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'Deputados dos Estados Unidos têm visão deturpada', diz Nestor Forster

Encarregado de negócios da embaixada brasileira em Washington rebateu Comissão de Orçamento e Assuntos Tributários da Câmara, que disse se opor a um acordo comercial com o Brasil

Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla e correspondente
Atualização:

WASHINGTON - O encarregado de negócios da embaixada brasileira em Washington, Nestor Forster, rebateu a Comissão de Orçamento e Assuntos Tributários da Câmara dos Estados Unidos, que na semana passada disse se opor a um acordo comercial com o Brasil. 

Em uma carta ao representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, 24 deputados – incluindo o presidente do colegiado, Richard Neal – afirmaram que o presidente Jair Bolsonaro é “um líder que desconsidera o estado de direito e tem desmantelado árduo progresso nos direitos civis, humanos, ambientais e trabalhistas” no País.

Nestor Forster disse ainda que a afirmação sobre Bolsonaro é 'errônea'. Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Na resposta enviada aos deputados, Forster escreveu que a afirmação sobre Bolsonaro é “errônea, que parece se basear em deturpações e desinformação”. O embaixador afirmou que o documento elaborado pelos parlamentares contém informações “bastante imprecisas e incorretas”. 

A aproximação do atual governo brasileiro com os EUA tem encontrado no Capitólio um foco de resistência que ganhou musculatura desde a repercussão internacional dos incêndios na Amazônia. Com a eleição de Bolsonaro, parlamentares democratas da ala progressista passaram a demonstrar preocupação com a situação da democracia, direitos humanos e proteção ambiental no Brasil. A articulação ganhou força no segundo semestre do ano passado, com a alta nas queimadas na Floresta Amazônica.

Na ocasião, as movimentações passaram a ter caráter formal, em tom de resolução interna, e a contar com o respaldo de parlamentares considerados moderados dentro do partido. Desde novembro de 2018, a Câmara dos Deputados é de maioria democrata, de oposição a Donald Trump, de quem o governo Bolsonaro se declara aliado.

Facilitação

O Brasil tem ambição de concluir, até o fim do ano, um pacote de facilitação de comércio com os Estados Unidos – que não envolverá acordo sobre tarifas. Os deputados da Comissão de Orçamento, no entanto, mostraram forte objeção à continuidade das negociações entre os dois governos. 

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Os deputados argumentam que o governo Bolsonaro “não pode ser considerado preparado para assumir novos padrões de direitos trabalhista e ambiental previstos no acordo EUA-México-Canadá”. O formato e as condições do acordo dos EUA com os vizinhos do Hemisfério Norte, na remodelação do Nafta, é usado de arcabouço para as negociações com o Brasil. 

Forster afirmou a Neal que “muito ao contrário do que sua carta afirma, o Brasil manteve, sob o governo Bolsonaro, um sólido histórico de respeito aos direitos humanos e trabalhistas, além de proteção da dignidade dos trabalhadores”. “As leis trabalhistas abrangentes e protetoras do Brasil, em muitos aspectos, oferecem direitos ainda mais amplos ao trabalhador médio do que em outros países, incluindo os EUA. Muitos desses direitos estão consagrados em dispositivos constitucionais, que permanecem intactos”, escreveu o embaixador.

Amigo de longa data do escritor Olavo de Carvalho, Forster foi o responsável por levar o hoje chanceler, Ernesto Araújo, para conhecer o escritor e espécie de guru do governo Bolsonaro, que vive em Virgínia.