A desconfiança do mercado em relação ao setor bancário norte-americano teve reflexos no Brasil. As suspeitas de envolvimento dos gigantes Citigroup e JP Morgan Chase nas fraudes contábeis da Enron assustaram investidores. O resultado foi a queda de ações das instituições financeiras. Os papéis do Itaú acumularam perda de 12,6% nos três primeiros dias da semana, enquanto Bradesco recuou 9,9%; Banco do Brasil, 8,11%; e Unibanco, 6,26%. O movimento de venda também atingiu os American Depositary Receipts (ADRs) dos bancos, negociados nos EUA. Analistas e consultores acreditam, no entanto, que os efeitos no País são, até o momento, apenas psicológicos. "As ações caíram pela insegurança do mercado como um todo, que aumentou após as denúncias", disse o presidente da consultoria Austin Asis, Erivelto Rodrigues. A avaliação dos consultores é que os sistemas financeiros nacional e americano têm características muito diferentes. O perfil de crédito é um dos fatores de distinção. "Os bancos no Brasil estão voltados para o financiamento da dívida pública, enquanto os americanos emprestam para companhias", disse o diretor da corretora Planner, Luiz Antonio Vaz das Neves. A preocupação nos EUA é que a crise das empresas se estenda aos bancos, provocando um risco sistêmico. As instituições cederam crédito para companhias que enfrentam problemas financeiros e devem, no mínimo, postergar o pagamento dos empréstimos. O Citigroup, por exemplo, era um dos principais credores da WorldCom, que nesta semana pediu concordata. O presidente da ABM Consulting, Alberto Borges Matias, disse que os empréstimos nos EUA foram lastreados nos lucros freaudados das empresas. Segundo ele, no Brasil raramente se lastreia o crédito em geração futura de caixa e dificilmente se trabalha com garantia em ações, já que o mercado é pequeno. "Os bancos nacionais usam garantias reais (como hipotecas), pessoais e de securitização, o que os deixa menos expostos." Para Matias, há possibilidade real de uma crise bancária americana devido ao lastro dos empréstimos. No entanto, ele acredita que o maior reflexo desses problemas no Brasil é a redução do fluxo de investimento estrangeiro ao País, o que complica as contas externas e provoca instabilidade no câmbio. As suspeitas de fraudes podem arranhar a imagem do Citi e do JP Morgan, mas não devem dar prejuízo. "O sistema financeiro mundial só deve ser abalado se houver um efeito dominó", afirmou Neves, da Planner.