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''Demanda por minério vai continuar em alta''

Por Chiara Quintão e AGÊNCIA ESTADO
Atualização:

Entrevista Roger Agnelli Presidente da Vale

CV: Formado em Economia pela Fundação Armando Álvares Penteado, Roger Agnelli assumiu a presidência da Vale em 2001. Antes, trabalhou no Bradesco de 1981 a 2000, chegando a diretor executivo em 1998, aos 42 anos. Foi o mais jovem a assumir esse cargo no banco.

Num momento em que o mercado está se adaptando ao novo modelo de reajuste de preços do minério de ferro, agora baseado em cálculos trimestrais, feitos com base na média das cotações no mercado à vista (spot), a Vale, maior empresa de minério de ferro do mundo, espera continuidade de preços em patamares elevados para a commodity, diante do cenário apertado de oferta e procura.

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O presidente da companhia, Roger Agnelli, admite que pode haver algum ajuste nos preços, mas afirma que a matéria-prima terá mercado "muito forte" nos próximos dois anos. "Nós estamos otimistas", disse. A companhia, que anunciou investimentos de US$ 12,9 bilhões para este ano, pretende manter o crescimento orgânico como sua principal aposta para se expandir nos próximos anos nas suas principais áreas de atuação - minério de ferro, níquel, fertilizantes, cobre e carvão.

O executivo, porém, não descarta a aquisição de ativos, se julgar que os retornos valem a pena. Recentemente, a Vale comprou 51% da BSG Resources, que detém concessões e licenças de exploração de minério na Guiné, na África. "É o único ativo do mundo com qualidade semelhante à de Carajás", afirmou Agnelli.

Nos últimos anos, a companhia tem investido também em siderurgia no Brasil. A ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), por exemplo, parceria entre a Vale e a ThyssenKrupp, será inaugurada em julho, no Rio de Janeiro, com capacidade de produção anual de cinco milhões de toneladas de placas de aço. Agnelli afirmou que os avanços das siderúrgicas brasileiras em mineração não preocupam a Vale, pois as empresas ainda precisarão do minério da companhia. Segundo ele, a verticalização do setor siderúrgico não deixa de ser "um pouco de moda". A seguir, os principais trechos da entrevista:

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Apesar do cenário de preços elevados do minério de ferro, já se considera a possibilidade de interrupção das altas dos preços da commodity no mercado à vista (spot) no terceiro trimestre, o que, se confirmado, resultará em estabilidade ou queda dos preços nos contratos a serem fechados para o quarto trimestre. Na sua avaliação, até quando o movimento de alta de preços do minério vai se sustentar?

Sempre tem gente achando alguma coisa para o futuro. Temos de viver o futuro, chegar lá. Para os próximos dois anos, certamente, o minério vai ter um mercado muito forte, mas a questão de oferta e procura é que vai regulá-lo. A demanda por minério ainda é superior à capacidade de produção, então acredito que os preços continuam firmes. Como disse, tem muita gente que acha muito, com antecipação, e geralmente erra. Nós estamos otimistas.

Então vocês não estão esperando quedas de preços para este ano ou início de 2011?

Pode haver algum ajuste, porque os preços tiveram elevação muito forte nos últimos 12 meses, mas não vemos nada significativo. Pelo contrário, a tendência ainda é de crescimento de demanda por minério.

Se houver ajustes, isso vai se refletir também nos preços fechados para os contratos?

O ajuste pode ser para baixo ou para cima, não é?

Diante dos elevados preços do minério, o interesse das siderúrgicas pela commodity tem aumentado. A Vale está preocupada com o risco de concorrer com seus clientes?

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Não vemos isso como preocupação. Temos os melhores ativos, as melhores reservas, as melhores minas. A siderurgia, por mais verticalizada que for, vai precisar do minério da Vale. As siderúrgicas estão ganhando muito dinheiro e, evidentemente, têm preocupação de que haja aumento muito forte de produção, então direcionam o capital para outras atividades. E a verticalização da siderurgia é um pouco de moda também.

Um pouco de moda?

É como a diversificação, tem épocas em que todo mundo foca no "core business" e outras em que os grupos diversificam. Passam alguns anos, e todo mundo volta a focar no principal negócio. A Vale está focada no negócio dela, que é a mineração.

E os investimentos da Vale em siderurgia?

O mundo está muito desbalanceado, com metade da produção de aço do mundo na China. Entendemos que o Brasil é o melhor lugar para se produzir aço, então temos estimulado parcerias com nossos clientes para aumentar a produção aqui. Em julho, estaremos inaugurando a ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), no Rio, parceria da Vale com a ThyssenKrupp.

Recentemente, vocês venderam ativos de alumínio e bauxita para a norueguesa Norsk Hydro. Vocês vão deixar de atuar nesse segmento?

Não. A indústria de alumínio tem passado por uma forte reestruturação nos últimos anos e, hoje, os grandes produtores no mundo são integrados. Fizemos um novo grande player na indústria do alumínio. Integralizamos os ativos de bauxita e alumínio na Norsk Hydro, empresa que tem acesso a energia barata tanto na Noruega quanto na Arábia Saudita. Se a Hydro crescer em alumínio, nós crescemos junto. Os investimentos no Brasil estão preservados.

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Vocês pensam em sair de algum setor?

Devemos sair de caulim. Esse é um segmento que não cresce, então se trata de remanejamento de ativos, em que a empresa sai de um e se concentra mais em outro.

Na última década, a Vale cresceu bastante com aquisições. Daqui para a frente, a expansão da companhia vai ser baseada mais em aquisições ou em crescimento orgânico?

Compramos a Inco e fizemos aquisições menores no começo da década, com concentração em minério de ferro, mas nos expandimos mais pelo crescimento orgânico. Essa continua sendo a prioridade. Aquisições serão oportunísticas. Se tivermos chance de comprar alguma coisa a um preço convidativo que, em comparação aos projetos que temos, apresente retorno mais alto, vamos buscar. O negócio é criar valor.

E a aquisição de ativos de minério na Guiné?

A aquisição que fizemos recentemente na África, de 51% da BSG Resources, foi muito importante em termos de diversificação geográfica e pela qualidade do ativo localizado na Guiné. É o único ativo do mundo com qualidade semelhante à de Carajás. A princípio, nossa visão é de que as reservas são muito grandes. A África é o novo horizonte de crescimento de produção de recursos naturais.

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