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De olho no retrovisor: fundos derreteram na pandemia

Considerada um investimento seguro, renda fixa tem riscos e pode ser afetada por fatores como taxa de juros e inflação

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Por Redação
5 min de leitura
Getty Images 

Com regras de remuneração definidas no momento da aplicação no título, a renda fixa é vista como uma das aplicações mais seguras de se investir. Por isso, é comum que as pessoas acreditem que esse tipo de investimento não tem variação ou não vai ser afetado pelas grandes volatilidades do mercado. No entanto, no ano passado, investidores do Tesouro Direto viram que a realidade não é bem assim, quando se depararam com retornos negativos de seus rendimentos depois da eclosão da pandemia.

Em agosto, o IMA-B, índice que representa o desempenho de títulos públicos federais atrelados à inflação – como o Tesouro IPCA+, por exemplo –, recuou 1,80% em comparação ao do mês anterior. O Tesouro Selic, atrelado à taxa básica de juros da economia, registrou uma queda de 0,46% em setembro e fechou o mês com rentabilidade negativa, algo que não ocorria havia 18 anos.

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“Você pode, sim, perder dinheiro com renda fixa e esse é um ponto que precisamos desmistificar”, explica Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV). “É claro que, em relação a uma ação ou um fundo multimercado, podemos ter riscos bem menores, mas não quer dizer que a renda fixa é livre de perda”, afirma.

Antes de saber os motivos que levaram à queda do rendimento desses tipos de investimento, é preciso entender como eles funcionam. Claudia explica que, diferentemente de ações em que o investidor vira uma espécie de “sócio” da empresa, na renda fixa ele é um credor que empresta dinheiro para o governo ou uma empresa privada. O rendimento desse “empréstimo” pode ser definido de forma prefixada, com porcentual de juros fixo por um determinado período, ou pós-fixada, com rentabilidade vinculada a um indexador externo, como CDI, IPCA ou Selic.

“Na renda fixa corporativa, que é emitida por empresas, podemos ter problemas com o risco de crédito e a saúde financeira dessa empresa de conseguir arcar com essa dívida”, exemplifica. Em relação aos títulos públicos, fatores como taxa de juros e o aumento de preços na economia podem interferir. “Inflação é uma coisa que vai fazer com que esses títulos, principalmente o IPCA que está vinculado à inflação, tenham uma chacoalhada de preços.”

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“A melhor alternativa é começar comprando títulos públicos, porque o investidor não teria que fazer nenhum tipo de análise de risco de crédito dos emissores, mas, ainda assim, entre os títulos públicos existem algumas possibilidades: prefixados, pós-fixados, indexados à Selic, indexados à inflação. Então, primeiro é preciso entender essas diferenças e depois o motivo de a pessoa estar fazendo a poupança e aquele investimento”, afirma Claudia.

Sobre os desempenhos negativos registrados nos últimos meses, a especialista explica que a pandemia provocou um impacto, mas outras causas também colaboraram. “O rendimento real negativo aconteceu porque a inflação subiu mais do que a taxa de juros nominal, então a [taxa] Selic estava em cerca de 2% e a inflação foi maior do que isso.” Segundo ela, o aumento da inflação se deu pela desvalorização do real, que pode também ser atribuída à crise sanitária atual, porém também a uma conjunção de fatores econômicos e políticos.

No final de 2016, a engenheira ambiental Viviana Nedel Reckziegel, de 36 anos, começou a investir em renda fixa para sair da poupança, que tem um rendimento baixo quando considerado o ganho real acima da inflação. “Até 2018, com as taxas de juros mais altas, fundos como Letra de Crédito Imobiliário (LCI) tinham bons rendimentos. No ano seguinte, os rendimentos começaram a ficar cada vez mais baixos, então resolvi iniciar no mercado variável”, conta.

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Com a chegada da pandemia, ela viu os rendimentos da renda fixa despencarem ainda mais. “Aumentei minha carteira na renda variável, mas, como tenho um perfil mais conservador, ainda mantenho 50% em renda fixa e 50% em variável.” Para os novos investidores, ela aconselha estudar o mercado financeiro e manter a avaliação periódica dos investimentos. “Sempre dividindo e aportando aos poucos, e não todos os investimentos em uma renda só. Já perdi, já ganhei e o que mais sei é que cautela é fundamental”, ensina Viviana.

Sempre é hora de investir em renda fixa

Apesar da possibilidade de ter um rendimento real negativo, a renda fixa ainda é um dos rendimentos com menores riscos e maior liquidez, portanto continua sendo recomendada para todos os tipos de investidor. “Sempre é momento e sempre cabe investir em renda fixa, em qualquer cenário, em qualquer condição e para qualquer tipo de investidor. O que vai mudar é a proporção que a renda fixa vai ter na carteira de cada indivíduo e também para qual objetivo essa renda fixa está sendo escolhida como investimento”, diz Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV).

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E não é preciso ter perfil moderado ou conservador. “Mesmo os investidores mais agressivos, em alguma parcela, vão investir em renda fixa, até para ter um dinheiro de liquidez mais imediata”, reforça. Uma dica importante é sempre ter uma cartela com diferentes investimentos e não jogar todo o dinheiro em uma única opção. “Diversificação é sempre uma boa forma de você tentar distribuir o seu risco e o seu patrimônio e não concentrar tudo em um único tipo de investimento.”

Para Guilherme Braga, agente autônomo de investimentos XP, a renda fixa é algo consagrado no Brasil há muito tempo. “O brasileiro sempre fugiu para ativos que são seguros, pois, naturalmente, ele não quer tomar risco. A maioria das pessoas quer segurança extrema e não é à toa que aqui o principal investimento é em imóveis”, conta. Segundo raio X do mercado imobiliário, realizado pelo Zap Imóveis, 46% das pessoas que compraram imóveis no quarto trimestre de 2020 afirmaram que estavam fazendo um investimento.

Preferência nacional

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A poupança ainda é o investimento mais popular no País. Segundo pesquisa da Anbima realizada em 2018, entre os brasileiros que aplicaram seus investimentos, 88% guardaram dinheiro na caderneta – que é o produto mais conhecido pela população. O agente de investimentos pontua que, para que as pessoas consigam diversificar seus investimentos, falta conhecimento das opções disponíveis. “Quando se fala de renda fixa, grande parte dos brasileiros só conhece CDB e, às vezes, algum título ou outro que é oferecido pelos bancos.”

“Para pensarmos em renda fixa, temos antes que pensar em duas coisas: em primeiro, o objetivo, o que você quer com esse investimento; e em segundo, qual é a oportunidade que o mercado está dando.” Guilherme explica sobre a possibilidade de analisar o cenário econômico e observar as opções de saída e de entrada, que é o trabalho prestado por assessores de investimento. Segundo ele, dependendo da taxa de juros, por exemplo, pode ser mais vantajoso vender os títulos antes do vencimento.

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