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Desemprego cresce em ritmo mais veloz no interior do que nas capitais

De junho de 2014 a junho deste ano, a taxa de desocupação no interior cresceu 78,4%, enquanto o aumento nas capitais foi de 61,5% e, nas regiões metropolitanas, de 19,4%, segundo levantamento da Fipe feito com base nos dados da Pnad Contínua

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Por Anna Carolina Papp
Atualização:

Um corte de 700 postos de trabalho pode não afetar de forma significativa a taxa de desemprego numa megalópole como São Paulo, mas foi um duro golpe para os moradores da pequena Batayporã, em Mato Grosso do Sul, a 300 quilômetros da capital Campo Grande. Com apenas 11 mil habitantes, o município assistiu no ano passado ao fechamento de um frigorífico, o maior gerador de empregos da região. Foi uma bola de neve: a cidade estagnou e o comércio local se enfraqueceu. 

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A deterioração do mercado de trabalho, efeito mais perverso da crise econômica, vem castigando cidades interioranas, como Batayporã, de forma mais intensa do que nos grandes centros. De junho de 2014 a junho deste ano, o desemprego no interior cresceu 78,4% – acima do ritmo das capitais, onde o nível de desocupação avançou 61,5%. Já nos municípios que integram as regiões metropolitanas, a alta foi menos expressiva, de 19,4%.

O levantamento, feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, aponta que o interior já conta com um contingente de quase 6 milhões de desempregados, que representam pouco mais de 10% de seus habitantes. Já nas capitais, 7,44% da população está desocupada. Nas regiões metropolitanas, a taxa é de 15,04%.

O avanço mais veloz do desemprego no interior se deve, sobretudo, ao grande impacto do fechamento de postos de trabalho em cidades menores. “Em municípios com poucos milhares de habitantes, o fechamento de um estaleiro, frigorífico ou fábrica impacta a cidade de maneira muito mais intensa do que nas capitais, enfraquecendo o movimento local do comércio e dos serviços”, diz Alison Oliveira, pesquisador da Fipe.

Com a desativação do frigorífico da Minerva em Batayporã, em julho do ano passado, toda a economia da cidade foi abalada. “Vi oito lojas e minimercados fecharem as portas, pois muita gente vai para cidades vizinhas, como Nova Andradina, em busca de emprego ou para comprar mais barato em grandes redes”, conta Luiz Pereira, dono de uma farmácia na cidade. 

A alta significativa do desemprego nesses municípios menores também está relacionada à representatividade da indústria e da construção civil na economia local. Nas capitais, os postos de trabalho desses setores, que puxaram o desemprego no País, representam 13% do mercado de trabalho. No interior, esses setores representam quase 24% dos empregos.

Essa fatia maior é resultado da descentralização industrial que ganhou força no País nos anos 80 e 90, quando grandes fábricas, antes restritas às regiões metropolitanas, começaram a migrar para municípios mais afastados. “Grande parte do crescimento do emprego nos últimos anos se deu no interior, então acredito ser natural que agora, quando está havendo uma reversão desse ciclo, que o impacto mais forte seja nessas cidades”, avalia Bruno Ottoni, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV).

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Ele lembra que os processos de interiorização da renda, como o Bolsa Família, estiveram por trás da redução da desigualdade nessas regiões. “Isso gerou crescimento e também emprego em geral”, observa. “Agora é esperar a retomada da indústria. Ela, que puxou o desemprego, deverá puxar também a recuperação.”

Retomada lenta. Mesmo com o esboço de uma reação em alguns indicadores socioeconômicos, o mercado de trabalho, que hoje soma mais de 12 milhões de desempregados, ainda deve demorar a se recuperar. O cenário de pleno emprego, que marcou o início da década, não deve se repetir tão cedo nos próximos anos, segundo especialistas.

Nas projeções do Ibre-FGV, a taxa de desocupação, hoje em 11,8% pela Pnad Contínua, deve chegar a 12,4% no primeiro trimestre do ano que vem, para só então começar a cair. “Mesmo assim, essa queda será num ritmo muito lento”, diz Ottoni.

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