PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Déficit de confiança

Mesmo que o governo Dilma tivesse algum plano para conduzir o Brasil para fora da crise, dificilmente conseguiria liderar um movimento de recuperação

Foto do author Celso Ming
Atualização:

É muito baixa a probabilidade de que os principais problemas da economia sejam superados neste ano. Talvez não sejam nem no próximo. Confira:

PUBLICIDADE

A encalacrada fiscal tem tudo para se aprofundar. Como o professor Mansueto Almeida demonstrou na edição do Estadão desta terça-feira, o governo precisa de um aumento de arrecadação de R$ 160 bilhões para fechar suas contas deste ano, um volume altamente improvável de ser atingido, num cenário que aponta para direção contrária, para forte quebra de arrecadação.

O outro problema, principal causa do anterior, é a nova retração do PIB em 2016, de 3,01% para ficar com as últimas projeções registradas pelo Boletim Focus. Também não há ninguém no governo apostando em crescimento econômico. A produção industrial seguirá em queda livre. O único setor da produção que, apesar de tudo, continua avançando é a agropecuária. Mas ele não tem densidade para puxar a economia. (Pesa apenas 5% no PIB.)

Índice de Confiança do Empresário Industrial Foto: Infográficos|Estadão

Algumas forças vêm puxando para baixo a inflação. As duas mais importantes são a redução do consumo e o esgotamento do processo de ajuste dos preços administrados, aqueles que são reajustados de acordo com a determinação do governo. Mas a inércia continua forte. Em toda a economia, prevalecem os movimentos de defesa de empresários e de prestadores de serviços contra a perda de patrimônio, que acabam, por sua vez, realimentando a própria inflação. E há a ação da desvalorização cambial e do aumento de impostos, especialmente pelos Estados. Todas as projeções confiáveis são de que a inflação fechará o ano de 2016 acima do teto da meta. O Boletim Focus aposta em 7,26%.

O desemprego, que fechou o ano em 6,9% da força de trabalho, caminha rapidamente para os 10%. Este é um movimento inexorável, único jeito que têm a indústria e o setor de serviços de evitar a escalada de custos e o baixo dinamismo da demanda.

Publicidade

Além do agronegócio, já citado, o outro grande setor da economia em franca recuperação é o das contas externas. O rombo em conta corrente deve cair à metade neste ano e pode ser zerado em 2017. Mas é um setor que não tem tração suficiente para virar o jogo.

Nenhum desses problemas nem o conjunto deles seria suficiente para enterrar a economia, como está acontecendo, não fosse a dominância do mais grave deles: o da falta de confiança no comando da política econômica.

Nenhum dos grandes problemas da Argentina está resolvido e, no entanto, lá o jogo virou apenas porque o novo governo Macri conquistou a confiança dos argentinos e dos credores do país.

Por aqui, não há atuação desse fator porque o governo Dilma tende a seguir até 2018 sem estratégia. Até mesmo decisões inadiáveis, como a da reforma da Previdência, estão sendo recebidas com vaias e panelaços. E, mesmo que tivesse algum plano para conduzir o Brasil para fora da crise, dificilmente conseguiria liderar um movimento de recuperação que alargasse os horizontes e levasse o empresário a investir.

CONFIRA

Publicidade

Cotação do Dólar em reais Foto: Infográficos|Estadão

Aí está a evolução da cotação do dólar no câmbio interno desde janeiro.

Nova escorregada O dólar voltou ontem a enfraquecer. Fechou a R$ 3,9158, já mais perto dos R$ 3,90 do que dos R$ 4,00. Duas são as forças que puxam para baixo: a melhora das contas externas e a decisão do Fed de não retirar mais dólares do mercado, pelo menos por enquanto. Mas há duas puxando para cima: o agravamento das contas públicas e a iminência de novo rebaixamento da dívida brasileira, desta vez pela agência Moody’s. Difícil de prever quais forças prevalecerão.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.