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Derrotado no Senado, governo dos EUA decide ajudar montadoras

Após socorro de US$ 14 bilhões ser rejeitado, governo Busch estuda usar recursos do pacote para os bancos

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Por Fernando Dantas
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O governo americano decidiu agir por conta própria para amparar as montadoras norte-americanas de automóveis, depois que o Senado negou-se a aprovar o pacote de ajuda de US$ 14 bilhões que havia recebido o sinal verde da Câmara na quarta-feira. Em meio ao abalo que a rejeição do pacote provocou nas bolsas mundiais, porta-vozes da Casa Branca e do Tesouro sinalizaram que o governo está estudando saídas para evitar o colapso da General Motors e da Chrysler, incluindo a possibilidade de usar recursos do pacote de US$ 700 bilhões de apoio ao setor financeiro - o chamado "Plano de Alívio de Ativos Problemáticos", ou Tarp, na sigla em inglês. Dana Perino, porta-voz da Casa Branca, declarou que "em condições normais, nós preferiríamos que os mercados determinassem a sorte definitiva de empresas privadas; porém, considerando a fraqueza atual da economia americana, nós vamos considerar outras possibilidades, incluindo o Tarp, para evitar um colapso". A disposição do governo americano de ajudar foi determinante para a recuperação dos mercados na tarde da sexta-feira. O presidente eleito, Barack Obama, lamentou o fracasso no Senado do plano emergencial de apoio às montadoras. Ele disse compreender a frustração com "décadas de má administração em Detroit (sede da indústria)", mas acrescentou que milhões de empregos estavam em jogo. Enquanto isso, a situação financeira das montadoras americanas piora a cada dia, e a GM já contratou especialistas em concordatas para estudar essa possibilidade. A empresa anunciou também que vai cortar em 250 mil carros a sua produção do primeiro trimestre, o equivalente a 30% do total, e que cogita fechar temporariamente cerca de 20 fábricas nos EUA. Alguns analistas julgam que, com mais de US$ 60 bilhões em dívidas, a GM não tem condições de pedir concordata, e teria de partir direto para uma falência. A cotação dos bônus da GM chegou a cair a 10% do valor de face ontem, mas teve depois uma recuperação de 15%, quando a disposição do governo Bush de ajudar, mesmo sem o Congresso, ficou clara. Os defensores da indústria automobilística dizem que o colapso das três grandes - GM, Chrysler e Ford, cuja situação é menos grave - poderia destruir de dois a três milhões de empregos diretos e indiretos na economia americana. Há também cerca de 1 milhão de aposentados no setor. O fiasco das negociações no Senado colocou em rota de colisão os senadores republicanos, responsáveis pela rejeição do pacote, e os sindicatos de trabalhadores do setor. Um dos pontos de desacordo foi justamente a exigência dos republicanos de que o projeto incluísse a convergência, num horizonte de tempo predeterminado, dos salários das empresas americanas de Detroit para o nível praticado por suas concorrentes japonesas, como Honda e Toyota, nos próprios Estados Unidos. "Não podemos aceitar o esforço dos senadores republicanos de singularizar os trabalhadores e aposentados para tratamento diferenciado", declarou ontem Ron Gettelfinger, presidente do sindicato dos trabalhadores na indústria automobilística (o poderoso United Auto Workers). Para ele, as exigências feitas pelos republicanos em relação aos trabalhadores não se estende a outros grupos envolvidos nas negociações para salvar as montadoras, como os acionistas, detentores de bônus, fornecedores e revendas. Muito irritado com rejeição ao pacote por parte dos seus colegas republicanos, o senador democrata Chris Dodd, de Connecticut, observou que os custos trabalhistas representam apenas 10% dos custos das montadoras americanas, que têm uma parte muito maior representada pela dívida junto aos detentores de bônus destas empresas. "Estou zangado com o que ocorreu", disse Dodd.

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