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Além da economia

Desejos e obstáculos

Desempenho do PIB dá medida do desafio que Temer terá pela frente

Por Cida Damasco
Atualização:

Depois de uma longa agonia e de quase quatro meses afastada do cargo, Dilma Rousseff sai de cena e Michel Temer assume definitivamente a presidência da República com uma missão central: promover uma virada na economia brasileira, capaz de “recolocá-la nos trilhos”, como ele mesmo definiu em seu primeiro pronunciamento oficial, e evitar que descarrile, ao menor solavanco de origem interna ou externa. Para tudo isso, Temer terá à sua frente não mais que dois anos de governo até desembarcar nas eleições de 2018.

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Os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, por coincidência divulgados no dia da votação final do impeachment, dão a medida desse desafio. Pelo sexto trimestre consecutivo, o PIB afundou. Dessa vez, foi uma queda de 0,6% sobre os três meses anteriores e de 3,8% sobre o mesmo período de 2015, que levou a uma redução acumulada de 4,6% no primeiro semestre deste ano.

Também apontaram para baixo outros indicadores importantes da atividade econômica, como a produção da agropecuária e do setor de serviços. É verdade que surgem alguns sinais positivos, como a estabilização da indústria e uma reação dos investimentos, mas eles ainda são muito limitados e muito tímidos para que se possa contar com uma reversão do quadro a curto prazo.

Trata-se, portanto, de uma recessão para ninguém pôr defeito. Uma recessão que se materializa em lojas vazias, indústrias quebradas e principalmente em um contingente de quase 12 milhões de desempregados – cenário perfeito para o enredo que conduziu à troca de comando no Planalto.

Dilma Rousseff perdeu o mandato ontem, em julgamento no Senado, por 61 votos a 20, oficialmente pelos desvios de política fiscal, as chamadas “pedaladas”, mas, é inegável, também pelo “conjunto da obra” na economia.

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Temer sabe que terá de atuar já – e não apenas sobre as expectativas – para mostrar serviço nesse campo, com uma combinação, em doses milimetricamente controladas, de ajuste fiscal, reformas constitucionais, alguns estímulos ao crescimento e alguns instrumentos de proteção social, cruciais para não deixar a situação desandar, ainda mais em plena temporada de eleições. E para que seu governo seja mais do que um simples hiato até 2018.

Prioridades. Por isso mesmo, ele destacou em seu pronunciamento de ontem à noite, prioridade à geração de empregos, ampliação dos programas sociais e retomada da confiança, além de insistir na necessidade de aprovação da proposta que impõe teto aos gastos públicos e na negociação das reformas da Previdência e trabalhista.

À primeira vista, esse desejo é quase um consenso. Porém, muitos obstáculos deverão surgir no meio do caminho. E esse meio do caminho passa pelo Congresso. As primeiras ameaças apareceram ontem mesmo, no calor da batalha final do impeachment. A oposição, que tentava se recuperar do nocaute e ganhar musculatura para voltar à briga, ganhou uma palavra de ordem de Dilma, ainda que seja discutível a força da ex-presidente dentro do PT. No seu discurso mais incisivo durante toda a crise, Dilma prometeu “oposição determinada” ao novo governo.

Na própria base de sustentação de Temer, aprofundaram-se as fissuras, que já estavam visíveis desde o encaminhamento de medidas para corte de gastos, como a suspensão dos reajustes salariais dos funcionários públicos e dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Foi parte substancial do PMDB, liderada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, que garantiu a manutenção dos direitos políticos de Dilma, contrariando frontalmente as posições dos tucanos e os interesses palacianos.

Foi só a largada do governo Temer. Mas pode indicar o que virá por aí.

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