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Declínio no investimento chinês deve afetar Brasil, prevê FMI

Fundo avalia, no entanto, que país deve ser um dos menos afetados entre exportadores de commodities.

Por Pablo Uchoa
Atualização:

A China deve registrar um declínio na sua taxa de investimento nos próximos cinco anos, o que pode gerar um impacto negativo no crescimento dos países emergentes, entre eles o Brasil, indicam dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas, nos cálculos do FMI, o país pode ser um dos menos afetados pela desaceleração do gigante asiático, graças à sua base de exportações mais diversificada, ressaltou Abdul Abiad, responsável por conduzir as pesquisas que quantificaram tal impacto. A análise consta do novo capítulo do relatório Panorama Econômico Mundial (World Economic Outlook), divulgado nesta terça-feira. Os mais prejudicados, disse Abiad, seriam as economias asiáticas que estão interligadas na cadeia de suprimento da região, como Coreia, Malásia e Taiwan. Dependência A fórmula do FMI para medir este impacto combina o peso da China no total de exportações gerais de um país, com o ritmo de crescimento na formação de capital fixo dentro da China. Na última década, o gigante asiático elevou rapidamente a sua taxa de investimento em capital fixo, à medida que despontava para alcançar o posto de segunda maior economia do mundo. Com isso, o país passou a importar grandes volumes de maquinário e, posteriormente, grandes quantidades de matéria-prima, em especial minério de ferro. Segundo o FMI, essa taxa saltou de 35% do Produto Interno Bruto (PIB) chinês em 2000 para cerca de 48% do PIB dez anos depois. A média mundial está em 20%. A taxa brasileira oscila ao redor desse valor, devendo ficar em cerca de 21% neste ano. O problema é que, nas expectativas do Fundo, essa taxa de investimento deve voltar a se reduzir nos próximos anos e chegar a 45% em 2017. Para a entidade, a queda está relacionada a uma menor necessidade do país de comprar maquinário e a gradativa suspensão da política anti-cíclica diante da retomada da economia global. "Há dois grupos de economias emergentes e em desenvolvimento que seriam afetados. Primeiro, as economias asiáticas que estão interligadas na cadeia de suprimento da região, como Coreia, Malásia e Taiwan", disse Abiad. "O outro grupo são os exportadores de commodities, em particular de minério de ferro, ou que têm uma base produtiva menos diversificada, ou uma proporção mais alta de exportações para a China.", acrescenta. Impacto da redução Na análise da equipe liderada por Abiad, cada ponto percentual no declínio da taxa de investimento chinesa reduziria o crescimento brasileiro em cerca de 0,07 ponto percentual do PIB. Já países com uma base de exportações menos diversificada, como o Chile, o Zimbábue e a Arábia Saudita, sofreriam declínios de pelo menos 0,35 ponto percentual para cada ponto percentual de queda no investimento chinês. Nas economias da região, mais integradas à chinesa, o impacto de cada ponto percentual para baixo no investimento da China seria mais alto: corresponderia a 0,9 ponto percentual no caso de Taiwan e 0,6 ponto percentual nos casos da Coreia do Sul e Malásia, calcula o Fundo. Em 2001, as exportações do Brasil para a China respondiam por 3,2% do total das exportações brasileiras. No ano passado, essa proporção subiu para 17%. A China é, desde 2009, o principal parceiro comercial do Brasil. Nas contas do FMI, isso significa que, há dez anos, o volume vendido pelo Brasil para os chineses equivalia a cerca de 0,34% do PIB brasileiro e hoje equivale a 1,8%. Embora significante, o "mix" brasileiro de dependência é menos profundo que o de países que também exportam commodities, como o Chile, que destina 22% de suas vendas externas para a China, o que corresponde a mais de 7% do seu PIB. "Em contraste, exportadores até maiores de commidities, com economias mais diversificadas, como o Brasil e a Indonésia, experimentariam menores declínios", avalia o relatório. Efeitos não mensurados A ressalva dos especialistas é que, por definição, a análise mede apenas a influência da atividade no país asiático sobre o que o FMI chama de "canais diretos". A exposição indireta dos países através de cadeias de produção integradas, ou de preços mais baixos de commodities, não é levada em conta. Este segundo fator, contudo, é constantemente citado por economistas que alertam para os riscos da dependência brasileira da China, um país capaz de influenciar a formação de preços dos produtos básicos vendidos pelo Brasil no mercado externo. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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