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Deputado Ivan Valente propõe processo na Comissão de Ética para apurar fala de chefe da Susep

Para o parlamentar, a declaração da Superintendente da Susep é incompatível com a moralidade pública e fere o Código de Conduta da Alta Administração

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Por Julia Lindner
Atualização:

BRASÍLIA - O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) propôs um processo na Comissão de Ética da Presidência da República para apurar possível desvio de conduta da superintendente de Seguros Privados (Susep), Solange Vieira. Na quinta-feira, 28, o Estadão/Broadcast mostrou que Solange, segundo relatos, afirmou que a concentração da doença principalmente em idosos poderia ser positiva para melhorar o desempenho econômico do Brasil ao reduzir o rombo nas contas da Previdência. A fala teria ocorrido durante reunião no Ministério da Saúde, em 17 março. Ela nega.

O deputadoIvan Valente (PSOL-SP) Foto: Gabriela Biló|Estadão

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Para o deputado Ivan Valente, a declaração da Superintendente da Susep é incompatível com a moralidade pública e fere o Código de Conduta da Alta Administração.

“Definitivamente a falta de solidariedade, a insensibilidade e indiferença com a vida de milhares de brasileiros aos quais deveria servir não são condizentes com o decoro e a integridade exigidos para o exercício de qualquer cargo público. Trata-se de conduta que compromete gravemente o respeito e a confiança do público em geral, exatamente o contrário dos objetivos almejados pelo Código de Conduta da Alta Administração.

O parlamentar também considera que a postura de Solange é compatível com a do presidente Jair Bolsonaro, que se posiciona contra medidas amplas de isolamento social. Ele argumenta que, embora Bolsonaro não possa ser forçado a adotar medidas necessárias para o enfrentamento à pandemia, é preciso “impedir que sua insensibilidade e indiferença com o sofrimento da população brasileira seja naturalizado e reproduzido por aqueles que ocupam os mais altos cargos da República”.

“O relato trazido pela matéria corrobora a postura oficial do Chefe do Poder Executivo em relação à pandemia. Questionado, diversas vezes sobre as mortes resultantes da disseminação do coronavírus no país, o Presidente reagiu com chacotas e falas absolutamente incompatíveis com a dor suportada por milhares de famílias brasileiras e com o exercício do cargo que ocupa”, disse Valente.

Como mostrou o Estadão/Broadcast, a fala de Solange foi dita em reunião fechada da qual participou o epidemiologista Julio Croda, então chefe do departamento de imunização e doenças transmissíveis do ministério, e outros integrantes da pasta. Ele confirmou ao Estadão o teor da fala.

A informação foi endossada também por outros dois integrantes do Ministério da Saúde, sob condição de anonimato, que participaram do encontro, e por outra fonte que afirmou ter tido conhecimento da fala através de colegas.

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Segundo Croda, Solange afirmou: "É bom que as mortes se concentrem entre os idosos. Isso vai melhorar nosso desempenho econômico, pois reduzirá nosso déficit previdenciário". A fala foi inicialmente divulgada em reportagem da agência Reuters.

Resposta da Susep

Em nota, a assessoria de imprensa da Susep, que é subordinada ao Ministério da Economia, disse que as declarações de Julio Croda atribuídas a Solange Vieira são "improcedentes". Segundo o texto, Solange foi ao Ministério da Saúde para "contribuir com os modelos de projeção decorrente da pandemia de covid-19 utilizados por aquela pasta". 

Ainda de acordo com a nota da Susep, "na ocasião, foram observados os cenários apresentados e seus impactos, com foco sempre na preservação de vidas". "A economista declara seu repúdio a toda e qualquer ilação que impute a alguma análise proferida juízo de valor em sentido contrário ao direito à vida e à saúde para todos, de qualquer idade, a qualquer tempo.Medidas legais cabíveis sobre o assunto estão sendo analisadas." 

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