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Dedini demite funcionários por carta

Metalúrgicos da fabricante de usinas receberam dispensa via Sedex, diz sindicato

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Por e José Maria Tomazela
Atualização:
De acordo com o sindicato, a companhia atrasou salários e rescisões contratuais Foto: Estadão

Envolvida numa crise sem precedentes, a indústria Dedini S/A, tradicional fabricante de usinas de cana-de-açúcar, com sede em Piracicaba, interior de São Paulo, demitiu 637 funcionários na quarta-feira. A empresa informou que as medidas estão sendo tomadas para "garantir a sobrevivência". De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos, foram cortados 367 trabalhadores da fábrica em Piracicaba e 270 da unidade de Sertãozinho, norte do Estado. O quadro restante da empresa, diz o sindicato, é agora de 1,3 mil funcionários. Muitos trabalhadores foram comunicados da dispensa por carta Sedex, segundo a entidade. O presidente do sindicato, José Florêncio da Silva, o "Bahia", disse que a empresa não informou previamente sobre os cortes. "Não digo que fomos apanhados de surpresa porque já sabíamos da situação da Dedini. Estamos preocupados com o pagamento dos direitos rescisórios, já que a empresa não se pronunciou a respeito." Segundo ele, 180 trabalhadores que foram demitidos entre dezembro passado e janeiro deste ano ainda não receberam todas as verbas. A companhia vive uma crise na esteira da enfrentada pelo setor sucroalcooleiro desde 2009. Além de seguidas greves e demissões nas unidades fabris, a companhia atrasou o pagamento de salários e rescisões contratuais, bem como, segundo o sindicato dos metalúrgicos de Piracicaba, deixou de depositar o FGTS por 50 meses. De acordo com a entidade, a Dedini realizou o pagamento dos salários somente para os metalúrgicos que recebem por hora. Os trabalhadores com o pagamento fixo mensal estão há quatro meses sem o recebimento integral dos vencimentos. No mês passado, para encerrar uma greve na unidade de Piracicaba, a Dedini se comprometeu a acertar os salários e a não demitir funcionários até o dia 5 de agosto, prazo encerrado justamente ontem, quando ocorreram os novos cortes. A empresa publicou ainda a convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) de acionistas para o dia 14 para avaliar "assuntos de natureza financeira da empresa no contexto atual de mercado", como análise de resultados e projeções de 2015 e 2016, por segmento de atuação.Bola de neve. O técnico em segurança do trabalho João Vicente Franco, de 53 anos, foi contratado pela Dedini de Piracicaba em 2003. Na quarta-feira, foi avisado da dispensa. Pai de dois filhos estudantes, uma garota de 15 anos e um rapaz de 20, que faz relações internacionais numa universidade privada, ele já está em busca de nova colocação. "A vida tem de continuar sem a Dedini", disse. Para Franco, trabalhar na empresa era um sonho de criança. "Cresci ouvindo falar bem da Dedini." Ele conta que as dificuldades começaram em 2008, quando o setor. "Começou com atraso no pagamento dos fornecedores, depois chegou nos funcionários. Acabou virando uma bola de neve." Franco sente ter saído da empresa em que viveu mais de uma década e onde ganhava um bom salário - R$ 4,3 mil mensais. "Só que, do jeito que estava, eu não via mais perspectiva para continuar." O presidente da Dedini, Sergio Leme, informou, em entrevista por e-mail ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, que as demissões ocorridas buscam adequar o quadro de funcionários à carteira de pedidos. "Também estamos buscando produtos e processos que possam agregar maior valor aos clientes, através de inovações, redução de custo e redesenho dos processos." Leme garantiu que os salários atrasados, um dos motivos de greves e paralisações nas unidades, têm sido regularizados com pagamentos semanais e que o FGTS "tem parcelamento em curso junto ao órgão competente". A unidade de Sertãozinho, fechada desde segunda-feira após o protesto dos trabalhadores, deve ser reaberta dia 10. A companhia, disse Leme, não tem planos definidos "até o momento" sobre um possível pedido de recuperação judicial para o reordenamento de seu passivo. A Dedini tem ativos seis vezes maiores do que o passivo com fornecedores, financeiros e trabalhistas. Fundada em 1920, a Dedini tornou-se líder mundial na fabricação de plantas de usinas. Nos últimos anos, afetada pelo fechamento de 60 usinas e pela situação de insolvência de outras 70, chegou a vender bens para quitar dívidas.

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