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Demitidos acumulam dívidas

Na Refinaria Abreu e Lima, operários acusam a Petrobrás de não ter fiscalizado suas contratadas

Por Angela Lacerda e IPOJUCA (PE)
Atualização:

Acampados desde segunda-feira em frente ao Consórcio Coeg, contratado da Refinaria Abreu e Lima, trabalhadores demitidos e ainda ativos - mas em greve - acumulam mágoas e revolta contra a empresa e contra a Petrobrás. Sem pagamento de indenizações, com salários atrasados, cortes dos planos de saúde e muitas dívidas, eles responsabilizam a Petrobrás por falhas na fiscalização dos direitos e segurança trabalhistas e pela situação que enfrentam. "É a Petrobrás, que tem a obrigação de fiscalizar a obra, que tem a responsabilidade de cobrar da empresa", acusam. Na sexta-feira, cerca de 50 operários se reuniram em torno de um caldeirão onde se cozinhava uma feijoada rala em um fogo feito com galhos de árvores, na área de acesso do consórcio, no complexo industrial e portuário de Suape, em Ipojuca. A refeição foi bancada por uma cota de R$ 2 e com R$ 100 doados pelo Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem em Geral no Estado de Pernambuco (Sintepav-PE). "Este é o tratamento que se dá ao trabalhador brasileiro", disse José Santos, um dos dispensados. Demitido em dezembro, o instrumentista carioca André Luís Passos Silva, de 44 anos, estourou o limite do crédito especial e está com ordem de despejo para entregar a casa alugada em Nossa Senhora do Ó, em Ipojuca. "Estou dormindo no chão e tenho passado fome", afirmou ele, constrangido. "Não tenho um tostão." Casado e pai de uma filha de oito anos, ele veio para Pernambuco, com a família, há um ano. O salário bruto era de R$ 3,6 mil. André chegou a voltar para o Rio depois da demissão, mas diante da falta de pagamento voltou. "Se não fizermos pressão, não vamos receber o que é devido." Separado, o encanador industrial Admílson Aquino de Oliveira, de 39 anos, paga pensão alimentícia de três filhos menores, num total mensal de R$ 550. Ele trabalhava no Coeg desde outubro de 2012 e recebia R$ 2,4 mil brutos mensais. Demitido, não recebeu sua indenização e não paga a pensão há dois meses. "Estou sem dormir", disse ele. "Se eu for preso vou sujar minha ficha, não vou ter como arrumar emprego, vou ter minha imagem denegrida", afirmou. "E tem o psicológico, como será ficar junto com todo tipo de delinquente na cadeia?" "A mãe das crianças já entrou na Justiça uma vez, mas consegui pagar em tempo", contou. Admílson mora com sua companheira no município metropolitano de Jaboatão dos Guararapes. Deve ao Banco do Brasil, onde contraiu um empréstimo de R$ 2,5 mil para pagar dívidas - "por falta de pagamento ao banco minha dívida já chegou a R$ 4 mil" -, além de ter atrasado a prestação de um consórcio para aquisição de um carro. "Está muito difícil."

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