Depois de realizar o sonho de conhecer a Espanha no ano passado, Maria dos Anjos Gonçalves de Oliveira, mãe de duas filhas e auxiliar administrativa numa empresa de limpeza, colocou o pé no freio nas compras neste ano. A viagem para Madri, Barcelona e Valência era um projeto antigo que a fez poupar cerca de R$ 10 mil durante algum tempo para poder torná-lo realidade. Se fosse hoje, com certeza, isso não seria possível.
"Agora não tenho nenhuma reserva financeira", conta Maria dos Anjos, que ganha cerca de R$ 2 mil por mês. "Não estou comprando nada de extraordinário, só fazendo a despesa básica do supermercado e pagando as contas de água e luz", exemplifica.
A auxiliar administrativa reconhece que a reviravolta nas finanças ocorreu nos últimos meses por causa da disparada da inflação dos alimentos. Maria dos Anjos conta que mudou o cardápio da família para poder conseguir servir todas as refeições do dia.
"Antes ovo era só para fazer bolo. Hoje é mistura, assim como sardinha em lata, bolinho de batata", diz ela. "As minhas filhas até aprenderam a comer polenta", acrescenta. A auxiliar diz que antes costumava comprar uma peça de filé mignon para fazer bife. Agora o prato mais comum é o escondidinho. "O escondidinho esconde até a falta de carne", brinca.
2014. O carteiro Carlos Eduardo da Silva, de 40 anos, é outro que não vai voltar tão cedo às compras. "Não vou comprar nada antes do fim do ano. Compras só em 2014", diz Silva.
Casado e pai de uma filha, Silva tem renda familiar de R$ 3 mil e atualmente está inadimplente em R$ 6,5 mil. A dívida pendente foi contraída para a reforma do apartamento.
Ele diz que ficou inadimplente porque perdeu o emprego e teve dificuldade para quitar as prestações. Faz quatro meses que ele voltou a trabalhar como carteiro e agora quer regularizar a sua situação financeira porque acaba de passar num concurso nos Correios, onde vai ocupar um cargo melhor e terá uma salário maior.
Também inadimplente em quase R$ 1,4 mil, o motorista de caminhão Rivaldo Pereira Silva, de 42 anos, é outro que está evitando assumir novas prestações. "Cancelei os cartões de crédito, não tenho cheque e agora quero renegociar a dívida."/ M.C.