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Decisão sobre a Varig foi adiada para segunda

Segundo apurou a Agência Estado junto a fonte oficial que acompanha o processo, o juiz pediu mais tempo para avaliar a proposta do TGV (Trabalhadores do Grupo da Varig) para a compra da empresa aérea

Por Agencia Estado
Atualização:

A decisão do juiz Roberto Ayoub, da 8a. Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio, sobre o leilão da Varig foi adiada para segunda-feira. Segundo apurou a Agência Estado junto a fonte oficial que acompanha o processo, o juiz pediu mais tempo para avaliar a proposta do TGV (Trabalhadores do Grupo da Varig) para a compra da empresa aérea. O TGV foi o único a formalizar uma proposta no leilão de ontem no valor de US$ 449 milhões (R$ 1,010 bilhão), que é quase metade dos US$ 860 milhões avaliados pelos organizadores para a venda da Varig, como preço mínimo para a operação, incluindo operações internacionais e domésticas. Na primeira etapa do leilão, quando o valor mínimo deveria ser obedecido, nenhuma proposta foi apresentada. Na segunda etapa, sem preço mínimo, o TGV fez sua proposta. Ayoub deveria decidir hoje se a proposta seria aceita. Proposta palatável O ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, afirmou esperar que a proposta da TGV para a compra da empresa seja "palatável" e aceita pelo juiz do caso, mas reafirmou que o governo não vai injetar dinheiro na Varig para evitar o risco de falência. Ele explicou que ficou frustrado com o resultado do leilão, porque achou que apareceriam outros interessados. O ministro disse ainda que não conhece a proposta em detalhes, mas o fato de ter sido feita pelo grupo demonstra confiança dos trabalhadores na companhia. "O País não pode fazer nada, só torcer. Eu torço desesperadamente para que esta proposta seja palatável, mas o juiz tem padrões legais para poder aceitar", disse. Questionado sobre o que ocorreria com os passageiros que estão na Alemanha ou têm bilhetes para o país por causa da Copa do Mundo, numa eventual paralisação, respondeu: "não quero pensar nisso não". "Há esforços para se encontrar uma solução para a Varig dentro desta proposta que foi feita, ou se ela não satisfizer na análise do juiz, encontrar ainda outro caminho", afirmou. O ministro também comentou que a crise da Varig atrapalhou o crescimento previsto para o turismo no país porque a empresa não pôde ampliar suas rotas. Ao contrário, ele cita que a Varig reduziu em abril sua oferta de vôos internacionais em 24%. "Não é que prejudicou. A crise dela não alavancou tanto o turismo quanto poderia", disse o ministro após participar de evento sobre setor aeroportuário na Associação Comercial do Rio de Janeiro. Governo lavou as mãos O governo lavou as mãos com relação à Varig. A avaliação que corria hoje nos bastidores da Esplanada dos Ministérios é que a tendência é a empresa ir à falência, mais cedo ou mais tarde. A única oferta do leilão de hoje, feita pelos trabalhadores da Varig, foi recebida com desconfiança. Todos se perguntavam de onde viriam os US$ 448 milhões oferecidos pelos empregados da aérea. "É importante uma solução que possa manter a Varig voando e prestando serviços, mas precisamos observar o valor da proposta feita e a capacidade que eles (os funcionários) têm de honrar esse compromisso", disse o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Questionado sobre de onde viria o dinheiro oferecido pela TGV, o ministro da Defesa, Waldir Pires, respondeu: "não sei". Quando lhe perguntaram se o dinheiro existia, ele apenas sorriu. Mesmo se a oferta da TGV for aceita e o negócio se concretizar, o futuro da Varig permanece inseguro, pois a empresa necessita urgentemente de capital de giro, avaliam técnicos. Além disso, ela está ameaçada de perder aviões a partir do próximo dia 13, quando acaba o prazo dado pela Justiça de Nova York, no processo movido pela empresa proprietária das aeronaves. Os problemas não acabam aí. A Infraero, estatal federal que opera os aeroportos brasileiros, está pressionando o Ministério Público para que mova processo criminal contra os administradores da Varig por apropriação indébita de R$ 27 milhões em taxas de embarque. A aérea estaria recolhendo a taxa dos passageiros, mas não repassando os valores para a estatal dos aeroportos, como deveria. Esse montante se soma aos R$ 540 milhões devidos pela Varig em taxas à Infraero. "Nós fizemos o possível", decretou Waldir Pires, que hoje ainda se dizia esperançoso quanto ao surgimento de uma solução de última hora. Ele lamentou o fato