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Desemprego chega a 14,4% e País tem o recorde de 14,4 milhões de desempregados

Segundo o IBGE, no trimestre até fevereiro, com pouca abertura de vagas com carteira assinada, o trabalho informal voltou a ganhar força

Por Daniela Amorim (Broadcast)
Atualização:

RIO - O País alcançou um recorde de 14,423 milhões de pessoas desempregadas. A taxa de desemprego subiu de 14,2% no trimestre encerrado em janeiro para 14,4% no trimestre terminado em fevereiro, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados nesta sexta-feira, 30, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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“A gente começa a observar a volta da desocupação, o que é um movimento relativamente esperado. A gente tem recuo da desocupação nos meses finais de cada ano, e esse avanço pode ocorrer na virada do ano, pode ocorrer em janeiro, pode ocorrer também em fevereiro”, explicou Adriana Beringuy, analista da pesquisa do IBGE.

No entanto, a taxa de desemprego estaria em 19,0% na leitura de fevereiro de 2021 caso o número de pessoas na força de trabalho - quem está procurando emprego ou trabalhando - fosse o mesmo de fevereiro de 2020, segundo cálculos da XP Investimentos. O resultado ainda está mais baixo porque milhões de brasileiros preferiram permanecer na inatividade em meio à pandemia de covid-19.

O total de desempregados cresceu 2,9% em relação a novembro, 400 mil pessoas a mais em busca de uma vaga em apenas um trimestre. Em relação a fevereiro de 2020, o número de desempregados aumentou 16,9%: há 2,080 milhões de pessoas a mais procurando trabalho.

A população trabalhando somou 85,899 milhões de pessoas em fevereiro, 321 mil trabalhadores a mais em um trimestre. Em relação a um ano antes, 7,811 milhões de pessoas perderam seus empregos.

O saldo de ocupados se manteve positivo em fevereiro ante novembro graças à expansão da informalidade, apontou Adriana Beringuy. Em apenas um trimestre, mais 526 mil pessoas passaram a atuar como trabalhadores informais.

No trimestre até fevereiro, mais 400 mil pessoas passaram a procurar trabalho no País. Foto: Carl de Souza/AFP

"Além da fragilidade no mercado de trabalho, a qualidade da ocupação também é preocupante, tende a ser mais desigual, com maior dificuldade de recuperação do emprego formal, que tende a receber menores salários do que o informal. Englobando tudo isso, entendemos como a situação é complicada", avaliou o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, lembrando que esse grupo de trabalhadores está menos amparado no momento, visto que o auxílio emergencial só foi renovado este mês, com um valor seis vezes menor do que o do ano passado.

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Além da questão sazonal de dispensa de trabalhadores temporários contratados no fim do ano anterior, o mercado de trabalho também mostra impacto do recrudescimento da pandemia de covid-19. Embora as medidas restritivas tenham sido mais marcantes em março, Adriana Beringuy lembra que em fevereiro já havia sinalização de restrições em função do combate à covid, com o cancelamento de eventos como o carnaval. Um terceiro elemento que contribui para a maior busca por trabalho é a redução do auxílio emergencial, que diminui a renda das famílias.

“Se você pensar que o valor que está sendo conseguido é bem menor que o anterior, é natural esperar um crescimento de mais pessoas procurando trabalho. O que vimos em 2020 é que muitas vezes a menor procura de trabalho estava ligada às medidas de restrição para o combate à pandemia”, disse Adriana. “Mas também o movimento da desocupação vai estar ligado à dinâmica da pandemia em si e da economia. A dinâmica da pandemia mexe com a dinâmica da economia, que por sua vez mexe com as perspectivas de trabalho e renda.”

A população inativa somou 76,431 milhões de pessoas no trimestre encerrado em fevereiro, 18 mil a mais que no trimestre anterior. Em relação ao mesmo período de 2020, a população inativa aumentou em 10,494 milhões de pessoas. Entre os inativos, houve um recorde de 5,952 milhões de pessoas em situação de desalento em fevereiro, 229 mil a mais em apenas um trimestre, que inclui os que não procuram uma vaga por acreditar que não encontrariam uma oportunidade.

“Mais importante que falar que é o maior contingente de desalentados é dizer que é uma população que não para de crescer”, concluiu Adriana.

O economista Rodolfo Margato, da XP Investimentos, acredita que a Pnad só exibirá sinais de melhoria consistente a partir do terceiro trimestre deste ano, ainda que em ritmo moderado. A população ocupada total deve retornar aos níveis pré-pandemia apenas no fim de 2022.

“As categorias de emprego informal devem registrar perdas adicionais nas próximas divulgações mensais, sobretudo em março e em abril, como reflexo das medidas de distanciamento social”, estimou Margato. / COLABORARAM GUILHERME BIANCHINI E THAÍS BARCELLOS