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Déficit sim, contra a recessão

Por Alberto Tamer
Atualização:

Déficit ou depressão. Eis a questão. O que é melhor para os Estados Unidos e para o mundo, gastar mais do que arrecada para tirar a economia da recessão que só se agrava, ou guardar dinheiro nos cofres do Tesouro, por precaução? Enfrentar o presente ou prevenir o futuro? Estas são as perguntas que políticos e economistas excessivamente ortodoxos, quase sempre desligados da realidade, estão fazendo. A crítica: os governos que aceitam déficit maior no momento, estão se endividando e sacrificando gerações futuras. A resposta: e qual seria o destino dessas gerações se as economias americana e mundial entrarem em depressão por alguns anos? Não seria melhor gastar mais o que não tem,se endividando, e evitar o desemprego em massa que já está aí? Será possível que já se esqueceram da tragédia dos anos 30, quando a fome e a miséria se instalaram no mundo? A OPÇÃO CERTA DOS EUA Obama escolheu a opção certa ao anunciar corajosamente um déficit de US$ 1,75 trilhão, mesmo consciente de que representa12,3% do PIB. É muito, é grave? É, sim. É muito grave. Mas a outra opção, o avanço rápido para a depressão seria pior para os EUA e para o mundo, incluindo nós. Seria o caos por muitos anos. Será que ninguém mais se lembra da tragédia de desemprego, fome e miséria da década de 1930? Todos, absolutamente todos os indicadores dos últimos meses, das últimas semanas, dos últimos dias são mais assustadores do que esse déficit. Se o governo executar os projetos já aprovados, se vierem com urgência outros mais, como Obama já anunciou, a economia americana poderá crescer 1,2% neste ano (foi 1,1% no ano passado) e 3,1% no próximo. O déficit cairia para US$ 533 bilhões em 2013. São muito otimistas, afirmam alguns. Será? Talvez não, porque a nova equipe tem se mostrado transparente e responsável. A previsão é cautelosa. Parte de uma retomada gradual e lenta no decorrer dos próximos quatro anos. É realista, também, porque desta vez a injeção maciça de recursos está sendo encaminhada para setores que geram produção, emprego, demanda e crescimento. Os recursos que irão provocar o déficit atacam de frente o desemprego que já chega a quase 3 milhões de pessoas. Os recursos socorrem mutuários e famílias endividadas, abrem caminho para sair da recessão talvez ainda neste ano. E o mundo irá atrás porque é o mercado interno americano que absorve as suas exportações. Quase US$ 2 trilhões por ano. PODE HAVER RECUPERAÇÃO Bush e sua equipe econômica não tiveram tempo ou não quiseram fazer nada disso. Obama rompeu essa política que se revelou desastrosa. Busca com energia e sentido de urgência o fim do túnel. E há luz porque a economia americana ainda é suficientemente forte para voltar a crescer carregando as outras consigo. E não me digam, por favor, que estou exagerando. Basta ver que a economia da zona do Euro afundou mais na recessão porque suas exportações para os EUA despencaram. E ela afunda ainda mais na recessão. A China também está sendo seriamente atingida porque 19% das suas exportações de US$ 1,2 trilhão se destinam para os EUA. Mesmo livre da crise financeira, não vai crescer mais de 6% neste ano em confronto com 11% dos anteriores. A recessão começou nos EUA e eles são os únicos que nos podem tirar dela. E, pelo menos até agora, Obama está tentando fazer isso. Acertou ao optar por um déficit o gigantesco para evitar a depressão. E é por isso que deve ser seguido pelos países desenvolvidos que mergulham na recessão. E O BRASIL? Aqui nós estamos em situação melhor, mas desconfortável. Em janeiro, tínhamos ainda um superávit primário de 3,58% do PIB. Não é mal, mesmo estando um pouco abaixo da meta do governo de 3,8%. Mas há um sinal de aviso. Ele vem recuando mais rapidamente nos últimos meses. Em dezembro, anualizado, estava em 4%. Uma parte pode ser devido a gastos do governo que não foram controlados, mas outra decorre dos investimentos e redução de impostos destinados a sustentar a economia e enfrentar a recessão. Temos, portanto, um espaço ainda para continuar agindo sem que se agrave o risco de cair novamente nos déficits fiscais do passado. EUROPA DE NOVO... Aqui surge a União Europeia relutando de novo. Os países membros são punidos se tiverem déficit superior a 3% do PIB. Isso é coisa do passado. Estão proibidos, também, de terem um endividamento acima de 60% do PIB. A punição é a expulsão da zona do euro. Só que sete países já ultrapassaram esses limites, por enquanto, inclusive a Alemanha. Se as regras forem cumpridas, a zona do Euro simplesmente desaparece... Mesmo assim, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia insistem em mantê-las, apesar de um aprofundamento semanal na recessão. Os planos de estímulo à economia somente agora estão aparecendo, mas, com exceção da Grã-Bretanha, estão atrasados e poderiam ter sido úteis há cinco meses. Agora, não. Estão superados pelo agravamento da recessão que os governantes europeus, como Bush, só içaram olhando acontecer. *E-mail: at@attglobal.net

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