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De Marte ao campo: nasce o primeiro jipe-robô brasileiro

Com sistema da Nasa, Embrapa e USP apresentam protótipo inovador na agricultura brasileira

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Por Anna Carolina Papp
Atualização:
Além de fazer análise química do solo e de plantas, robô funciona como área de pouso e recarga de drones Foto: Tati Zanichelli

A tecnologia da Nasa já chegou ao campo brasileiro - ou ao menos está perto disso. Será apresentado nesta quarta-feira, no Simpósio Nacional de Instrumentação Agropecuária, realizado pela Embrapa em São Carlos (SP), o primeiro protótipo brasileiro de um “rover” (jipe-robô) para uso agrícola.

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Com o sistema “Libs duplo pulso”, o mesmo utilizado pela Nasa em Marte, o aparelho consegue, com a emissão de um laser, fazer a análise química completa de qualquer amostra de solo ou cultura, da mesma maneira que o Curiosity analisa rochas marcianas.

Em setembro de 2013, um pequeno aparelho havia sido montado e testado em laboratório, e agora, pouco mais de um ano depois, o primeiro protótipo foi finalizado.

O robô, com 1 metro de comprimento, 60 centímetros de altura e também 60 de largura, foi desenvolvido numa parceria entre a Embrapa Instrumentação, responsável pelo sistema libs, e pela USP São Carlos, que ficou com a parte robótica.

“É um robô móvel que foi desenvolvido para transportar o sistema libs no solo”, diz Marcelo Becker, pesquisador do Laboratório de Mecatrônica do Departamento de Engenharia Mecânica da USP São Carlos. O rover pesa 32 quilos, sendo o maior peso a bateria embarcada no sistema, que dura cerca de meia hora. 

“Hoje ele está sendo controlado a distância, mas iremos desenvolvê-lo para que seja totalmente autônomo”, diz Becker. Ele explica que o grupo, com cerca de 15 pessoas, está trabalhando também num outro aparelho menor, com GPS, que logo mais será incorporado ao protótipo já existente. 

O pequeno robô é controlado de um computador, que exibe as informações detectadas pelo laser. “ A gente linka o robô com o computador pela rede Wi-Fi”, diz Becker.

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Como funciona. Com o laser emitido pelo robô sobre uma planta ou amostra de solo, o sistema faz, em um milésimo de segundo, uma espécie de mapa completo sobre todos os componentes químicos daquele material. “Um laser de alta energia focalizado sobre o solo quebra as moléculas da superfície e forma um plasma, de alta temperatura - por volta de 70 mil graus Kelvin”, explica Débora Milori, pesquisadora do Laboratório de Óptica e Lasers da Embrapa. 

O laser emite luz em diversas frequências, que são decodificadas pelo sistema em diferentes elementos químicos. “Ele pode medir a quantidade de matéria orgânica do solo, fazer análise nutricional das plantas e detectar doenças”, diz a professora.

Outra funcionalidade do protótipo é ser uma espécie de “área de pouso e recarga” para drones (ou vants), também na vanguarda da tecnologia agrícola para mapeamento de lavouras. “O problema dos vants é que a bateria dura muito pouco. A ideia, com o rover, é que esse vant decole, faça uma determinada missão de tomadas aéreas e, mais adiante, aterrisse para fazer uma recarga de bateria na superfície do robô”, diz Débora. “Dessa maneira, pode fazer um sobrevoo maior.” 

Ajustes. O projeto é pioneiro no País, mas ainda precisa ser aprimorado. Por ora, por exemplo, só pode ser utilizado em superfícies planas. “Estamos desenvolvendo um sistema de suspensão passiva, para que ele possa se adaptar aos diferentes perfis de solo ”, diz Becker.

Outros projetos são controle autônomo, a recarga de drones e a inserção de uma câmera, além de um novo design. “Ele está muito quadradinho, coisa de engenheiro”, brinca o professor. Só a parte de engenharia, sem colocar na conta o sistema e o software, custou cerca de R$ 5 mil.

Uma das missões da apresentação do projeto no simpósio é, justamente, angariar parceiros para que o robô possa chegar ao mercado dentro de um futuro próximo. “Convidamos empresários, investidores, agências de fomento e produtores para tentarmos alavancar o projeto”, diz Débora.