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Depois de Brumadinho e com coronavírus, Vale avalia como aumentar produção

Em 2019, ano do rompimento da barragem de Brumadinho, a Vale amargou uma queda de 21,5% na sua produção

Foto do author Fernanda Guimarães
Por Fernanda Guimarães e
Atualização:

SÃO PAULO/RIO - Após fechar o ano da tragédia de Brumadinho no vermelho por conta de provisões de despesas e baixas contábeis, a Vale inicia o ano com o desafio de  lidar com resquícios do passivo do desastre e com os efeitos do coronavírus, que ataca o setor de commodities. A produção de 355 milhões de toneladas de minério de ferro pela Vale neste ano é factível, mas tem mais risco, admitiu há pouco o diretor-executivo de Ferrosos da mineradora, Marcello Spinelli, em teleconferência com analistas e investidores. O volume é o topo da meta estabelecida pela companhia para 2020, que tem como piso 340 milhões de toneladas. 

Em 2019, ano do rompimento da barragem de Brumadinho, a Vale amargou uma queda de 21,5% na sua produção, para 301,97 milhões de toneladas. Com isso, a  brasileira perdeu a posição de maior produtora global de minério de ferro para a anglo-australiana Rio Tinto, que produziu 326,7 milhões de toneladas da commodity. O presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, afirmou que 2019 foi o ano mais difícil da história da Vale.

A Valeperdeu a posição de maior produtora global de minério de ferro para a anglo-australiana Rio Tinto Foto: FABIO MOTTA/ESTAD?O

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Na semana passada, mesmo após intensas chuvas em Minas Gerais que afetaram a produção da companhia em cerca de 1 milhão de toneladas, a Vale manteve sua projeção de produção de finos de minério e pelotas para este ano. Além disso, no relatório de resultados divulgado ontem, a mineradora chama atenção para os riscos relativos a incertezas geradas pelo coronavírus. 

“O preço do minério de ferro pode ser impactado no curto prazo por tais incertezas e pelo sentimento geral, mas deve se recuperar, em resposta à atividade de reestocagem e políticas de estímulo”, diz o texto enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). 

Hoje Spinelli destacou que apesar dos temores relacionados ao coronavírus, a mineradora segue operando em todos os portos na China. Ele afirmou que a companhia teve a oportunidade de recompor seus estoques, mesmo diante da preocupação da capacidade de obtenção de crédito por parte de seus clientes asiáticos. Segundo ele, a companhia tem suas vendas alocadas para seus clientes na China pelos próximos 30 dias.

A percepção, segundo o executivo, é de que os casos de doença estão em declínio e que os casos de cura já superam os infectados neste momento. No entanto, reconhece o impacto do vírus na economia mundial, especialmente na China, principal fabricante de aço do mundo e, portanto, maior destino do minério da Vale.

A Vale trabalha para restabelecer 40 milhões de toneladas de produção de seu principal produto paralisadas por determinação de autoridades após a ruptura da barragem que deixou 270 mortos e um rastro de destruição em Minas Gerais. Antes do desastre a empresa esperava atingir a marca de produção de 400 milhões de toneladas anuais de minério no ano passado. Agora, o plano foi adiado para 2022.

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O diretor-executivo de Ferrosos da Vale disse hoje que a retomada da produção na mina de Brucutu, em Minas Gerais, poderá ocorrer no segundo trimestre do ano, se não forem identificada anomalias na barragem de Laranjeiras. No entanto, se forem necessários ajustes na barragem, a mina voltará a operar plenamente no segundo semestre do ano.

"Esperamos terminar a investigação até o fim de março", comentou. Brucutu opera hoje com 40% de sua capacidade. Na mina de Timbopeba, a companhia já tem autorização e deverá voltar a operar no final de março e a fábrica no segundo semestre. Em dezembro a Vale anunciou a decisão de suspender a disposição de rejeitos de Brucutu na barragem Laranjeiras, para avaliar suas características geotécnicas. 

Samarco

A retomada das operações da Samarco, joint-venture entre a Vale e a BHP Billiton, segue prevista para o fim deste ano, mais provavelmente no mês de dezembro. Segundo o diretor-executivo de Finanças da Vale, Luciano Siani, a ideia é começar com uma produção anual de 8 milhões de toneladas ao longo de 2021, já que a unidade deverá operar com apenas um de três concentradores.

As atividades da fabricante de pelotas Samarco estão paradas desde o rompimento da barragem da empresa em Mariana (MG), em novembro de 2015.

Provisões

O relatório de resultados divulgado ontem pela Vale revelou que o fantasma das incertezas sobre despesas decorrentes do desastre de Brumadinho ainda rondam a empresa. Segundo o documento, com base nos termos atuais em discussão com o governo de Minas Gerais e Ministério Público, "um potencial acordo poderia resultar em uma provisão adicional variando de US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões" (R$ 4 bi a R$ 8 bi).

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Na teleconferência realizada nesta sexta-feira, Siani afirmou que só vai separar esses recursos para um eventual gasto se houver em contrapartida a suspensão de ações civis públicas contra a empresa pelas autoridades.

"Estamos avaliando esse novo pacto com a sociedade. A avaliação é que vale a pena realizar esse esforço adicional para obter a suspensão das ações", afirmou Siani em teleconferência a analistas. A empresa ainda não está provisionando agora porque vê o acordo como "possível", mas as condições ainda não estão dadas. Em 2019 as despesas da Vale relacionadas a Brumadinho somaram US$ 7,402 bilhões (R$ 28,8 bilhões).

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