Debate eleitoral inclui privatização e tamanho do Estado

Na avaliação de economistas, crise econômica obrigará candidatos a tratar de temas que foram ‘interditados’ em outras eleições

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Por Renata Agostini, Ricardo Galhardo e Douglas Gravas
3 min de leitura
Valor das distribuidoras da Eletrobrás será 'simbólico' Foto: Wilton Junior|Estadão

Ciro Gomes aposta em juros baixos e estatais fortes. Geraldo Alckmin quer ser o candidato da responsabilidade fiscal. João Doria bate na tecla das privatizações. Marina Silva fala em ajustes, mas acha o receituário de Michel Temer excessivo. Lula fala em crédito farto para incentivar o consumo. Jair Bolsonaro defende um Estado menor.

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Os nomes mais fortes hoje na corrida ao Planalto testam discursos para o combate à crise, prevendo encontrar um eleitorado afoito por soluções que levem à volta do crescimento.

Ciro Gomes, por exemplo, indica já ter uma posição bem definida e tem girado universidades do País para apresentá-la. O ex-governador do Ceará e ex-ministro da Fazenda, que pretende se lançar pelo PDT, se diz adepto do novo desenvolvimentismo. Defende redução dos juros para conter a dívida pública, incentivos às empresas nacionais e adota defesa do Estado forte, ao falar na retomada de campos de petróleo leiloados e reversão de eventual venda da Eletrobrás.

Ele mantém o ex-ministro e filósofo Mangabeira Unger como um de seus principais colaboradores. Recentemente, indicou apoio ao manifesto do economista Luiz Carlos Bresser-Pereira que, entre outras coisas, condena as privatizações.

Já Marina Silva tenta se equilibrar na defesa do controle de gastos públicos e na manutenção de estatais como a Petrobrás. Segue tendo no economista Eduardo Giannetti da Fonseca um de seus principais colaboradores.

Liderando pesquisas de intenção de voto, Lula tem levantado bandeiras como o uso de reservas internacionais do País para investimentos em infraestrutura e a realização de um referendo para revogar medidas de Temer, como a limitação para gastos do governo e a reforma trabalhista. O discurso, por ora, segundo admitem aliados, é mais uma peça política para mobilizar a base eleitoral do petista do que uma proposta real de política econômica.

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Ele tem se aconselhado com economistas da Unicamp, como Luís Gonzaga Belluzzo e Ricardo Carneiro, e antigos parceiros do governo PT, como os ex-ministros Guido Mantega, Nelson Barbosa e Aloizio Mercadante. As conversas, sob coordenação de Márcio Pochmann, ocorrem de forma regular desde o ano passado, mas não têm objetivo de formar um programa econômico, diz Belluzzo. 

Segundo aliados de Lula, o plano para a economia deve ser o último a ser formatado. O ex-presidente quer esperar os resultados do governo Temer e elaborar propostas em cima da “herança” do peemedebista, a depender dos resultados. O PT não quer repetir o erro de 1994, quando foi contra o Plano Real, diz um interlocutor de Lula.

Por ora, está descartada uma nova Carta ao Povo Brasileiro. Segundo Gilberto Carvalho, ex-ministro da secretaria-geral da Presidência, os governos Lula deram provas suficientes de compromisso com a responsabilidade fiscal.

Ambiente renovado. Economistas de visão social-democrata e liberal apostam, porém, que a crise desgastou essa visão de País. “Antes, estávamos na subida da maré petista, com resultados do Estado grande e empresário. Agora, estamos vivendo a maior crise da história”, afirma Samuel Pessôa, do Ibre-FGV. 

Presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica no primeiro mandato de Lula, Marcos Lisboa acredita que o debate eleitoral em 2018 estará aberto a temas antes interditados, como as privatizações e a redução do Estado.

“Há um reconhecimento do imenso fracasso nos últimos anos. A sociedade está mais aberta a políticas que enfatizem disciplina fiscal, focar em poucas áreas, como saúde e segurança. Ganha força na sociedade a abordagem que é mais próxima dos países da Europa Ocidental do que a da tradição do nacional-desenvolvimentismo do segundo governo Lula”, diz. 

É nesse ambiente que pretendem surfar Alckmin, Doria, mas também candidatos neófitos como Jair Bolsonaro e João Amoedo, do Novo, sigla que defende o Estado mínimo. 

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Emissários de Bolsonaro sondaram ao menos dois economistas de renome nos últimos meses, consultando-os sobre o interesse em se tornarem guru do ex-militar, segundo relatos dos abordados, que pediram reserva.

Lula, Marina Silva, Geraldo Alckmin e Jair Bolsonaro não quiseram dar entrevista sobre seus pensamentos econômicos. 

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