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Renda do trabalhador cai quase 10% em um ano e desemprego fica em 11,2% em janeiro

Renda média do trabalho caiu 9,7% em um ano e chegou a R$ 2.489 ao mês, mostram dados da Pnad Contínua

Por Daniela Amorim (Broadcast)
Atualização:

RIO - O mercado de trabalho manteve no trimestre encerrado em janeiro a trajetória de melhora, com sinais positivos, embora ainda não em magnitude suficiente que permita uma reação do rendimento médio recebido pelos ocupados. A taxa de desemprego desceu de 12,1% no trimestre encerrado em outubro de 2021 para 11,2% no trimestre terminado em janeiro de 2022, a mais baixa para este período do ano desde 2016.

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada nesta sexta-feira, 18, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, o País ainda tem 12 milhões de desempregados, e a renda média de quem conseguiu uma vaga está 9,7% menor do que há um ano.

Pessoas em busca de emprego; IBGE divulgouos resultados da Pnad referentes ao trimestre encerrado em janeiro Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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“Estamos melhorando, mas ainda é uma condição bastante ruim. São 12 milhões de desempregados, 28 milhões de subutilizados, fora a população sem carteira assinada”, ponderou o economista-chefe do Banco MUFG Brasil, Carlos Pedroso. “E o ponto mais negativo é a renda, claramente afetada pela inflação elevada dos últimos meses. Devemos observar esse padrão nas próximas leituras, pois esperamos que a inflação só comece a ceder no segundo trimestre.”

A renda média nominal, ou seja, sem descontar a inflação do período, cresceu 1,7% no trimestre até janeiro ante o trimestre até outubro de 2021, a primeira alta desde o trimestre terminado em maio de 2021. Ao mesmo tempo, a renda real, que é ajustada subtraindo a inflação acumulada, caiu 1,1% no período. Essa diferença se dá justamente pelos aumentos nos preços da economia, que corroeram o poder de compra dos salários dos trabalhadores.

A inflação e a atividade fraca têm cobrado um preço alto sobre a capacidade de consumo do brasileiro, ressaltou André Perfeito, economista-chefe da corretora de valores Necton. Para ele, a dificuldade do avanço do consumo das famílias pode apontar um Produto Interno Bruto (PIB) fraco ao longo deste ano. A Necton projeta, por ora, uma alta de 0,3% no PIB brasileiro em 2022.

“A inflação está cobrando um preço alto: apesar de recuperação nos dados de emprego, isso não se transforma em renda, o que dificulta que a máquina econômica ganhe tração”, avaliou Perfeito, em relatório.

Menor massa de salários

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Embora haja mais pessoas trabalhando, a massa de salários em circulação na economia encolheu R$ 2,022 bilhões no período de um ano, para R$ 232,594 bilhões. O rendimento médio dos trabalhadores ocupados ficou em R$ 2.489, o menor patamar da série histórica de trimestres móveis comparáveis, iniciada em 2012. No trimestre encerrado em dezembro de 2021 (série não comparável, por repetir cerca de dois terços da amostra), esse valor era um pouco menor, de R$ 2.465.

“Se de fato o poder de compra das famílias diminui, para se manter o patamar de renda domiciliar, é necessário que tenha mais mão de obra em ação, seja a mesma pessoa trabalhando mais horas, ou mais gente trabalhando”, disse Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.

A população ocupada totalizava 95,428 milhões de pessoas no trimestre até janeiro de 2022. Em um ano, mais 8,214 milhões de pessoas encontraram uma ocupação. Em um trimestre, foram abertas 1,470 milhão de vagas, sendo apenas 313 mil delas na informalidade.

"Nesse trimestre especificamente, quem está impulsionando a população ocupada é a parte formal da ocupação. A ocupação formal respondeu por 79% do crescimento da população ocupada no trimestre até janeiro", frisou Adriana Beringuy.

Apesar da influência sazonal de dispensa de trabalhadores temporários, foram abertas 681 mil vagas com carteira assinada no setor privado em apenas um trimestre.

"A flexibilização do funcionamento das atividades econômicas e o avanço da vacinação estão permitindo que o funcionamento das atividades seja mais efetivo. Toda a composição desses efeitos contribuiu para que, ao longo de 2021, a taxa de desocupação tivesse essa redução bastante significativa", justificou Beringuy.

A pesquisadora do IBGE lembra que a população ocupada está maior agora do que no pré-pandemia.

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"A massa de renda é sustentada porque tem mais gente trabalhando", justificou Beringuy. "A variável que ainda não consegue ter uma recuperação é a questão do rendimento", lamentou.

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No trimestre terminado em dezembro de 2021, a taxa de desemprego no País tinha sido ligeiramente mais baixa, de 11,1%.

"Estou vindo de um novembro e dezembro muito fortes em termos de recuperação (da ocupação). Então dois terços desse trimestre até janeiro, de forma geral, têm os resultados do último bimestre de 2021. A interferência da sazonalidade faz com que os indicadores percam força em janeiro", explicou Beringuy.

Segundo ela, o recrudescimento da pandemia pelo aumento de contaminações pela variante Ômicron do coronavírus em janeiro pode explicar um pouco da perda de fôlego, vista especialmente na informalidade, mas há a questão sazonal de dispensa de vagas temporárias.

“A questão da Ômicron vem forte, mas foi muito rápida. De fato, o pico dela foi em janeiro”, confirmou a pesquisadora. “Creio que pode ter tido algum efeito sim, mas não a ponto de a gente ver tão claramente nas atividades”, disse.

A demanda reprimida da população por serviços também pode manter por mais tempo a ocupação no setor, contrariando a tendência de dispensas de início de ano, avaliou a pesquisadora do IBGE.

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(Colaborou Guilherme Bianchini)