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Desaceleração faz mercado apostar em ''viés de baixa''

Contratos no mercado futuro projetam queda de 0,25 ponto porcentual da Selic para o início de 2009

Foto do author Márcia De Chiara
Por Leandro Mode e Márcia De Chiara
Atualização:

A abrupta desaceleração da atividade econômica no Brasil fez o mercado financeiro por um "viés de baixa" na taxa básica de juros (Selic). Os contratos negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) revelam que os investidores projetam uma queda de 0,25 ponto porcentual da Selic na primeira reunião de 2009 do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), nos dias 20 e 21 de janeiro. Para o encontro desta semana, entre terça e quarta-feira, a expectativa quase unânime entre os analistas - também expressa nas taxas da BM&F - é de manutenção do juro nos atuais 13,75% ao ano. Muitos especialistas confessam não ter tanta convicção na aposta, mas, como a obrigação é chegar o mais próximo possível do resultado do Copom, acabam optando pelo mais provável. O presidente do BC, Henrique Meirelles, e outros diretores da instituição já sinalizaram publicamente que não devem mexer na taxa por causa das incertezas em relação ao cenário econômico interno e externo. Os especialistas que cravam os 13,75% - 58 entre 60, segundo pesquisa da Agência Estado - replicam a justificativa. Ainda assim, muitos avaliam que tecnicamente já haveria espaço para uma queda do juro. Entre os argumentos, citam a perda de fôlego da inflação sinalizada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro (ver acima), o recuo de 1,7% da produção industrial em outubro em relação a setembro e o número crescente de demissões e férias coletivas na indústria. Em resumo, já vêem a possibilidade de recessão técnica (dois trimestres seguidos de queda do Produto Interno Bruto) no País. "Esta reunião do Copom é a mais importante dos últimos tempos pela percepção de risco de recessão no País", define o sócio-diretor da RC Consultores, Fabio Silveira. "Com a Selic atual, nosso modelo (matemático) aponta para um crescimento de apenas 1,5% em 2009", diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. "A desaceleração pode ser muito mais profunda se o juro ficar onde está", completa o sócio da consultoria Rosenberg & Associados, Dirceu Bezerra Júnior. Os três estão entre os poucos economistas que não apenas defendem uma redução da Selic já nesta semana, como também apostam nela. DÓLAR, O FANTASMA Outros especialistas reconhecem as razões para cortar o juro, mas, mesmo assim, recomendam cautela por causa do cenário incerto, especialmente para o dólar. A moeda subiu quase 40% entre o dia 12 de setembro, quando houve o agravamento da crise, e sexta-feira. Em geral, calcula-se que cada 10% de elevação implica alta de um ponto porcentual na inflação. Se essa lógica se comprovar de novo agora, haveria impacto de quatro pontos porcentuais nos índices de preços só em decorrência do câmbio. "Sobrou para o Banco Central um grande fantasma: o câmbio", resume o professor da Universidade de São Paulo (USP), Simão Silber. "Há pressões do câmbio que ainda vão aparecer na inflação", diz a economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif.

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