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Depois da Grécia, Itália vira alvo do mercado

Na avaliação dos analistas, o governo liderado por Silvio Berlusconi ainda não conseguiu elaborar um pacote de austeridade convincente

Por JAMIL CHADE , CORRESPONDENTE e GENEBRA
Atualização:

A Itália escancarou ontem a fragilidade do pacote de resgate da Europa e, depois da Grécia, passou a ser o novo alvo da tensão dos mercados. Um dia depois da euforia das bolsas por causa do acordo que previa o calote parcial de Atenas, a suposta blindagem da União Europeia (UE) e a recapitalização dos bancos, governos e os mercados passaram a questionar a falta de detalhes sobre como implementar o pacote. A confiança de que esse seria o acordo que daria uma solução à crise começou a desmoronar. Detalhes do pacote não conseguiram ser negociados pelos países da UE e uma série de dúvidas ainda paira sobre como os bancos conseguirão captar 106 bilhões que precisam pelas novas regras. A principal dúvida é sobre a capacidade da Europa de levantar mais de 1 trilhão para seu fundo que servirá para frear um contágio generalizado da crise. Ontem, a UE deixou claro que nem mesmo a opção chinesa - convencer Pequim a investir no fundo - parecia uma solução no curto prazo. O diretor do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef), Klaus Regling, visitou potenciais investidores na China. Mas admitiu que o dinheiro não viria automaticamente. Por meio de sua imprensa oficial, Pequim também deixou claro que a UE não poderia depender de "caridade" e que a responsabilidade pela solução da crise era mesmo da Europa. Pequim ainda alertou que só tomará uma decisão depois de saber todos os detalhes do plano. A China ainda impõe condições para participar do resgate e quer garantias de que seus investimentos serão protegidos. "Precisamos esperar até que a estrutura do fundo esteja extremamente clara", afirmou o ministro de Finanças da China, Zhu Guangyao.Uma posição similar foi adotada pelo Japão. Em declaração ao Financial Times, o primeiro-ministro japonês, Yoshihiko Noda, afirmou que gostaria de ver "um esforço maior" dos europeus e pediu mais detalhes do plano. Sua principal preocupação era com um eventual contágio da crise. "O fogo não está deste lado do rio. Hoje, o mais importante é garantir que isso não se espalhe pela Ásia e pela economia global", disse. Atualmente, 20% dos papéis emitidos pelo Feef foram comprados por Tóquio.O reflexo dessas incertezas foi traduzido na tensão do mercado em relação à Itália, que ontem foi ao mercado vender bônus no valor de 8 bilhões - mas só conseguiu vender 7,9 bilhões no sufoco. Mas a iniciativa foi só o primeiro teste do apetite do mercado e acabou sendo frustrada. O risco país bateu novos recordes, em um sinal claro de que o mercado não acredita que a UE arrecadará 1 trilhão para seu fundo que impediria uma crise na Itália. Apesar das intervenções do Banco Central Europeu, a Itália foi obrigada a pagar mais de 6% em um leilão de seus papéis soberanos ontem, uma taxa jamais cobrada ao país.Analistas apontam que, cada vez mais e diante do calote já da Grécia, a Itália passou a ser um ator decisivo na crise. Até agora, a terceira maior economia da zona do euro não conseguiu aprovar um pacote de austeridade que convença os mercados. O primeiro-ministro Silvio Berlusconi prometeu um novo pacote para 15 de novembro. Mas poucos acreditam que o plano terá qualquer impacto.O que mais preocupa os mercados é que, em 2012, a Itália terá de rolar 300 bilhões de sua dívida, que hoje atinge 1,9 trilhão. Bruxelas teme que, se Roma for engolida pela crise, o euro não sobreviveria. Ontem, ações dos bancos italianos chegaram a cair 4% e o Unicredit admitia que não entendia que interesse a China teria em investir em um fundo europeu que serviria para resgatar o continente.Berlusconi não contribuiu para desfazer as dúvidas: chamou o euro de uma "moeda estranha que não convenceu ninguém". As bolsas refletiram as dúvidas sobre o plano. Depois de uma quinta-feira de euforia, Londres fechou ontem em baixa de 0,2%, Paris com queda de 0,5% e Frankfurt perdeu 0,2%. A Espanha também foi alvo do voto de não-confiança dos mercados em relação ao pacote, com seu spread sofrendo uma alta importante.

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