30 de maio de 2013 | 02h02
"Estamos crescendo este ano mais do que no ano passado", disse ele na entrevista que deu logo depois de conhecidos os dados do PIB. No primeiro trimestre de 2012, o Brasil cresceu apenas 0,1%; no primeiro trimestre deste ano, cresceu 0,6%. Como ao longo de todo o ano de 2013, o PIB vai crescer bem mais do que o medíocre 0,9% registrado em 2012, o ministro não deixa de ter uma dose de razão. Mas, convenhamos, para quem apostava num avanço do PIB de 4,0% a 4,5% neste ano, os resultados do primeiro trimestre são de amargar.
A nota positiva é a melhora do investimento que, nas Contas Nacionais, leva nome e sobrenome mais comprido: Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Acusou avanço de 4,6% no primeiro trimestre sobre o anterior e de 3,0% quando medido sobre o primeiro trimestre de 2012. O ministro garantiu que tem a ver com certa mudança de ênfase da política econômica, do consumo para o investimento. Ainda assim, reflete mais o grande crescimento da frota de caminhões e da construção civil do que inversões de capital em aumento da capacidade de produção. Além disso, o investimento continua baixo, de apenas 18,4% do PIB. Para garantir crescimento sustentável, da ordem de 3,5% a 4,0% ao ano, tem de ser superior a 24% do PIB, mas estamos longe disso.
Excelente surpresa é o desempenho da agropecuária: crescimento de 9,7% de um trimestre para outro e de 17,0%, em comparação com o primeiro trimestre de 2012. O problema é que o setor não pesa mais do que 5% no PIB e nas contas finais não chega a fazer diferença.
A indústria é que continua na pior. Em vez de avançar, recuou: queda de 0,3% em relação ao quarto trimestre e de 1,4% em relação ao primeiro trimestre do ano passado. A recuperação sustentável do setor precisa de muito mais do que desonerações pontuais e refrescos caseiros fornecidos pelo governo.
O principal imprevisto foi o baque no consumo, até recentemente o carro-chefe da política econômica. Cresceu apenas 0,1% no trimestre e 3,0% em um ano. Nesse campo, o fator negativo é o que ontem veio no diagnóstico da gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis. O consumo, advertiu, perdeu fôlego porque a inflação vai deixando menos salário para as compras do mês. Quer dizer, o governo tem de levar mais a sério o combate à inflação se não quiser ver mais corrosão.
Não é só isso, aí vai o lado bom da moeda mais fraca: se é verdade que o governo mudou a ênfase e passou a cuidar mais do investimento do que antes, o mau desempenho do PIB pode prenunciar mudanças na condução da política econômica. Mas esse é assunto a ser analisado nesta Coluna na edição de amanhã.
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