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Desafio é atrair empresas estrangeiras de menor porte

Por Agencia Estado
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Como praticamente todas as grandes multinacionais dos países industrializados já estão instaladas no Brasil, o grande desafio do País para os próximos anos é atrair o investimento de pequenas e médias empresas estrangeiras. Mas para isso o País ainda precisa melhorar em vários aspectos a infra-estrutura, burocracia e legislação, considerados graves entraves para os aportes externos. Levantamento realizado pela Agência Estado com especialistas e empresários de Estados Unidos, Itália, Espanha, Grã-Bretanha, França, Japão e Alemanha revela que, num cenário onde é crescente a disputa por investimentos externos entre as nações emergentes, o Brasil pode perder pontos em razão de deficientes condições portuária e aeroportuária, impostos em cascata, dificuldades para desembaraço na alfândega e uma burocracia extremamente lenta. Obstáculos O cônsul comercial e diretor do centro comercial dos EUA em São Paulo, Brian Brisson, avalia que as grandes multinacionais têm plenas condições de superar esses entraves, mas para as companhias de médio e pequeno porte, que não possuem a mesma estrutura, esses obstáculos ajudam a desestimular a chegada de novos recursos. Os alemães reclamaram direta e publicamente a Brasília. Em recente visita ao País, na comitiva do chanceler Gerhard Schröder, 25 empresários criticaram, além dos altos tributos, a legislação brasileira de propriedade intelectual, a política de direitos de transferência e de proteção a investimentos alemães no Brasil. Imagem Para os especialistas em comércio e investimentos de países industrializados, a imagem do País, cuja classificação de risco ainda é alta, continua ligada a um passado de moratória. Poucos esforços têm sido feitos pelas autoridades brasileiras para mudar essa percepção. A crise energética teve papel decisivo para mostrar ao mundo que o País não está realmente preparado para crescer, segundo os analistas. Na lista dos entraves, também apareceram temores em relação à segurança de executivos e ao contágio da crise argentina, além de dificuldades para obtenção de vistos de trabalho para técnicos graduados, baixo nível de exportações e leis, de forma geral, complicadas. Forbes 500 Considerando apenas as espanholas, alemãs, japonesas, italianas e britânicas, são mais de 2,3 mil empresas estrangeiras no Brasil. Além disso, das 500 principais companhias dos EUA (Forbes 500), 80% operam no País. Ainda assim, os investimentos estrangeiros diretos (IED) vêm decaindo ano a ano, principalmente por conta do fim do processo de privatização. Em 2000, os aportes externos atingiram o pico de US$ 32,8 bilhões. Em 2001, foram US$ 22,6 bilhões. Para este ano, segundo estimativa do Banco Central baseada em projeções do mercado, serão US$ 16,8 bilhões. Mas entre 1983 e 1993, a média anual de IED girou em torno de apenas US$ 1,6 bilhão. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos das Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Antônio Corrêa de Lacerda, mesmo em queda o nível de investimentos estrangeiros no País está longe de ser desprezível. O problema é que o crescimento do passivo externo líquido ao longo dos últimos anos, que passou de menos de US$ 200 bilhões em 1994 para os cerca de US$ 400 bilhões anuais, implica um custo de remuneração (conta de juros, lucros e dividendos) que aprisiona o balanço de pagamentos. Por isso mesmo, o País precisa atrair mais recursos e aumentar as exportações. Desaceleração Os especialistas observam, no entanto, que não são apenas as condições do País que limitam o fluxo de IED. Na realidade, o Brasil conserva pontos extremamente atraentes a novas empresas, como um dos maiores mercados consumidores do mundo, mão-de-obra barata, uma agroindústria forte, oferta de commodities agrícolas e minerais, baixos custos de produção, inflação sob controle, regras pouco discriminatórias e um parque industrial consolidado, além de ser receptivo a parcerias. O fato é que a desaceleração econômica atinge praticamente todos os países industrializados, limitando os investimentos no exterior e acirrando a competição entre os emergentes. A Área de Livre Comércio das Américas (Alca), prevista para vigorar a partir de 2006, deve tornar o Brasil mais atraente para os investimentos estrangeiros. Segundo o cônsul Brian Brisson, a Alca vai ampliar o grau de confiança dos investidores dos países industrializados