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Desemprego em um nível historicamente baixo

Por Análise: José Francisco de Lima Gonçalves
Atualização:

A taxa de desocupação em setembro atingiu o nível de 6,2%, o mais baixo da série iniciada em 2002. Descontados os efeitos sazonais, a taxa também é a menor da série (6,4%). Ademais, nas duas séries (com e sem ajuste), a taxa vem caindo monotonamente desde junho. E, desde então, a taxa cai porque as pessoas que entram no mercado em busca de ocupação são em número inferior ao das que conseguem ocupação. Esse excesso de pessoas que consegue ocupação em relação ao total de pessoas que busca ocupação significa, no curto prazo (em que os aumentos de produtividade são desprezíveis), que a remuneração das pessoas ocupadas tende a se elevar, como de fato está se elevando em termos reais.A renda real habitualmente recebida aumentou quase 7% esse ano, sendo 4% nos últimos quatro meses.O rendimento real está aumentando nos últimos três meses, ainda que a taxas decrescentes. Esse aumento de renda está concentrado nos setores de serviços da economia, com a indústria tendo pago aumentos bem menores.A explicação da diferença é que a indústria recompôs seu nível de emprego rapidamente depois da crise e sofre com a concorrência das importações e com o efeito do câmbio sobre suas exportações. Já as atividades de serviços (cerca de 50% da ocupação) são preponderantemente imunes à concorrência externa e sofrem apenas indiretamente na medida em que a indústria cresce menos e demande menos serviços.Cerca de 50% da população ocupada está desfrutando de renda real crescente, o que, junto à expansão do crédito, estimula uma demanda que vem sendo suprida pela produção doméstica e pelas importações. Somada ao atual choque de preços agrícolas, tal pressão de salários, ainda que heterogênea, pode chegar aos preços. Os juros altos pressionam o câmbio, mas talvez sejam baixos para conter a inflação. Dois resultados de que ninguém gosta. Alguém gosta de um corte de gastos públicos que reduza a demanda e as taxas de juros, viabilizando câmbio e inflação palatáveis?É DOUTOR EM ECONOMIA PELA UNICAMP, PROFESSOR DO DEPTO DE ECONOMIA DA FEA-USP E ECONOMISTA CHEFE DO BANCO FATOR

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