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‘Deixar Estados de fora é um equívoco grave’

Para economista, pode estar sendo perdida uma chance de ouro para uma mudança estrutural nas contas públicas

Foto do author Francisco Carlos de Assis
Por Francisco Carlos de Assis (Broadcast)
Atualização:

O presidente da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal, Felipe Salto, considerou decepcionante a retirada dos Estados e municípios da reforma da Previdência. Segundo ele, perde-se uma oportunidade de ouro para encaminhar uma mudança estrutural, que ajudaria os governos regionais a melhorarem, de maneira perene, suas finanças.

Mas, de maneira global, considerou positivo o relatório apresentado na quinta-feira, 13, pelo deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), ainda que desidratado. A IFI calcula que a proposta original do governo proporcionaria uma economia de R$ 997 bilhões em dez anos (o cálculo oficial do governo é de algo em torno de R$ 1,2 trilhão). Com o relatório apresentado, a projeção preliminar é de uma economia de R$ 740 bilhões. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Cumprimento do teto de gastos será um problema em 2022, diz Salto. Foto: Agência Brasil

No geral, qual a sua avaliação sobre o relatório sobre a reforma da Previdência apresentado na Comissão Especial?

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Dos males, o menor. Pelo menos há avanços do ponto de vista da sustentabilidade ao regime geral e aos servidores federais, mas deixar de fora os governos regionais (Estados e municípios) é um equívoco que custará bastante.

Por quê?

Essa foi a parte mais decepcionante, porque se perde uma oportunidade de ouro para encaminhar uma mudança estrutural, que ajudaria os governos regionais a melhorarem, de maneira perene, suas finanças. É preciso ter claro que as mudanças demográficas vão afetar os Estados e municípios da mesma forma que afetarão a União. Além disso, retiraram também a possibilidade de alíquota de contribuição extraordinária. Essa é uma alteração muito negativa.

Foi o ponto mais negativo da proposta?

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Esta é uma péssima sinalização. O ditado popular ilustra essa questão com aquela imagem de entrega dos anéis para não perder os dedos, mas talvez se trate de uma mutilação, neste caso. É preocupante. O plenário pode reverter, o que seria um alento, mas o fato é que retirar os governos regionais da PEC e acabar com a possibilidade de alíquota extraordinária vai na direção oposta do que se esperava: criar mecanismos de cima para baixo que ajudassem a dar instrumentos para os governos regionais executarem o ajuste fiscal de maneira efetiva.

A retirada do BPC (benefício de prestação continuada, o auxílio a idosos miseráveis) e das mudanças na aposentadoria rural, como a oposição queria, pode ajudar a reforma a passar?

É natural que a desidratação tivesse se concentrado nesses pontos. Neste caso, os ajustes eram esperados e podem até facilitar a tramitação da proposta, o que me parece positivo. O maior problema está mesmo na não aplicação direta da reforma para Estados e municípios. Um ponto adicional que gostaria de colocar é que a discussão está toda fora de lugar. Fala-se muito em efeito fiscal em dez anos, quando Previdência é um tema que deve ser discutido sob uma perspectiva de longo prazo.

Confirmadas as idades mínimas de 62 anos para mulheres e 65 para homens, o sr. acha que o ponto mais embaraçoso da reforma está solucionado?

Sem dúvida, está-se avançando. Veremos os efeitos líquidos, nos próximos dias, em estudos que já estão sendo preparados pela IFI sobre pontos específicos.

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