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Desemprego cai para 14,1% no trimestre encerrado em novembro

No trimestre encerrado em outubro taxa foi de 14,3%; segundo o IBGE, País tem 14 milhões de desempregados

Foto do author Thaís Barcellos
Por Vinicius Neder e Thaís Barcellos (Broadcast)
Atualização:

RIO e SÃO PAULO - A criação de vagas de trabalho no fim de 2020, passado o pior momento da crise causada pela covid-19, manteve a taxa de desemprego em 14,1% no trimestre móvel encerrado em novembro. No período foram abertas 3,912 milhões de vagas, conforme os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada nesta quinta-feira, 28, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A taxa ficou ligeiramente abaixo dos 14,3% de outubro, mas se manteve elevada. É o maior nível para trimestres encerrados em novembro desde o início da série histórica da Pnad Contínua, em 2012. Em termos absolutos, são 14,023 milhões de brasileiros na fila do desemprego, perto do recorde, de 14,105 milhões, registrado no início de 2017, fundo do poço da recessão de 2014 a 2016.

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Na passagem do trimestre terminado em agosto para o encerrado em novembro, são 229 mil desempregados a mais e economistas estimam que esse contingente seguirá crescendo, num ritmo até mais forte, durante o ano. Parte dessa alta já ocorreu ao longo dos meses de pandemia. No auge do isolamento social, no segundo trimestre, o total de desocupados estava em 12,791 milhões.

Esse crescimento é paulatino porque grande parte dos trabalhadores que perderam seus empregos na crise, num primeiro momento, foi para fora da força de trabalho. Por causa das medidas de isolamento social, muitos que perderam suas ocupações, tanto formais quanto informais, ficaram em casa e evitaram procurar novas vagas.

Assim, não são considerados desempregados - pela metodologia internacional seguida pelo IBGE, só é considerada desocupada a pessoa que tomou alguma atitude para buscar ativamente um trabalho. À medida que as atividades reabrem, esses trabalhadores voltam a procurar emprego e entram para as estatísticas do desemprego.

Segundo o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, o ritmo do crescimento da busca por emprego vai aumentar. Com o fim do auxílio emergencial, pessoas que ficarão sem o recurso deverão voltar a procurar emprego, pressionando a taxa de desocupação, que deverá atingir o pico em torno de 15%. Depois, a taxa deverá cair lentamente, com a recuperação da atividade no segundo semestre deste ano.

“A recuperação está lenta, vai voltar a cair por causa da pandemia, não é bem em 'V', tem percalços. O governo deveria reforçar essa mensagem da importância da flexibilização do mercado de trabalho, em vez de repetir que a recuperação está em 'V', pois não está”, afirmou Vale.

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No trimestre encerrado em novembro, o País tinha 14 milhões de desempregados, segundo o IBGE. Foto: Agência Brasil

Ao mesmo tempo, a volta da criação de vagas, após a destruição de 8,876 milhões de postos de trabalho, entre formais e informais, na passagem do primeiro para o segundo trimestre, ajuda a moderar a alta do desemprego.

A geração de 3,912 milhões de postos de trabalho em um trimestre se deu tanto no setor formal quanto no informal, mas está longe de recuperar tudo o que foi perdido na crise. Conforme a evolução do total da população ocupada, o trimestre encerrado em novembro ainda tinha 8,838 milhões de vagas a menos do que um ano antes.

Mesmo assim, Adriana Beringuy, gerente da Pnad Contínua, viu uma “inflexão” nos dados apresentados nesta quinta. “Os resultados foram um ponto de inflexão, por causa do aumento da ocupação e por causa de onde esse aumento ocorreu”, afirmou, ressaltando que o aumento da ocupação se deu de forma disseminada entre as atividades econômicas.

Segundo Adriana, a recuperação se deve a dois movimentos. De um lado, houve flexibilização nas regras de restrição ao contato social. De outro, mesmo com a pandemia, “era de se esperar” alguma reação no emprego por causa da sazonalidade do fim do ano, que impulsiona, tradicionalmente, alguns setores, como o comércio.

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O setor foi o destaque na geração de vagas, com 854 mil postos a mais em um trimestre. O setor de alojamento e alimentação, um dos mais atingidos pela pandemia, abriu 400 mil vagas em um trimestre. Construção civil (457 mil vagas a mais) e indústria (465 mil postos a mais) também viram aumentos na ocupação na passagem de um trimestre móvel para o outro.

No geral, o setor informal, o mais atingido pela crise causada pela covid-19, puxou a geração de vagas em um trimestre, com 2,445 milhões de vagas a mais. Segundo Adriana, do IBGE, 66% do total de 3,912 milhões de vagas criadas são em ocupações tidas como informais - no total, eram 33,488 milhões de brasileiros em ocupações tidas como informais.

Adriana viu aí uma melhoria “qualitativa” no crescimento da ocupação, pois, no trimestre móvel encerrado em outubro, 88% do total de vagas criadas, na comparação com o trimestre móvel imediatamente anterior, foram em ocupações tidas como informais. “Embora a informalidade seja preponderante, essa reação na carteira de trabalho passa a ajudar também no crescimento da ocupação total”, afirmou Adriana.

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No lado formal, foram 895 mil postos com carteira assinada no setor privado a mais em um trimestre. O número ainda está longe de recuperar as perdas da pandemia. Na comparação com a situação do trimestre móvel até novembro de 2019, há uma queda de 10,3%, sinalizando para o fechamento de 3,458 milhões de vagas formais em um ano.

Apesar da geração de vagas, o economista Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), destacou que houve uma desaceleração no ritmo do crescimento. Quando se calcula os dados da Pnad Contínua de forma “mensalizada” - conta que estima os dados em base mensal, em vez da base trimestral -, o aumento da ocupação em novembro foi menor do que nos meses anteriores.

Além disso, o quadro é preocupante porque falta trabalho para 32,162 milhões de pessoas, que estavam na população subutilizada (que inclui desocupados, subocupados por insuficiência de horas e a força de trabalho potencial). Esse contingente tem 5,586 milhões de pessoas a mais na comparação com um ano antes. Com isso, a taxa composta de subutilização da força de trabalho, espécie de taxa de desemprego ampliada, ficou em 29,0%, abaixo dos 30,6% do trimestre móvel imediatamente anterior.

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