência Foto: Werther Santana/ Estadão

PUBLICIDADE

Durante seus estudos, como a renda da família vinha do trabalho da mãe, por vezes faltavam recursos para alimentação e passagens. Mas ele seguiu e seu talento chamou a atenção da fundadora da Koru Cia de Dança, em Salvador, Nilmara Rocha, que decidiu apoiá-lo. “Quando ele entrou na Escola de Dança, vi aquele dom precisando de aprimoramento, a vontade, a disciplina, a concentração. É um artista múltiplo”, diz Nilmara, que lhe apresentou a The Ailey School como referência para dançarinos negros, como ele. “Através dos olhos dela, enxerguei muito sobre minha dança e sobre mim.”

‘Vaquinha’

Para seguir o sonho, todos os esforços do dançarino baiano estão concentrados na viagem. Ele conta que a bolsa de um ano recebida por meio do Independent Study Program custeia estudos e moradia, mas não abarca outros gastos exigidos para a estadia. “A escola exige de estudantes internacionais o suporte para ficar um ano em Nova York sem trabalhar”, explica. Para juntar o valor estipulado em R$ 140 mil, ele está fazendo uma campanha de arrecadação na internet, divulgada nas redes sociais, e também conta com doações via Pix. Aberta em junho, a “vaquinha” arrecadou pouco mais de R$ 25 mil. 

Uoston precisa estar em Nova York até o início de setembro deste ano, quando as aulas começam. Otimista, ele acredita que vai conseguir. “Venho de um lugar em que as pessoas que se parecem comigo morrem, não conseguem ter planos, nem imaginar que podem ir aonde sonham. Entendo que eu levo um lugar e outros ‘alguéns’ comigo.” 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.