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Depois de criticar governo, Troster deixa a Febraban

O economista chefe da Febraban chegou a afirmar que as medidas para reduzir o spread bancário eram uma "manobra diversionista"

Por Agencia Estado
Atualização:

Onze dias depois de criticar as medidas do governo para reduzir o spread bancário - diferença entre os juros de captação e as taxas cobradas nos empréstimos - o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Roberto Luis Troster, que estava no cargo há cinco anos, comunicou sua saída da instituição. Na época, Troster havia atacado duramente as medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista ao Estado. Ele chegou a afirmar que elas eram uma "manobra diversionista", que não levariam à redução significativa das taxas cobradas do consumidor. "Se o governo quisesse discutir seriamente a questão, começaria sendo mais transparente na divulgação das informações sobre crédito", disse Troster, que revelou ainda que o Banco Central distorce os números de spread e taxas de juros do sistema financeiro, pois não inclui no cálculo grande parte das operações de empréstimos feitas pelos bancos - as do crédito direcionado. Um terço das operações de crédito do sistema financeiro é direcionado para agricultura, habitação, exportação e financiamentos do BNDES. "O que interessa, o que tem de ser feito para valer, a Fazenda não faz, que é eliminar os impostos explícitos e implícitos e reduzir o compulsório. Desafio que alguém prove a necessidade de compulsórios tão altos para se obter sucesso na política monetária", afirmou Troster na ocasião. Após as declarações de Troster, a Febraban desautorizou o pronunciamento de seu economista-chefe. Em nota, disse que Troster não falou em nome da federação. "A Febraban acredita que as medidas vão na direção correta, mas precisam ser complementadas pela redução da alíquota do compulsório e da cunha fiscal", disse a Assessoria de Imprensa da entidade. Mantega diz ter ficado ´surpreso´ com declarações Mantega também reagiu às declarações de Troster e disse ter ficado "surpreso" com a declaração do economista-chefe da Febraban. "A declaração foi inoportuna e alguns decibéis fora do tom. Ele nem conhece as medidas e já está dizendo que não vão funcionar", rebateu Mantega. Segundo Mantega, o presidente da Febraban e do Bradesco, Márcio Cypriano, telefonou naquele dia para ele e desautorizou a declaração de Troster. "Cypriano afirmou que a Febraban quer colaborar com as ações do governo para redução do spread." O Banco Central também divulgou uma nota após as declarações de Troster em que afirma que considerava "totalmente improcedentes" as afirmações do economista-chefe. A nota enfatizava que, desde de junho de 2000, o BC vem fornecendo informações detalhadas sobre spread bancário nas notas para a imprensa divulgadas mensalmente sobre política monetária e operações de crédito do sistema financeiro. Análise O colunista Celso Ming já apontava que a aparente confusão revelava muito mais do que parecia. Segundo ele, havia três novidades na troca de chumbo entre Febraban, Banco Central e Ministério da Fazenda. A primeira era a contundência das declarações do economista Troster. "Banqueiro não gosta de enfrentamento público", disse. A segunda foi a maneira como a Febraban desautorizou as declarações. E, terceira, teria sido a primeira vez que o ministro da Fazenda e o BC teriam respondido a declarações pessoais. Eles sabiam que Troster já havia sido desautorizado. "Isso significa que nem Fazenda nem BC acreditaram que Troster falou por iniciativa própria. Isso mostra que o tema spread bancário vai contrariar muitos interesses fora e dentro do governo", avaliou.

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