no Brasil, sobretudo entre médias e pequenas empresas, a exemplo do que aconteceu com o México quando entrou no Nafta. ?As regras se tornarão semelhantes para todas a região?, acredita. Os norte-americanos são historicamente os principais investidores no Brasil e trouxeram US$ 29 bilhões para o País, entre 1996 e 2001, segundo dados da Sobeet. Espanha A Espanha, entre os estrangeiros, foi o segundo que mais fez aquisições no processo de privatizações (15%), depois de Estados Unidos (16,5%), que é o maior investidor no Brasil. Em 1995, o estoque de investimentos espanhóis no País era de US$ 251 milhões, saltando para US$ 24 bilhões no período 1996-2001. A projeção é de a média anual se mantenha em torno de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões. Somente na última década, chegou a maioria absoluta das cerca de 200 empresas espanholas hoje instaladas no Brasil, predominado nas áreas de autopeças, energia e petróleo, segundo o adido comercial da Espanha no Brasil, Victor Andela Lopez. Os principais problemas do Brasil, na avaliação do conselheiro econômico e comercial da embaixada da Espanha no Brasil, Enrique Giménez de Córdoba, são visto de residência para executivos estrangeiros, leis complicadas, impostos em cascata, burocracia, altas taxas de juros, infra-estrutura deficiente, alfândega morosa. ?É claro que esses problemas não impedem o investimento, mas dificultam?, afirma o conselheiro. Para ele, há grande potencial de investimento nas áreas de autopeças, construção, engenharia, meio ambiente e hotelaria. O Brasil é o primeiro destino individual de investimentos espanhóis. Itália De forma geral, os italianos apostam no Brasil e os grandes conglomerados operam no País há anos. Só nos últimos 3 anos, depois da desvalorização do real, cerca de 300 pequenas e médias empresas italianas se instalaram no País, sobretudo na forma de parcerias e nos setores de máquinas e equipamentos, móveis e calçados. O investimento variou entre US$ 500 mil e US$ 4 milhões. A Itália é o nono principal investidor direto no Brasil. De 1996 a 2001, foram US$ 1,891 bilhão. Ainda assim, a participação caiu de 3% em 1995 para 1,5% até 2001. Nas privatizações, a Itália ficou com 3,1% do total investido desde 1991 Alemanha A Alemanha tem 1,2 mil empresas no Brasil, a maioria de grande porte. É o maior número de empresas alemãs fora do país. Há potencial de crescimento, mas eles consideram que há grandes entraves para a entrada de companhias de médio e pequeno porte, incluindo impostos em cascata, lei de propriedade intelectual, de direitos de transferência de preços e de proteção a investimentos. Até o início da década de 90, a Alemanha era o segundo maior investidor direto no Brasil, com 17% do estoque, atrás apenas dos Estados Unidos. Da metade da década de 90 até o fim do ano passado, a participação alemã caiu para 7% do estoque de investimentos diretos no Brasil, para US$ 17,7 bilhões. Reino Unido A participação britânica no total de IDE também caiu. Era de 4,2% em 1995 e recuou para 2% entre 1996 e 2001. É o sétimo maior investidor no Brasil, com cerca de 200 empresas instaladas no País. Segundo o embaixador Sir Peter Heap (1992-1995 em Brasília), presidente da Câmara Brasileira de Comércio na Grã-Bretanha e consultor da empresa de gás e petróleo Amerada Hess, os britânicos tiveram pouca participação no processo de privatizações porque as vendas foram concentradas em teles e energia elétrica, áreas de pouco interesse para o Reino Unido. França Brasil é o primeiro destino da França na América Latina e os recursos vem crescendo. Em 1995, eram US$ 2 bilhões (4,8%) em estoque. No fim do ano passado, já eram US$ 9,8 bilhões (7,4%). São cerca de 500 empresas instaladas no Brasil em praticamente todos os setores da economia. Desde 1999, um número crescente de pequenas e médias empresas se instalaram no País, ?sinal de um novo e promissor envolvimento da presença francesa no País e um indicativo de que, para nós, não há maiores obstáculos para investir no Brasil. A confiança aumentou muito com o plano real?, afirmou a conselheira para assuntos econômicos da Embaixada da França, Françoise Meley. Para ela, ao investidor importa ter o suporte de uma perspectiva de estabilidade econômica e de crescimento a médio e longo prazo. Os investidores franceses, que trouxeram quase US$ 2 bilhões para o Brasil só em 2001, "dão uma prova de sua confiança no País apesar de o risco-país ainda ser elevado para o Brasil".

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