23 de abril de 2008 | 10h56
O acalorado debate global que opõe os alimentos aos biocombustíveis alterou a forma como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) avalia o financiamento de projetos de biocombustíveis que possam afetar a produção de matérias-primas como milho e soja, disse um funcionário da instituição na terça-feira, 22. "É bom que as vozes tenham se erguido nesse debate. Os biocombustíveis não são uma panacéia completa, temos de distinguir quais são os melhores setores dos biocombustíveis", disse à Reuters o consultor-sênior do BID Nathaniel Jackson, que participa do Fórum Latino-Americano de Financiamento à Energia Renovável. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) disse neste mês que o aumento global na produção de biocombustíveis ameaça tornar os alimentos menos acessíveis para os pobres da América Latina. Críticos questionam os benefícios ambientais e sociais dos biocombustíveis, o que põe grandes produtores, como o Brasil, na defensiva. Jackson e outros oradores no fórum disseram que a energia renovável - inclusive os biocombustíveis - tem enorme potencial de crescimento, mas exigem uma abordagem inteligente e seletiva. O consultor disse que o BID decidiu descartar totalmente projetos para a produção de etanol do milho, como ocorre nos EUA. Embora o banco ainda se interesse por projetos que extraem álcool da soja e da cana, prefere financiar cultivos como o do pinhão-manso, que não é comestível nem exige terras aráveis. "O ideal será algo como o pinhão-manso, que claramente não tem impacto sobre os preços alimentares", disse Jackson. "Agora, se chegarem para nós com algo que afete diretamente os preços dos alimentos, vamos provavelmente dizer que não é isso que procuramos." "Achamos que o sorgo seria apropriado, mas a soja, por exemplo, não seria ideal, pois afeta os preços (dos alimentos). Admitimos que o preço do açúcar tem um impacto. É bem menos desejável que o pinhão, mas, novamente, temos de observar o quadro geral do desenvolvimento." De acordo com ele, o banco alterou seu método de avaliação dos projetos e agora dedica mais atenção a fatores como preços, eficiência energética e desenvolvimento regional. Isso habitualmente leva à rejeição de alguns projetos mesmo que sejam financeiramente sustentáveis e tenham apoio dos governos. O BID apóia a produção de etanol de cana no Nordeste brasileiro, mas não faria o mesmo no Sudeste, que é mais rico, segundo ele. "Se há um projeto de cana chegando para nós, perguntamos onde é. Se é lá na área que queremos focar, que o governo quer desenvolver, então desse ponto de vista ele se encaixa na equação", disse Jackson.
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