de as grandes empresas do setor não terem feito ofertas no leilão, apesar dos sinais emitidos nos últimos dias que estariam interessados na Varig. "A vontade da gente era acreditar que essa gente (as empresas) estava dizendo a verdade", comentou. Para o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, é fácil entender por que as grandes aéreas não fizeram ofertas. Elas estariam esperando a Varig quebrar, pois nesse caso as linhas hoje operadas pela empresa serão redistribuídas. "A primeira regra de mercado diz que, se você pode obter algo de graça, não vai pagar por isso", disse. "Se a oferta da TGV não for aceita e o juiz decretar a falência da Varig, tudo vai cair no colo das empresas por um preço infinitamente menor do que o pedido no leilão." Sem articulação Não havia sinais de uma articulação de última hora do governo para salvar a empresa. "Não acredito que o governo vá arranjar uma solução mágica", disse o presidente da Infraero. Técnicos lembraram que, se fosse para arranjar alguma solução, o governo já o teria feito antes de a situação da Varig se tornar tão crítica. A tentativa mais concreta do Executivo de ajudar a Varig, empreendida há mais de um ano, foi inviabilizada pela resistência dos empregados, que não aceitaram medidas para cortar custos que envolvessem demissões. Waldir Pires não quis comentar o possível desfecho do leilão da Varig, nem avaliar se o montante oferecido pela TGV, correspondente a metade do preço mínimo pretendido, seria satisfatório. "Essa é uma decisão que cabe ao juiz", disse. Também o presidente da Infraero não quis arriscar um prognóstico. "Eu não queria estar na pele do juiz", disse. "A nós, da Infraero, só resta rezar." O brigadeiro comentou que, do ponto de vista da estatal, qualquer preço de venda da Varig maior do que zero estaria bom, na atual conjuntura. Ele duvidava, porém, se essa seria o melhor desfecho para o contribuinte brasileiro. O ministro da Defesa lembrou que o governo ajudou a Varig tanto quanto pôde. "Nós fizemos tudo o que foi possível, demos uma colaboração muito grande de tudo o que foi possível dentro da lei, para que não faltassem os insumos básicos para que a Varig continuasse operando", disse. Quem é o TGV O TGV foi criado em 2003 por um grupo de três associações de trabalhadores da empresa, representantes de pilotos (Apvar), comissários (Acvar) e mecânicos de vôo (Amvvar). No mesmo ano, as três associações criaram a NV Participações (sigla para Nova Varig), com capital social de R$ 4.500, e cujo objetivo específico era participar do capital da Fundação Ruben Berta. Nova Varig. Assessorada pelo economista Paulo Rabello de Castro e pelo advogado Jorge Lobo, o TGV sempre defendeu o uso de recursos do fundo de pensão Aerus para capitalizar a Varig. Coordenado por Márcio Marsillac, o grupo acumula histórias polêmicas dentro da empresa. No mês passado, o TGV foi autor de um dos três pedidos de empréstimo-ponte para capitalizar a Varig, junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES). A proposta, que dava como garantia operações de descontos na folha de salário dos funcionários e ações da própria Varig, foi rejeitada pelo BNDES, que considerou insuficientes as garantias. O TGV foi responsável por incluir no leilão a proposta de venda da Varig Operacional (unindo as áreas doméstica e internacional), pelo preço mínimo de US$ 860 milhões. O formato inicial previa apenas a venda da parte doméstica, isolada da internacional - que continuaria com as dívidas - por US$ 700 milhões. O grupo disputa poder político e a representatividade de funcionários com o Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), briga que já foi parar nos tribunais. Com base em uma liminar, o TGV é hoje o representante dos funcionários. O SNA alega que essa representatividade foi obtida com base em uma assembléia fraudada e acusa o TGV de conflito de interesses por defender interesses comerciais na NV. Na assembléia de credores que aprovou o plano de recuperação, em dezembro do ano passado, durante um bate-boca entre os dois grupos, um representante do TGV chegou a agredir fisicamente um dirigente do sindicato. Na proposta apresentada hoje no leilão, a NV contou com a assessoria da consultoria financeira Invest Partners, com quem tem contrato assinado desde dezembro do ano passado. Pelo contrato, a Invest Partners se propõe a buscar investidores para capitalizar a Varig e estabelece uma comissão de 2,5% a 4% sobre investimentos e descontos em financiamentos obtidos no mercado.

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