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Desempregado leva um ano para encontrar vaga

Por Agencia Estado
Atualização:

Os desempregados da Grande São Paulo já demoram em média um ano procurando um novo posto de trabalho. A constatação foi feita pela pesquisa mais recente do convênio Fundação Seade-Dieese, referente a dezembro, e levou sindicalistas a reivindicar a ampliação do número de parcelas do seguro-desemprego, hoje de até cinco meses. Força Sindical, Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) e Social Democracia Sindical (SDS) pediram um estudo ao Dieese que servirá de base para a proposta que as centrais pretendem apresentar ao ministro do Trabalho, Francisco Dornelles, depois do carnaval. "Este é um ano eleitoral e o diálogo tende a ser favorecido", diz o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. "Além disso, há um número grande de desempregados enfrentando dificuldades há muito tempo." Baixo crescimento econômico Segundo ele, o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que financia o seguro-desemprego, teria recursos suficientes para ampliar o benefício. A pesquisa Seade-Dieese mostra que o tempo médio de procura por trabalho cresceu de 48 semanas, em dezembro de 2000, para 52 semanas (12 meses), no final do ano passado. Em relação a dezembro de 1994, primeiro ano do Plano Real, esse período expandiu-se em 27 semanas, o equivalente a mais de seis meses. Para o diretor-técnico do Dieese, Sérgio Mendonça, o chamado "desemprego de longa duração" está relacionado principalmente com o baixo crescimento econômico registrado pelo País nos últimos dez anos. Segundo ele, o desemprego estrutural pode ser avaliado também pelo número de desempregados com mais de 12 meses de procura por trabalho. No ano passado, essa parcela representava 22,3% do total de desempregados da Grande São Paulo, enquanto em 1989 era de apenas 2,9%. 1,673 milhão de desempregados Em dezembro, de acordo com a pesquisa Seade-Dieese, havia 1,673 milhão de desempregados na Grande São Paulo. O metalúrgico Ibiapino Cornélio de Farias Filho, de 40 anos, está desempregado desde meados de 1997, quando foi demitido de uma fábrica de autopeças em São Paulo, onde trabalhava como auxiliar de produção. Nesse período, ele tentou de tudo para voltar ao mercado de trabalho, sem êxito. Na quinta-feira, ele esteve no Centro de Solidariedade ao Trabalhador, da Força Sindical, para atualizar seu cadastro e também participar de uma entrevista de seleção de uma empresa que estava recrutando dez pessoas para vagas de porteiro. Embora tenha feito recentemente um curso de requalificação profissional para o cargo, Ibiapino foi dispensado, já que não tinha experiência de pelo menos um ano na função, exigida pela empresa. "Sem emprego, vou ter de continuar fazendo bico como auxiliar de pedreiro para me sustentar", diz Ibiapino, que atualmente consegue ganhar até R$ 20 por dia. Ele ressalta, porém, que esses trabalhos são eventuais. Maior que a média do Brasil O professor de Relações no Trabalho da Faculdade de Economia e Administração da USP, José Pastore, observa que o tempo médio de procura por emprego na Grande São Paulo é bem maior do que a média do Brasil. No conjunto das seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, esse tempo foi de 20,8 semanas em 2001. "Nas regiões onde essa média é menor, como no Rio de Janeiro, há uma maior participação da infomalidade, ao contrário do que ocorre em São Paulo", lembra Pastore. Ele explica que o mercado formal de trabalho cresce de forma muito lenta. Além disso, acrescenta que a Grande São Paulo está mudando de vocação, de industrial para comércio e serviços. "Muita gente que perde o emprego na indústria é inadequado para exercer função com o mesmo ganho no comércio ou serviços." Situação deve piorar Para o secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo, Márcio Pochmann, a reativação da economia tem sido insuficiente para fazer frente ao desemprego de longa duração. "Será preciso crescimento sustentado de 5,5% por cinco ou seis anos para dar conta do estoque de desempregados e ainda absorver os milhares que ingressam no mercado". Para Sérgio Mendonça, do Dieese, o quadro deve piorar neste ano. Segundo ele, na melhor das hipóteses o País vai crescer 3%, o que deverá ser insuficiente para reduzir o desemprego.

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